Ana Paula Padrão diz que não usa mais sutiã para não parecer 'recatada'
Ana Paula Padrão foi a convidada do apresentador Celio Ashcar Jr. em uma transmissão no YouTube do Promoview, diretamente do Teatro Raul Cortez, na Fecomércio, em São Paulo. Por lá, a jornalista relembrou uma propaganda que a marcou em algum momento da vida: uma campanha desenvolvida por Washington Olivetto, "O primeiro sutiã, a gente nunca esquece".
"É uma fase das meninas em que elas estão mudando em tudo (...) e começamos a ser olhadas de uma maneira diferente e, naquela época, a gente tinha a preocupação em esconder algumas parte do corpo e o sutiã era um âncora muito importante. Usei sutiã décadas da minha vida, hoje uso muito menos, porque eu cansei do sutiã. Acho que nunca encontrei um sutiã 100% confortável e hoje só uso quando é parte da roupa. Eu quero que apareça um pouquinho, porque tem um brilho, renda, cor, mas por causa da obrigação de usar um sutiã para parecer uma pessoa mais ou menos recatada, isso eu já ultrapassei. Depois dessa pandemia então, que a gente não saia de casa, eu até perdi os meus, só tenho alguns... mas naquele momento do mundo, da história brasileira e das meninas, a relação com o primeiro sutiã era muito importante. Aquela publicidade é uma poesia. É uma profunda sensibilidade para compreender o momento da mulher e o que vivíamos naquela época".
Ana Paula também relembrou a sua infância, algumas dificuldades que passou quando chegou em São Paulo e ainda, falou sobre a sua perseverança e coragem na profissão:
"Meu pai sempre foi muito importante na minha formação intelectual. Para ele, não importava as minhas características físicas, mas a minha sabedoria. O jornalismo, apesar de não ter mulheres em posto de comando nos grandes grupos de mídia, sempre tivemos jornalistas atuando em áreas muito importantes como política e economia. Quando entrei no mercado de trabalho, nos anos 80, já haviam muitas colunistas em Brasília. Não havia talvez muitas correspondentes internacionais, muito menos, mulheres dispostas a ir pra guerra. Fui para muitas guerras e regiões de conflito, nunca ninguém me pediu isso. Eu sempre me pautei, sempre desejei ir e nunca foi um sacrifício! Sempre foi um prazer, sempre quis estar aonde as coisas estivessem acontecendo e fazer coisas que não tivessem sido feitas até então. Encontrei um ambiente razoavelmente favorável no jornalismo e encontrei em casa um terreno fértil para sonhar o sonho que eu queria pra mim. Eu não queria ser uma dona de casa cheia de filhos! Eu queria ser uma mulher que visse as coisas do mundo, que estivesse inserida num contexto corporativo maior e que pudesse almejar grandes cargos no Jornalismo. Começar a sonhar, o sonho grande, desde pequena, faz muita diferença para uma mulher. Não educar a mulher só pra ela ir na sala perguntar se alguém precisa de café, faz muita diferença na fase adulta".
A jornalista revelou sua primeira negativa profissional:
"Quando eu ouço um 'não', eu me sinto mais desafiada. Eu não sou uma pessoa que desiste à toa. No começo da minha profissão, trabalhava em rádio, tentei emprego em uma TV que estava abrindo, na época, a TV Bandeirantes... olha que ironia do destino, estou há sete anos trabalhando na Band, que é uma rede especialmente carinhosa, mas o meu primeiro não, eu ouvi lá na Band que estava abrindo em Brasília e a pessoa que me atendeu, disse que tinha visto a minha fitinha e que era pra eu desistir, que eu nunca seria jornalista de TV, que era melhor procurar outra coisa, talvez um jornal. Eu saí de lá e pensei, que eu poderia ser uma jornalista de jornal mesmo, eu nem queria fazer televisão, mas não desisti do jornalismo e não parei de sonhar. Eu não fui derrotada naquele momento, continuei pensando na carreira que eu queria e acabei sendo convidada pela Globo para ir pra lá, após uma breve passagem pela TV Brasília, que era TV Manchete, em 1986. Fiz uma carreira que acho bem bonita, tenho muito orgulho dela na Globo, passei por várias outras emissoras na sequência e estou na Band numa outra área. Acho que se você realmente deseja e não há outra coisa que você deseje mais, acho que a sorte de alguma maneira é o resquício do seu desejo", explicou.
Com ar de admiração, Ana Paula Padrão respondeu à pergunta da amiga, a chef argentina Paola Carosella, sobre a solidariedade entre as mulheres:
"A Paola me ensinou muito em demonstrar vulnerabilidade. É uma coisa que o jornalismo não treina você. O jornalismo treina você para ser uma pessoa mais dura para estar diante de situações, às vezes, muito tristes, dramáticas e perigosas. Você precisa manter um escudo. (...) e se manter minimamente blindada para narrar aquela história. A Paola me ensinou que não tem nada de errado em chorar publicamente, em se alegrar e demonstrar sentimentos. Acredito que estamos ficando mais solidarias entre as mulheres. Eu poderia ter guardado o meu ensinamento profissional de dureza e vigor, e não ter absorvido nada do que ela me ensinou. Hoje falo muito mais sobre mim, sobre as minhas angústias, dificuldades... Peço mais ajuda para outras mulheres principalmente. (...) O fato de estarmos prestando a atenção em grupos dos quais a gente não prestava antes é um grande avanço. Se você prestar atenção no movimento feminista dos anos 70, eram de mulheres brancas, as negras não eram incluídas. Hoje, temos grupos muito fortes, que tem vozes muito potentes, que são grupos de negras e grupos de brancas que precisam prestar atenção em negras, além de grupos de mulheres brancas que são solidárias com a luta com as questões e causas da mulher negra e acho que isso é o espirito da sororidade. A gente está mudando. Apesar do ambiente machista das nossas profissões (...) e termos desenvolvido uma casca de rigor e dureza, a gente hoje se abraça e conta coisas legais uma pra outra", alertou.
Assista à entrevista completa:
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