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Por que Marcão e Thiago romperam com filho de Chorão e entraram na Justiça?

Marcão Britto e Thiago Castanho anunciaram turnê própria para celebrar carreira da banda Charlie Brown Jr. - Reprodução/Instagram
Marcão Britto e Thiago Castanho anunciaram turnê própria para celebrar carreira da banda Charlie Brown Jr. Imagem: Reprodução/Instagram

De Splash, em São Paulo

06/11/2021 04h00

O rompimento de Marcão e Thiago Castanho com o filho de Chorão ganhou um novo capítulo ontem, quando a defesa de Alexandre Abrão revelou que os guitarristas entraram com uma ação judicial contra o herdeiro do vocalista do Charlie Brown Jr.

A briga veio a público em 25 de outubro, com o anúncio de que os guitarristas e integrantes originais da banda não faziam mais parte do projeto de celebração aos 30 anos do Charlie Brown Jr. com o envolvimento do filho de Chorão e fariam uma turnê paralela, ganhando o apoio de outros músicos que participariam da anterior.

Marcão e Thiago consideraram "irrelevante" tornar pública a questão jurídica, que envolve os bastidores de negociações da turnê e uma disputa por nomes e marcas relacionadas à banda. Afinal, as motivações deles para o rompimento iriam muito além disso.

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Marcão, guitarrista do Charlie Brown Jr.
Imagem: Reprodução/Instagram

Em 2019, Marcão chegou a participar de uma turnê em celebração ao Charlie Brown Jr. promovida por Alexandre Abrão, que também tinha Heitor Gomes no baixo, Pinguim Ruas na bateria e Panda, vocalista da La Raza, alternando os vocais com outros cantores convidados. Ele diz que, de lá para cá, as coisas só pioraram.

"Fiz todos os esforços para manter a parceria com o Alexandre, mas se tornou insustentável a partir da sua atitude centralizadora com assuntos relativos a obra do Charlie Brown Jr, a qual eu faço parte", explica o guitarrista.

Ele ainda fala sobre o que rolou com o projeto anterior. "Minha condição inicial para participar do projeto em 2019 era de que tudo fosse decidido em conjunto e ocorresse de forma transparente. Para se trabalhar em grupo é preciso ter sintonia, confiança e respeito. Sinto que isso não foi desenvolvido e nem assimilado pelo Alexandre, que sempre tentou tomar a frente dos negócios, não respeitando nossa opinião e experiência", lamenta Marcão.

O guitarrista afirma que o acordo que haviam chegado para continuar com as turnês não foi cumprido pelo herdeiro de Chorão. "Tínhamos um acordo e uma sociedade onde as decisões deveriam ser tomadas com a anuência de todos, o que não vinha acontecendo."

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Thiago Castanho entre Chorão e Champignon na época do Charlie Brown Jr.
Imagem: Reprodução/Instagram

Do lado de Thiago a Castanho, a história com o herdeiro de Chorão é um pouco diferente. Ele já havia rompido publicamente com Alexandre Abrão antes mesmo do primeiro show da turnê de 2019, quanto o filho de Chorão alegou que ele não participaria dos shows por motivos de saúde, o que o guitarrista desmentiu.

"A briga se deu em 2019, quando o Alexandre, sem respeito nenhum a mim, grava um vídeo tomando banho falando que eu não participaria da turnê por estar despreparado e doente! Tratava-se de mais uma mentira dele. Gravei um vídeo para os fãs, publicado nas minhas redes sociais, para mostrar que estava tudo bem. Mais uma vez ele perde credibilidade!", relembra Castanho sobre o episódio há dois anos.

Em fevereiro, um dia antes de anunciar a nova turnê, Alexandre fez um post no Instagram contando que havia se reconciliado com Thiago Castanho e que ele participaria da celebração dos 30 anos da banda e aos 50 anos de Chorão em 2022. Mas a paz não durou muito. O guitarrista dá sua versão sobre a reconciliação e o novo rompimento.

"Ele entrou em contato comigo para produzir musicalmente o DVD 'Chegou Quem Faltava'. Por ser tratar do último registro em vídeo da história do Charlie Brown Jr., e eu saber da importância desse trabalho não apenas para mim, mas para todos, resolvi passar por cima e aceitei. Eu acreditei que seria uma oportunidade do Alexandre mostrar que tinha amadurecido e entendido que ele não poderia se colocar a frente de tudo e todos e ter atitudes inconsequentes, como na turnê anterior."

