Aly Raisman: ginasta revela jornada de sobrevivência após denunciar abuso
Quando a ginasta olímpica Aly Raisman se reuniu virtualmente com um grupo de jornalistas da América Latina para falar sobre seu novo documentário, "From Darkness to Light", ela confessou estar cansada.
Capitã da equipe de ginástica artística que conquistou a medalha de ouro em Londres, em 2012, Raisman é uma das atletas que denunciou o ex-médico da seleção estadunidense Larry Nassar, após anos de abuso que passaram sem uma investigação adequada pelo FBI e pela própria organização.
Falar sobre isso às vezes é uma ferida aberta, e preciso trabalhar nesse equilíbrio. Quando estou com meus amigos, não falo sobre o assunto. Penso em outras coisas, me divirto. Esse trabalho é importante para mim, e eu quero fazê-lo, mas também é desafiador.
Raisman se identificou publicamente como uma das sobreviventes de Larry Nassar em novembro de 2017. Na ocasião, aos 23 anos, ela contou que falou com os investigadores após as Olimpíadas do Rio de Janeiro 2016. Ela tinha 15 na primeira vez em que foi atendida por Nassar.
Outras atletas, como Simone Biles, Maggie Nichols e McKayla Maroney também se pronunciaram.
"Ao longo dos anos, eu tentei priorizar a minha jornada de cura", confessa Raisman, hoje aposentada.
"Existem muitos altos e baixos diferentes na vida. Algumas vezes, terapia uma vez por semana é o suficiente. Em outras vezes, nem mesmo fazer terapia duas vezes por semana é o bastante. Alguns dias eu acordo mais calma, em outros é difícil pegar no sono porque estou mais estressada. Eu compreendi a importância de viver um dia após o outro. Quando eu me cobro muito, isso não ajuda."
O ex-médico foi denunciado pela primeira vez ainda em 2016, quando uma extensa reportagem investigativa do jornal Indianapolis Star revelou não apenas os abusos que ele cometia, mas também como oficiais da Federação de Ginástica Artística dos Estados Unidos falharam em proteger e ouvir as atletas. Parte dessa história é narrada no documentário "Atleta A", da Netflix, que acompanha a jornada de Maggie Nichols.
No novo documentário, que estreia hoje no canal Lifetime, Raisman conta histórias pessoais, relata sua tumultuada jornada de cura e se encontra com outros sobreviventes. Ela também revela como aderiu ao ativismo social, por meio da fundação sem fins lucrativos que dá título à obra: From Darkness to Light.
"Poder me reunir com outros sobreviventes e identificarmos, juntos, cada pedacinho do que nos trouxe até aqui foi incrível. Fico emocionada toda vez que recebo mensagens de pessoas dizendo o quanto nosso documentário ajudou até mesmo que elas entendessem que também eram sobreviventes."
"Algumas pessoas disseram que se sentiram encorajadas a pedir ajuda, e isso me motiva a continuar. Mas eu também reconheço o quanto isso afeta a minha própria jornada, porque algumas vezes é difícil e se torna um gatilho também para mim. Não posso me esquecer de tomar conta de mim mesma."
O andamento das investigações
Larry Nassar, hoje preso, cumpre pena em uma penitenciária federal na Flórida e acumula sentenças por pornografia infantil, abuso sexual de menores e agressão sexual. Mesmo assim, ginastas como Aly Raisman e Simone Biles ainda prestam depoimento. Em setembro deste ano, as duas foram ouvidas pelo Senado dos Estados Unidos, que conduz as investigações sobre a condução do caso feita pelo FBI.
Em frente aos senadores, ela declarou:
"Gostaria de dizer que eu, particularmente, acho que as pessoas não entendem o quanto viver um tipo de abuso é algo que uma pessoa não sofre apenas no momento, é algo que carregamos conosco pelo resto de nossas vidas. Por exemplo, estar aqui hoje está sugando tudo o que eu tenho. Minha maior preocupação é ter energia o bastante para conseguir caminhar para fora daqui."
A investigação, agora, é sobre a conduta de agentes do FBI que estavam a cargo do caso. As ginastas contaram que a agência falhou em seguir as pistas das denúncias que elas haviam feito na época.
O que eu aprendi, ao longo dos anos, é que esse tipo de coisa leva tempo, e isso também acaba me afetando. Eu tento meditar e refletir bem, porque no fim das contas acaba sendo frustrante. Faz seis anos que eu fiz a denúncia, faz tempo. Alguns dos sobreviventes denunciaram décadas antes. Então, o fato de ainda não termos respostas é inaceitável. Gostaria de ter respostas mas, de nossa parte, o que nós ainda queremos é uma investigação independente.
Agora, embora Raisman queira continuar ajudando outros sobreviventes, ela pondera que se livrar do sentimento de culpa é um processo lento e delicado.
"Estou tentando me cuidar. Em um dia como hoje, que eu sei que vou falar muito sobre abuso e sobre a minha história, eu vou guardar um tempo para mim mesma e pegar leve. Vou ficar com meu cachorro [Mylo, que mais de uma vez roubou a atenção durante a conversa], vou me gerenciar para não forçar a barra e garantir que não vou ficar falando sobre isso durante muitos dias seguidos. Isso também é importante."
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