'LCDP' sofreu tentativa de boicote por apoio de atriz a presos separatistas
O sucesso mundial de "La Casa de Papel", que terá a sua parte final disponível na Netflix durante a próxima sexta-feira (3), veio após uma tentativa de boicote por conta de um posicionamento político da atriz Itziar Ituño, que interpreta a personagem Raquel Murillo (Lisboa).
A participação da artista foi alvo de críticas em maio de 2017, quando a série foi ao ar pela primeira vez na emissora espanhola Antena 3.
Ituño apareceu em um vídeo onde defendeu presos do grupo separatista ETA (Euskadi Pátria e Liberdade). A organização pertencia ao País Basco, território localizado entre a França e a Espanha.
A atriz nasceu e continua morando em Bilbao, principal cidade da região, mesmo após o sucesso mundial da série. Ela mostrou parte de sua rotina no local em um trecho do documentário "La Casa de Papel: De Tóquio a Berlim"
Luta por independência
Assim como outros artistas do País Basco, Itziar Ituño defendeu os membros do ETA que estavam presos. O grupo defendia a independência da região espanhola.
O ETA lutou pela independência do País Basco entre 1959 (época em que a Espanha enfrentou uma ditadura liderada por Francisco Franco) e 2018, quando deixou de existir oficialmente.
O grupo se tornou conhecido por utilizar métodos violentos e liderar atentados nas disputas com o estado espanhol. O ETA comunicou o fim da participação em lutas armadas apenas em 2011.
Em 2017, o jornal El País divulgou um levantamento da AVT (Associação de Vítimas do Terrorismo). Segundo o estudo, foram 955 as vítimas de atentados do ETA ao longo dos 52 anos de atividades armadas.
Os números variam em análises produzidas por outras instituições da Espanha. O governo basco aponta 837 vítimas.
Declarações de Itziar Ituño
Nos dois vídeos que circularam nas redes sociais entre 2016 e 2017, Itziar Ituño protestou contra a dispersão dos presos que pertenciam ao grupo separatista. Um deles foi gravado durante evento realizado em Bilbao, onde a artista se emocionou.
Segundo o jornal espanhol "Público", 351 pessoas foram detidas por conta das atividades do ETA e espalhadas por diferentes prisões na Espanha e na França, sempre em locais distantes de suas famílias.
Queremos recordar aqueles que não estão com a gente. Alguns porque se foram para sempre. Outros porque estão longe daqui, a mais de mil quilômetros. Para eles, o meu mais caloroso abraço. Principalmente para os que estão sofrendo com as doenças. É o caso de um amigo meu. Txus, a sua semente floresceu. Mantenha o seu espírito, estamos com você e queremos você voltando para casa.
Itziar Ituño
Os críticos nas redes sociais apontaram que o recado de Ituño foi para o político Arnaldo Otegi, uma das principais figuras do ETA durante décadas.
Críticas a 'La Casa de Papel' antes de estreia
Em entrevista ao jornal argentino "La Nación" em 2018, a atriz lembrou que a hashtag #BoicotALaCasadePapel foi um dos assuntos comentados no Twitter dias antes da exibição do primeiro episódio. A imagem da artista foi ligada ao símbolo do ETA em publicações feitas no Twitter.
"Foi muito difícil. Que nunca mais volte a acontecer porque passei muito mal por tudo isso. Diziam barbaridades nas redes sociais e eu ficava triste. Mas vendo o resultado, aconteceu exatamente o contrário e o movimento nos serviu", lembrou.
Para Ituño, a ação envolveu apenas pessoas que "se dedicam a prejudicar a vida de outros" e acabou funcionando como uma "propaganda gratuita" para a estreia da série na TV espanhola.
"Foi um boicote político apontando a 'atriz basca do ETA'. Começaram a misturar tudo, tentaram atrapalhar a estreia e conseguiram o contrário. Foram 4,5 milhões de pessoas assistindo", completou.
Eu não sei de qual maneira isso vai afetar o meu trabalho. É algo muito grave. Estudei sociologia e me interessa o que acontece na sociedade, mas há pessoas que não entendem isso. Eu defendo os pontos em que eu acredito. Não sou uma militante política, mas tenho opinião e manifesto quando acho necessário.
Itziar Ituño
Sucesso com Lisboa
Ituño conta com mais de 5,3 milhões de seguidores. Na série, a personagem Raquel Murillo foi a inspetora responsável pelas negociações durante o assalto à casa da moeda espanhola.
A partir da 3ª temporada, com produção da Netflix, a personagem entra para o grupo com o nome de Lisboa por conta do namoro com o Professor (Álvaro Morte).
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