Passado o lançamento do DVD, outros projetos surgiram e Thiago Castanho notou que pouca coisa havia mudado. "Junto a esse material [o DVD] vieram as outras propostas de trabalharmos em parceria em mais projetos, só que mais uma vez o Alexandre não honra o que combinou, colocando tudo a perder novamente."

Briga judicial

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Integrantes do novo e antigo Charlie Brown Jr. com Alexandre Abrão, filho de Chorão, em 2019
Imagem: Reprodução/Instagram

Segundo Marcos Bitelli, advogado que representa Alexandre Abrão, o rompimento aconteceu primeiro com Branco, empresário dono da Tacatinta que, segundo ele, teria sugerido ficar com os direitos que pertencem ao filho de Chorão e tocar todas as questões da turnê pela sua empresa. A defesa ainda afirma que o empresário teria influenciado o rompimento posterior de Thiago Castanho e Marco Brito.

A advogada Deborah Sztajnberg, que representa os ex-guitarristas do Charlie Brown Jr., dá outra versão. Ela diz que Alexandre só toparia fazer a turnê se tudo fosse negociado pela empresa dele, a Green Goes, que ele herdou de Chorão.

"Essa empresa está com o CNPJ comprometido, tem dívida fiscal, dívida trabalhista. Você não pode sair com uma turnê se você não tem nem nota fiscal regular para dar", explica Sztainberg. Ela então, fez em parceria com o jurídico da Tacatinta uma nova proposta ao herdeiro de Chorão.

"Bolamos uma proposta de fazer uma join-venture. Montar uma sociedade os três com partes iguais e sair com um CNPJ novo e limpo." Alexandre não topou a parceria com Thiago Castanho e Marco Brito onde os três teriam partes nos lucros.

"Um empresário como o Branco jamais teria interesse em misturar as coisas dele que já dão certo há 30 anos, o CNPJ dele que é limpo, com uma história dessas", reafirma a advogada. "Essas discussões não podem impedir a circulação da obra [do Charlie Brown Jr.]. Eu quero que a obra circule, ela não pode ficar parada. Senão daqui há 50 anos ninguém vai saber quem foram eles."

Ainda segundo Deborah Sztajnberg, os músicos tentaram negociar por meses, até entrarem com uma liminar e, posteriormente, uma ação em setembro deste ano.

"Entramos primeiro com a liminar porque o Alexandre começou a ligar, mandar e-mail, mandar notificações e ameaças para os contratantes. E aí os contratantes começaram a ligar para eles [Marcão e Thiago] para entender o que estava acontecendo.

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Charlie Brown é o protagonista do desenho animado Peanuts, criação de Charles M. Schulz
Imagem: Charles M. Schulz

A descoberta sobre a questão dos direitos de usar o nome da banda aconteceu enquanto a advogada e os músicos organizavam os documentos para entrar com a ação.

"Achamos um contrato que o filho do Chorão diz que ele é dono da marca Charlie Brown Jr. O que é estranho porque é um nome que pertence à empresa americana Peanuts e jamais foi dele. Ele tentou sete vezes registrar a marca e sete vezes a marca foi indeferida pelo INPI."

"Ele afirma em contrato que ele é dono de uma marca que ele não é. Aí realmente se passa por um novo capítulo", explica a advogada sobre a ação.

Do lado de Alexandre, o advogado nega que esse contrato tenha esse teor. "O contrato que eles querem anular não discute o nome da banda. Ele cuidou de novos nomes que iam ser criados e só tem um comentário sobre o dever de se abster de usar os nomes antigos e o Alexandre tem o dever de se abster de usar os nomes que seriam criados. Cada um se absteve de uma coisa. O contrato foi desenhado para protegê-los."

Marcos Bitelli ainda afirma que o uso do nome Charlie Brown Jr. por Chorão já era algo acordado entre o vocalista e os músicos há décadas. "Não é uma discussão de marca registrada, INPI, nome de banda. É uma discussão que foi combinado entre o Alexandre e eles, e o que foi combinado entre o Chorão e eles no passado. Todo mundo sabe que os contratos que eles tinham já cuidavam desse assunto."

Segundo o advogado de Alexandre Abrão, a banda sempre foi do Chorão e, consequentemente, seu herdeiro tem os direitos atualmente. "Todos eles eram executantes, contratados profissionalmente para tocar e receber o cachê."