Quando Kevin Feige anunciou a grade de lançamentos da Fase 4 do Universo Cinematográfico Marvel, em um julho de 2019, não havia pandemia ou isolamento social. A linha temporal dos lançamentos, justamente por isso, era bem diferente do que acabou se tornando a realidade.
"WandaVision", por exemplo, deveria estrear depois de "Viúva Negra", "Falcão e o Soldado Invernal", "Eternos" e "Shang-Chi". Ao invés disso, foi a minissérie que "começou os trabalhos", e a realidade do que vimos até agora é bem diferente do que deveria ter sido. Isso pode estar afetando diretamente a percepção do público desta nova parcela do MCU.
Em julho de 2019, "Homem-Aranha: Longe de Casa" encerrou oficialmente a Fase 3 da Marvel nos cinemas e, com ela, a Saga do Infinito —composta pelos primeiros 23 filmes encabeçados por Kevin Feige.
Com a finalização de um ciclo grandioso que, seja pelo sucesso da fórmula ou por fazer o antes seleto "Clube do Bilhão" (ou seja, a lista de filmes que haviam arrecadado mais de US$ 1 bilhão nas bilheterias) se tornar não tão seleto assim, a saga que se iniciou em "Homem de Ferro" (2008) está invariavelmente ligada à história dos blockbusters modernos.
Mesmo para Feige, que entre os brasileiros ganhou o apelido "carinhoso" de Zé Boné, iniciar uma nova etapa é um desafio. Significa ter que vencer o seu próprio melhor jogo. Por enquanto, o novo parece estar perdendo.
Para isso, o objetivo da Fase 4 parece ser o de expandir o Universo Cinematográfico Marvel para além do horizonte. Depois dos "Maiores Heróis da Terra", afinal, é hora de conquistar o espaço.
Neste sentido, o que "Eternos" faz é exatamente levantar essa bola. Os numerosos celestiais expandem o mundo conhecido com conflitos e debates ideológicos que ainda não haviam acontecido e tentam, à sua maneira, elevar filosoficamente a conversa. Tamanho simbolismo, no entanto, não faz dele um filme necessariamente bem estruturado.
As mudanças de datas por causa da pandemia podem até exercer um papel na forma como enxergamos o que a Fase 4 entregou até agora, mas a estratégia parece ter se mantido, em geral. A nova etapa foi iniciada com personagens conhecidos —Wanda (Elizabeth Olsen), Visão (Paul Bettany), Sam (Anthony Mackie), Bucky (Sebastian Stan). Os novatos, como Shang-Chi (Simu Liu) e os celestiais, só depois começaram a dar as caras.
Mesmo assim, o saldo geral aparece morno para o estúdio que criou o zeitgeist cultural de "Vingadores: Guerra Infinita" (2018) e "Vingadores: Ultimato" (2019). Mas será que não estamos com muita pressa?
Ainda que "Eternos" tenha dividido opiniões, o filme cumpre um papel grandioso ao mergulhar sem medo em uma vertente que é inteiramente nova para os filmes da Marvel. Talvez seja exatamente este o motivo por que o resultado final soa tão transitório, como grandes ideias compiladas de uma forma pouco uniforme. Ao criar algo novo, está pavimentando o caminho que poderá ser percorrido melhor por outras obras no futuro.
Essa sensação de que tudo é morno e sem grandes consequências está ligada ao fato de o novo projeto ainda estar no início. Antes de "Guerra Infinita", houve "Thor: O Mundo Sombrio" e o eternamente em debate "Homem de Ferro 3".
Trazer propositalmente personagens que são menos conhecidos que Homem de Ferro ou Capitão América, inclusive, antes de queridinhos como Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), Thor (Chris Hemsworth), Capitã Marvel (Brie Larson) ou o que Ryan Coogler está preparando para honrar Chadwick Boseman em "Pantera Negra 2" também é uma forma de criar expectativa e construir tensão.
A Marvel sempre funcionou desta forma, com a linha invisível que conecta todos os projetos criando uma necessidade velada entre os espectadores para que assistam a tudo para chegarem ao clímax.
Por enquanto, ainda estamos longe do momento do aguardado auge, e tudo parece um grande trailer para "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura". Que faça jus a tamanha promoção.
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