Topo

Leifert sofre ataque de ódio por ser judeu após discutir com Ícaro Silva

Felipe Pinheiro

De Splash, em São Paulo

23/12/2021 13h23Atualizada em 23/12/2021 15h09

O debate entre Tiago Leifert e Ícaro Silva sobre "BBB", com direito a críticas pessoais, fez com que o apresentador sofresse ataques de cunho antissemita nas redes sociais. Algumas pessoas ofenderam Tiago enquanto judeu, além de expandirem os ataques à comunidade judaica no geral com xingamentos.

A reportagem de Splash falou sobre o assunto com o advogado Fernando Lottenberg, que é comissário da Organização dos Estados Americanos (OEA) para o monitoramento e o combate ao antissemitismo.

Segundo Lottenberg, algumas das manifestações de violência contra Leifert publicadas no Twitter infringem a lei 7.716, que define os crimes resultantes de raça ou de cor, bem como aqueles baseados em etnia ou religião. O artigo 20, por exemplo, estipula como crime "praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional".

Ele observa que comentários como esses provocam uma onda de ódio. Em relação ao antissemitismo, Lottenberg diz que algumas medidas podem ser tomadas para frear o crescimento do ódio contra o povo judeu: "Acredito que, de um lado, a educação sobre quem são os judeus, o que já aconteceu com base nesse tipo de preconceito, com consequências trágicas".

"De outro, uma combinação de autorregulação e regulação pública dos provedores e plataformas, para evitar a disseminação desse tipo de discurso de ódio [nas redes sociais]", afirma.

Devemos procurar evitar que o discurso antissemita se torne algo socialmente aceitável, em meio a pautas identitárias que ganham força mundo afora. - Fernando Lottenberg, comissário da OEA.

"Judeu, né?"

Um dos comentários que mais repercutiu no Twitter foi do perfil @kausilvaviolin, que apagou a conta na rede social após a postagem viralizar. O texto dizia: "Sobre a polêmica com Tiago Leifert: judeu, né? (Desculpem-me os judeus legais que eu conheço. Isso não é com vocês".

Horas depois, Karen voltou ao Twitter e publicou uma carta de desculpas. "Num ato impulsivo fiz um tweet generalizando estereótipos a toda uma comunidade [...] Como mulher negra sei das dores que o racismo provoca e reconheço o sofrimento de um povo perseguido e torturado ao longo da história."

Doutorando em Estudos Literários e Culturais pela Universidade de São Paulo (USP) e Diretor do Instituto Brasil-Israel, o cientista social Daniel Douek pontua que, no Brasil, "esse tipo de discurso é sintoma do fato de que a judeidade vem sendo percebida, cada vez mais, como um símbolo da branquitude".

Isso é perigoso - Daniel Douek, diretor do Instituto Brasil-Israel.

"Pois criam-se estereótipos que generalizam uma comunidade diversa de pessoas, acarretando, também, em apagamentos identitários, como o dos próprios judeus negros", afirma o cientista social.

Douek ressalta que o racismo e o antissemitismo possuem implicações distintas no Brasil. Por outro lado, ele afirma que "são fenômenos sociais que compartilham as mesmas raízes, baseadas em marcações e hierarquias construídas arbitrariamente. Seu enfrentamento depende, portanto, de uma desconstrução permanente".

Os ataques antissemitas a Tiago Leifert acontecem em meio ao crescimento de grupos neonazistas no Brasil e no mundo, com o aumento de inquéritos de apologia ao nazismo na Polícia Federal. Há uma semana, grupos neonazistas foram alvos de uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio em sete estados do país após denúncias de discriminação nas redes sociais.

Até a publicação da reportagem, Leifert não havia sido localizado para comentar se pretende entrar com processo pelas ofensas que recebeu. Caso se manifeste o texto será atualizado. O apresentador é descendente de judeus por parte de pai. Em seu casamento com Daiana Garbin, em 2012, ele realizou uma cerimônia com ritos da tradição católica e judaica.