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Marcelo D2 pensou em deixar o Brasil e revela voto em Lula: 'Não tem saída"

Marcelo D2 fala sobre os haters - Ronaldo Land
Marcelo D2 fala sobre os haters Imagem: Ronaldo Land

Itaici Brunetti

Colaboração para Splash, em São Paulo

29/12/2021 04h00

Marcelo D2 não se cala; seja com um microfone em suas mãos, seja à frente de um computador ou smartphone. O rapper carioca integra o pequeno time de artistas que se posiciona corajosamente contra medidas do governo Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais. E, devido a isso, enfrenta a ira dos haters que quase o fez adoecer e deixar o Brasil.

"Já pensei em sair do Brasil várias vezes, mas aqui é o lugar em que nasci e cresci. Aqui tem meus amigos e a minha família", disse Marcelo D2 em entrevista a Splash. "Ainda vou lutar muito por isso porque o Brasil vale muito à pena. Mas falo do Brasil de verdade. O Brasil de cultura, de gente de verdade, e não o Brasil de plástico" completou.

Aos 54 anos, o frontman do Planet Hemp quase adoeceu por defender na internet esse Brasil que ele fala que vale tanto à pena. A cada tuíte indignado com as notícias sobre o governo, ele lida com uma enxurrada de xingamentos, ofensas e ameaças de internautas defensores do presidente.

"No final de 2018 para 2019 eu quase fiquei doente de tanto brigar na internet. Fiquei mal mesmo, quase à beira de um ataque de nervos. Mas eu vi que as pessoas são ignorantes e não sabem o que está acontecendo. Elas estão sendo manipuladas, então percebi que não vale brigar."

Assim como Anitta, Samantha Schmütz, Bruno Gagliasso e João Gordo (da banda Ratos de Porão), para citar alguns exemplos, Marcelo D2 está entre os artistas que" botam a cara à tapa" sem medo algum quando o assunto é criticar as medidas do governo. E o cantor sente falta de mais colegas de profissão engrossarem o coro.

"Fico um pouco triste em ver as pessoas fugindo [de se posicionar]. E não só artistas, mas as pessoas também, como cidadãos. Só que nós artistas estamos em uma posição de destaque, então, seria interessante tomarmos posição, já que queremos um mundo melhor para todos", afirmou.

Sempre firme na palavra e demonstrando consciência, o cantor não poupa palavras ao criticar músicos que ficam em cima do muro: "Tem gente que dá preferência ao status e tem medo do que o público vai achar. Só que sobre esse tipo de coisa não dá para ficar quieto, porque o que estamos passando no Brasil é muito sério, é a pior situação que já passamos desde a ditadura militar. Então, acho feio um artista não se posicionar".

Mas, com tudo isso acontecendo, o que fez Marcelo D2 desistir de se mudar do Brasil? "Sabe, no mesmo dia eu fico otimista e pessimista umas oito vezes com o nosso país. É difícil viver aqui, mas se não tivermos um pouquinho de otimismo não vale à pena. E eu acredito que as coisas vão mudar. Nós passamos pela ditadura militar e chegamos a ser a sexta melhor economia do mundo, depois caímos no buraco. Podemos aprender muito com isso."

Esperançoso e de olho no futuro, para ser mais específico pensando nas eleições presidenciais de 2022, Marcelo D2 crava: "Vou de Lula. Não tem outra saída para esse Brasil. O caminho agora é com Lula para a gente renovar tudo isso e colocar o trem nos trilhos de novo. A gente precisa de política social muito bem feita, e não existe isso nessa classe média branca, hétero e sei lá o quê. Eles não estão preocupados com as minorias e a gente precisa de quem se preocupa com elas."

Vida dupla

Musicalmente, Marcelo D2 só tem motivos para celebrar: se divide entre colher os frutos de seu último álbum, "Assim Tocam Os Meus Tambores", lançado em 2020, e a chegada do próximo disco do Planet Hemp, o primeiro trabalho de inéditas do grupo em 21 anos.

"Vamos lançar o disco novo no primeiro semestre do ano que vem, com certeza. O Planet Hemp é uma banda política e sempre foi. Então, não tem como fugir disso, o tema das músicas será esse; a gente fala um pouco de consciência e um pouco de maconha", adianta o cantor.

Em tom empolgado com o que vem por aí, o cantor celebra: "Tocamos três músicas inéditas do Planet no show da Fundição Progresso, no Rio, e a reação do público foi incrível. Parecia que a galera já conhecia as faixas sem a gente divulgar em lugar nenhum. Foi um impacto para nós da banda."

Já na carreira solo, Marcelo D2 aguarda ansioso pela premiação do Grammy Latino — o disco "Assim Tocam Os Meus Tambores" está concorrendo na categoria de Melhor Álbum em Língua Portuguesa. Detalhe: o trabalho foi gravado ao vivo na casa do cantor, pela plataforma Twitch, e sem precisar recorrer a um estúdio profissional de gravação.

"Música é música. Se você for pensar nos álbuns dos Beatles que eram gravados em quatro canais, você vê que o que importa mesmo é a música, e não a qualidade da gravação. Há boas canções nesse disco e representa bem o que foi esse momento por que passamos," finaliza D2.