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'Eu quem decido', diz Erika Januza sobre seu corpo

Erika Januza - Instagram
Erika Januza Imagem: Instagram

Colaboração para Splash, em São Paulo

12/11/2021 12h55Atualizada em 12/11/2021 12h57

Erika Januza, de 36 anos, estampou a capa da Quem deste mês e falou abertamente sobre processo de preparação para o papel de Laila, em "Verdades Secretas 2", telenovela da TV Globo, seu corpo e aceitação durante sua trajetória na televisão.

Atriz estreou na segunda temporada da novela como uma personagem que sofre de distúrbios alimentares e foi preciso emagrecer 10kg para as gravações. "Foi a primeira vez que fiz uma mudança tão grande no meu corpo. Eu não passei fome. Ninguém pediu para eu perder peso. Achei que era coerente estar mais magra porque ela tem problemas de distúrbios alimentares, toma remédio para emagrecer. Foi algo que quis fazer pela construção da Laila e baseado nos relatos e conversas com médicos e pessoas que tomaram esses medicamentos", contou.

"Tive acompanhamento médico, nutricionista e, como não ia dar conta de fazer comida, chamei um chefe de cozinha. Segui à risca, tive foco, para onde eu ia minha marmitinha ia atrás. Chegou uma hora que eu estava perdendo tanto que falei 'não tenho mais para onde ir, chega'. Saí de 59 quilos e fui para 49. Não pesava isso desde a adolescência", completou.

Entretanto, Erika não gostou do resultado para a sua vida. "Foi 'quando acabar a novela tchau'. Já ganhei quatro quilos e quero mais. Aquilo foi uma dedicação para o personagem, não foi por estética. Eu não me gosto muito magra. Quando entrei na academia pela primeira vez na vida, adolescente, foi para ganhar massa. Eu era muito magrinha e usava duas calças. Tinha muita vergonha. Ainda tinha as questões de cabelo e de rejeição na época de encontrar namoradinho", revelou.

Ao falar sobre aceitação, ela contou que começou a ser amar de verdade apenas aos 25 anos. "Antes eu me amava, mas tinhas as minhas questões que eram mais impostas pelos outros e pela opressão de fora que por mim mesma. Era uma coisa de tentar estar dentro de um padrão que, na verdade, não tem padrão nenhum, mas eu demorei para ver isso. Eu aprendi muito sobre mim depois que me tornei atriz, que vim para o Rio. Vi novas coisas, compreendi novos posicionamentos e entendi 'gente, por que eu fiquei esse tempo todo pensando isso?'", declarou sobre o padrão de mulher na sociedade.

Januza ainda diz que seu trabalho ajudou nesse processo. "A arte me libertou muito em questão ao meu cabelo. Eu tinha o cabelo alisado. Isso - aceitar o próprio cabelo - é um lugar que as mulheres entraram há pouco tempo. Na minha cidade, não tinha absolutamente ninguém para eu olhar e falar 'nossa, é meu cabelo'. Não existia. Era um padrão de cabelos e de pessoas. Hoje, quando volto a Contagem, essa diversidade que eu não via e encontrei aqui, está toda lá. Eu senti esse movimento de mudança, que não é só meu, mas social", afirmou.

Como atriz negra, ela acredita que precisa reafirmar seu valor diariamente, mas dispensa a militância por tudo e o tempo todo. "As oportunidades são mais limitadas porque só pode ter personagem para atriz negra se tiver um personagem que tenha a ver o fato de ser negra. E se tem uma, não pode ter duas, tem que ser uma por produto. Quantas atrizes e atores negros desempregados porque só pode ter um para dizer que está representando? E a gente não quer personagem que fale de questões raciais o tempo inteiro. Meu sonho de carreira é ouvir 'precisamos de uma atriz boa, vamos chamar a Erika'. Não quero que me chamem só pela cor da minha pele, mas se for pela cor da minha pele que isso seja positivo e não segregador", disse.

"Eu me dou o direito de militar quando convém militar ou quando eu posso militar porque é uma causa minha. Se precisa, eu vou, e a gente no momento precisa, então estou aqui para falar o que precisar, mas dentro do que acredito. E, quando é algum assunto sobre o qual eu prefiro me calar, eu me calo e não sofro por isso. Não sou obrigada o tempo todo a me manifestar por tudo. Mas a luta é constante. Em geral, eu sempre falo e é isso: a luta é a gente estar em todos os lugares, porque eu posso estar, posso ser bem-sucedida, usar meu cabelo liso, raspar, sair pelada... Sobre meu corpo, eu quem decido", frisou.