Boate Kiss: série traz detalhes não vistos na tragédia que parou o Brasil
A Netflix anunciou esta semana que está produzindo uma série limitada sobre o incêndio da Boate Kiss, de Santa Maria-RS, que deixou 242 pessoas mortas e mais de 600 feridas em 2013. A produção é baseada no livro "Todo Dia a Mesma Noite", da jornalista Daniela Arbex ("Holocausto Brasileiro", "Cova 312").
No livro, lançado em 2018, Arbex assina uma extensa reportagem que reconstitui os eventos da madrugada de 27 de janeiro de 2013.
Em seu perfil no Instagram, a autora comemorou a notícia e afirmou que a produção vai contribuir para que a história não seja esquecida:
Que bom poder dividir isso com vocês depois de quase dois anos de muito, muito trabalho! Emocionada em ver a história do Brasil sendo contada para milhões de pessoas! Jamais vamos esquecer o que houve em 27 de janeiro de 2013. Nem o Brasil, nem o mundo!
Para a apuração, a autora conversou com sobreviventes da tragédia, familiares de vítimas, membros das equipes de resgate e profissionais da área da saúde que acompanharam o caso de perto. Além disso, ela também relata a história dos que sobreviveram e as consequências dos descuidos de empresários e políticos.
O que aconteceu?
No dia 26 de janeiro de 2013, às 23h, começava na boate a festa Agromerados, organizada por estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Durante a madrugada, na apresentação de uma das bandas contratadas para a festa, Gurizada Fandangueira, o vocalista utilizou um sinalizador, embora estivessem em um local fechado. O artefato pirotécnico soltou faíscas que atingiram o teto da boate, e isso ateou fogo ao isolamento acústico, feito de espuma.
Embora os integrantes da banda e um segurança tenham tentado apagar o fogo, as chamas se espalharam rapidamente por toda a boate, pois o extintor que estava perto do palco não teria funcionado.
Falha de comunicação
Inicialmente, os seguranças que estavam na única porta de saída da boate impediram a passagem das pessoas que tentavam fugir das chamas. Eles não sabiam o que estava acontecendo no palco, e, por isso, achavam que a aglomeração era devido a uma briga ou porque as pessoas tentavam sair sem pagar a conta.
Muitas vítimas também tentaram sair pelas portas dos banheiros, o que também não foi possível. Além disso, a superlotação de público foi outro agravante, que dificultou a evacuação do local.
Irregularidades e investigação
As investigações detectaram uma série de irregularidades no funcionamento da casa, que não tinha alvará de localização ou dos bombeiros, sinalização para as rotas de emergência e exaustão de ar adequada. Desde 2009, data da inauguração da boate, o local vinha sendo multado por funcionamento irregular.
No dia seguinte à tragédia, foi decretada a prisão temporária dos sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffman, e dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira Marcelo de Jesus dos Santos, o vocalista, e Luciano Augusto Bonilha Leão, auxiliar que comprou o sinalizador. Em março, a prisão temporária foi convertida em preventiva. No mês seguinte, os quatro foram denunciados pelo Ministério Público por homicídios e tentativas de homicídio.
A prisão preventiva dos quatro acusados foi revogada no dia 29 de maio de 2013, pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, e ficou decidido que eles aguardariam o processo em liberdade.
Em abril deste ano, a Justiça marcou para o próximo dia 1º de dezembro o julgamento dos quatro réus, que respondem por homicídio simples consumado 242 vezes e tentado outras 636.
História não esquecida
A série da Netflix, que começa a ser gravada em janeiro de 2022 (nove anos após a tragédia), será uma ficção, com cinco episódios, produzida pela Morena Filmes, dirigida por Júlia Rezende ("Depois a Louca Sou Eu") e escrita por Gustavo Lipsztein.
Para Daniela Arbex, que será consultora, a produção será importante para que as pessoas reflitam sobre a história dos pais das vítimas e a sua busca incessante por justiça. O seriado também pretende mostrar como o amontoado de irregularidades contribuiu para a tragédia.
Em entrevista concedida a Splash em fevereiro deste ano, Daniela desabafou sobre o processo de escrita do livro:
Viajei 15 vezes ao Rio Grande do Sul. Passava muito tempo longe de casa. Conseguia me ver em todas as histórias. Vivi o luto daquelas famílias. Ganhei 10 quilos, perdi metade do cabelo. Não me reconhecia no espelho. Foram dois anos muito difíceis, fiquei muito afetada.
Para o julgamento, que ocorrerá no Foro Central de Porto Alegre, foi feita uma recriação da boate, que será utilizada no plenário para que os jurados consigam compreender as condições da casa na madrugada da tragédia. Segundo o Ministério Público, cada parte terá direito a 2h30 de fala, e mais 2h de réplica e de tréplica.
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