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'Dexter: New Blood' tenta consertar final trágico com história sem graça

Cartaz de "Dexter: New Blood" - Divulgação
Cartaz de "Dexter: New Blood" Imagem: Divulgação

Laysa Zanetti

De Splash, em São Paulo

09/11/2021 04h00

Quando "Dexter" saiu de cena em 2013, com um episódio final eleito por muitos fãs como um dos piores já vistos na televisão, a série já vinha em uma trajetória inconstante desde que o produtor e roteirista original, Clyde Phillips, largou o projeto no fim da 4ª temporada. O que se seguiu foram episódios irregulares, que culminaram no terrível Dexter Lenhador que deixou uma marca indesejada e um gosto amargo na boca de quem esperava algo melhor.

Embora as temporadas anteriores fossem melhores, é importante lembrar que havia certa ingenuidade que a impedia de estar entre as grandes. Morgan (Michael C. Hall) nasceu entre a crueldade cômica de Tony Soprano (James Gandolfini), de "Família Soprano", e a frieza dúbia de Don Draper (Jon Hamm), de "Mad Men", mas nunca entrou para o hall dos anti-heróis que redefiniram o meio e são até hoje lembrados como referências.

O que não significa que ela não tenha seu próprio legado.

Dexter (Michael C. Hall) e Debra (Jennifer Carpenter) em "Dexter: New Blood" - Divulgação - Divulgação
Dexter (Michael C. Hall) e Debra (Jennifer Carpenter) em "Dexter: New Blood"
Imagem: Divulgação

Por isso, "Dexter: New Blood" tenta reescrever a passagem sombria dos últimos momentos da série original, mas sem descartá-los. Sai a ensolarada Miami e entra a fria Iron Lake, em Nova York, onde Dexter vive sob o nome Jim Lindsay (uma referência ao autor dos livros e criador do personagem, Jeff Lindsay) sem matar uma mosca sequer nos últimos 10 anos.

Até que alguma coisa se transforma e seu filho, Harrison (agora vivido por Jack Alcott), resolve procurá-lo.

Jack Alcott e Michael C. Hall nos bastidores de "Dexter: New Blood" - Showtime/Divulgação - Showtime/Divulgação
Jack Alcott e Michael C. Hall nos bastidores de "Dexter: New Blood"
Imagem: Showtime/Divulgação

Nos quatro primeiros episódios, "Dexter: New Blood" soa ao mesmo tempo renovada e parada no tempo. Uma década se passou, a relação entre Morgan e seu passageiro sombrio (agora na figura de Deb, de Jennifer Carpenter) se transformou e é retratada aqui de uma forma mais complexa, e tudo isso é bom. Mas a série parece ter dificuldade em reconhecer que a televisão também está radicalmente diferente do que era até 2013.

O que mudou?

Se Dexter foi um personagem transgressor quando surgiu nas telas do canal pago Showtime, hoje seu DNA está impregnado em outras obras, de documentários a séries de ficção que se propõem a estudar o psicológico de assassinos em série.

"Você", da Netflix - Divulgação/ Netflix - Divulgação/ Netflix
Victoria Pedretti e Penn Badgley em "Você", da Netflix
Imagem: Divulgação/ Netflix

Seja pelo exagero proposital de "Você", da Netflix, ou pela análise profunda de "O Assassinato de Gianni Versace: American Crime Story" (também na Netflix), é de se concluir que o "serial killer camarada" influenciou o gosto que a TV tem hoje por histórias criminais colocando os assassinos em primeiro plano.

Mas quando "New Blood" escolhe, propositalmente ou não, ignorar a evolução deste legado, deixa a desejar no que poderia simbolizar para os anos à frente. Seja por medo ou incapacidade, ela se apequena diante das possibilidades que lhe são apresentadas.

Enquanto narrativa, "Dexter: New Blood" se beneficia da atuação astuta de Michael C. Hall, e acerta ao não empregar uma relação entre ele e Debra (embora aquela, objetivamente, não seja Debra) baseada na estranheza e nos absurdos das últimas temporadas. Enquanto nosso protagonista, querendo ou não, volta à velha forma, os episódios buscam fazer com que a história não seja marcada eternamente por um final tão amargo quanto o de 2013.

Por isso, o que fica no ar, nos quatro primeiros episódios, é uma sensação de dever cumprido, ainda que não de maneira fenomenal. "Dexter: New Blood" é melhor do que era quando deixamos a história lá em 2013, não tão criativa ou atraente quanto já foi um dia.

"Dexter: New Blood" é exibida no Brasil pelo Paramount+.