'Dexter: New Blood' tenta consertar final trágico com história sem graça
Quando "Dexter" saiu de cena em 2013, com um episódio final eleito por muitos fãs como um dos piores já vistos na televisão, a série já vinha em uma trajetória inconstante desde que o produtor e roteirista original, Clyde Phillips, largou o projeto no fim da 4ª temporada. O que se seguiu foram episódios irregulares, que culminaram no terrível Dexter Lenhador que deixou uma marca indesejada e um gosto amargo na boca de quem esperava algo melhor.
Embora as temporadas anteriores fossem melhores, é importante lembrar que havia certa ingenuidade que a impedia de estar entre as grandes. Morgan (Michael C. Hall) nasceu entre a crueldade cômica de Tony Soprano (James Gandolfini), de "Família Soprano", e a frieza dúbia de Don Draper (Jon Hamm), de "Mad Men", mas nunca entrou para o hall dos anti-heróis que redefiniram o meio e são até hoje lembrados como referências.
O que não significa que ela não tenha seu próprio legado.
Por isso, "Dexter: New Blood" tenta reescrever a passagem sombria dos últimos momentos da série original, mas sem descartá-los. Sai a ensolarada Miami e entra a fria Iron Lake, em Nova York, onde Dexter vive sob o nome Jim Lindsay (uma referência ao autor dos livros e criador do personagem, Jeff Lindsay) sem matar uma mosca sequer nos últimos 10 anos.
Até que alguma coisa se transforma e seu filho, Harrison (agora vivido por Jack Alcott), resolve procurá-lo.
Nos quatro primeiros episódios, "Dexter: New Blood" soa ao mesmo tempo renovada e parada no tempo. Uma década se passou, a relação entre Morgan e seu passageiro sombrio (agora na figura de Deb, de Jennifer Carpenter) se transformou e é retratada aqui de uma forma mais complexa, e tudo isso é bom. Mas a série parece ter dificuldade em reconhecer que a televisão também está radicalmente diferente do que era até 2013.
O que mudou?
Se Dexter foi um personagem transgressor quando surgiu nas telas do canal pago Showtime, hoje seu DNA está impregnado em outras obras, de documentários a séries de ficção que se propõem a estudar o psicológico de assassinos em série.
Seja pelo exagero proposital de "Você", da Netflix, ou pela análise profunda de "O Assassinato de Gianni Versace: American Crime Story" (também na Netflix), é de se concluir que o "serial killer camarada" influenciou o gosto que a TV tem hoje por histórias criminais colocando os assassinos em primeiro plano.
Mas quando "New Blood" escolhe, propositalmente ou não, ignorar a evolução deste legado, deixa a desejar no que poderia simbolizar para os anos à frente. Seja por medo ou incapacidade, ela se apequena diante das possibilidades que lhe são apresentadas.
Enquanto narrativa, "Dexter: New Blood" se beneficia da atuação astuta de Michael C. Hall, e acerta ao não empregar uma relação entre ele e Debra (embora aquela, objetivamente, não seja Debra) baseada na estranheza e nos absurdos das últimas temporadas. Enquanto nosso protagonista, querendo ou não, volta à velha forma, os episódios buscam fazer com que a história não seja marcada eternamente por um final tão amargo quanto o de 2013.
Por isso, o que fica no ar, nos quatro primeiros episódios, é uma sensação de dever cumprido, ainda que não de maneira fenomenal. "Dexter: New Blood" é melhor do que era quando deixamos a história lá em 2013, não tão criativa ou atraente quanto já foi um dia.
"Dexter: New Blood" é exibida no Brasil pelo Paramount+.
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