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'Africanos fugiram para cá': Por que a frase de Day na 'Fazenda' é racista?

Dayane Mello protagonizou polêmica em "A Fazenda" ao falar sobre a miscigenação no Brasil - Reprodução/PlayPlus
Dayane Mello protagonizou polêmica em 'A Fazenda' ao falar sobre a miscigenação no Brasil Imagem: Reprodução/PlayPlus

Luiza Missi

De Splash, em São Paulo

10/11/2021 04h00Atualizada em 10/11/2021 10h57

A modelo Dayane Mello foi autora de uma declaração racista no reality "A Fazenda", ao afirmar que a maior parte da população do Nordeste é "de cor" porque "muitos da África fugiram para cá", referindo-se ao Brasil.

Mas, afinal, por que a frase é racista? Splash explica.

Primeiramente, no Brasil não se utiliza a expressão "de cor" para falar de pessoas negras: o termo é considerado racista por pressupor que pessoas brancas não têm cor ou raça — em outras palavras, por pressupor que pessoas brancas são o padrão.

No inglês, o termo "people of color" ("pessoas de cor") é utilizado para falar de pessoas que não são brancas: latinos, pessoas negras, asiáticas, indígenas. No entanto, a expressão também está sendo questionada por estabelecer a branquitude como o padrão.

Nas redes sociais, a equipe de Day minimizou o erro da modelo dizendo que foi uma confusão meramente cultural: ela teria se expressado como os italianos, já que mora na Itália há quase dez anos.

No entanto, o uso da expressão "de cor" não foi o principal problema na fala de Dayane. O que mais incomodou o público foi a explicação que ela deu sobre a presença de pessoas negras no Brasil: "Muitos da África fugiram para cá, negros". Não é verdade: o que explica esse fenômeno é a escravidão, não uma migração voluntária para "fugir" de algo.

O Brasil foi o país que mais recebeu pessoas negras escravizadas entre os séculos 16 e 20: foram 4,9 milhões de pessoas trazidas à força. É possível saber esse número com precisão justamente porque essas pessoas eram tratadas como mercadoria e catalogadas nos portos.

Na conversa, Dayane e outros participantes de "A Fazenda" elogiam a mistura de raças no Brasil: "Que bonitinho isso, cara", comentou Tiago Piquilo.

Essa visão de que o Brasil é uma "democracia racial" é comum por aqui, mas já foi refutada por especialistas no tema: o país pode ser composto por várias raças, mas nem todas são tratadas igualmente.

Essa é uma democracia que pode até ser política, mas não é plena. Os direitos civis dos negros garantidos pela Constituição não estão sendo respeitados. Que forma de democracia é essa que a população negra pode votar, mas, às vezes, não tem condições nem de se mover pela cidade de forma segura? Precisamos repensar esse modelo. Antonio Guimarães, sociólogo