Foi um pouquíssimo inspirado "Homem-Aranha: Longe de Casa" que fechou os trabalhos da fase quatro do Universo Cinematográfico Marvel após o estrondoso "Vingadores: Ultimato" (2019). A sensação que ficou era a de estar com fome e morder um biscoito murcho.
Embora a segunda aventura-solo de Tom Holland tenha ares genéricos, que tentam a esmo preencher o vazio de Tony Stark (Robert Downey Jr.), é aquele o filme que abre caminho para um literal multiverso de possibilidades para o aguardadíssimo "Homem-Aranha: Sem Volta para Casa".
E mesmo após meses de exaustivas análises de cada detalhe dos trailers, boatos e possíveis trechos do roteiro vazados, o novo filme dirigido por Jon Watts consegue surpreender — e promete empolgar bastante a audiência.
Aqui, encontramos Peter logo após Quentin Beck, o Mysterio (Jake Gyllenhaal), revelar a identidade secreta do Homem-Aranha para o mundo. Nosso Amigão da Vizinhança tenta em vão passar despercebido entre perseguições de helicóptero e incansáveis reportagens do Clarim Diário, mas decide pedir ajuda para reverter a situação quando percebe o quanto suas ações podem prejudicar Ned (Jacob Batalon) e MJ (Zendaya).
Então, ele resolve ir atrás de Stephen Strange, o Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch). E, sem querer querendo, acaba fazendo bagunça e atraindo para o seu universo um desfile de vilões que não são exatamente melhores amigos do Cabeça-de-Teia.
Sem entrar em spoilers ou detalhes da trama, não é difícil dizer que o filme apela para a nostalgia ao resgatar os icônicos vilões da trilogia de Sam Raimi. Doutor Octopus (Alfred Molina) e Duende Verde (um Willem Dafoe terrivelmente bom) facilmente roubam a cena e trazem o filme para si, evocando nos espectadores uma montanha-russa de emoções que só os melhores antagonistas são capazes de trazer.
Mesmo assim, as surpresas e carinhosas participações especiais não entram no caminho de uma história bem construída, que promete ser um deleite para os fãs do Teioso.
"Homem-Aranha: Sem Volta para Casa" é, sobretudo, um filme sobre amadurecimento. É um longa que se compromete em trazer para o primeiro plano da ação os dilemas éticos de Peter Parker, e o quão corajoso ele é — ou não — para tomar as decisões mais difíceis, embora elas sejam as necessárias.
Afinal de contas, estamos diante de um Peter que está no último ano do ensino médio (uma fase turbulenta mesmo para quem não foi picado por uma aranha radioativa), forçado a enfrentar um desfile de vilões maiores que ele, sem a ajuda de seu mentor (muito menos de seus aparatos tecnológicos que quase sempre pareceram um artifício preguiçoso de roteiro).
Apesar dos amigos que não o abandonam, Peter está mais sozinho do que nunca.
Ao invés da figura paterna de Tony, por exemplo, Peter encontra em Strange um mentor muito mais rígido e aborrecido, que não se dobra às suas vontades de garoto e está disposto a confrontá-lo a todo momento, em cada decisão equivocada.
Mais do que nunca, desde que Tom Holland assumiu o papel é exigida do ator uma maturidade emocional para encarar de frente os sacrifícios mais difíceis que vêm com o traje do Homem-Aranha.
Felizmente, o britânico de 25 anos não decepciona neste sentido. Tom se mostra um ator mais equilibrado no personagem, com um pouco do seu já conhecido ar juvenil e um pouco daquela raiva de um garoto com os sentimentos à flor da pele.
Holland = Parker
Mesmo assim, o filme perde força nas motivações dos personagens. O conflito principal tem resoluções relativamente simples, cujos empecilhos são criados pelo roteiro sem considerar a própria evolução emocional que o protagonista já traz consigo. É como se ele estivesse aprendendo novamente uma lição que já aprendeu. Ou deveria.
Neste sentido, é como se o longa empregasse certa correção de curso para explicar quem é este Peter Parker, ou reapresentá-lo para quem já o conhece desde "Capitão América: Guerra Civil" (2016).
Fora das sombras de Tony Stark, o garoto do Queens aprende a trilhar sua própria jornada e torna-se, de verdade, o herói altruísta que conquistou fãs de quadrinhos mundo afora com seu carisma, sua inteligência e sua falta de dinheiro.
Estamos falando do terceiro filme-solo de Tom Holland como Peter Parker. Mas, de certa forma, é como se só agora ele estivesse mesmo se tornando o Homem-Aranha.
Ah, e uma dica: permaneça na sessão até o final dos créditos.
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