Naufrágio no RJ matou Yara Amaral há 33 anos e deixa saudade na irmã
O ano era 1988 e a morte de uma atriz marcou a virada. No auge de sua carreira no teatro e na TV, Yara Amaral, então com 52 anos, foi uma das vítimas do naufrágio do Bateau Mouche IV, na Baía de Guanabara.
A artista morreu com mais 55 pessoas, incluindo Elisa Gomes, sua mãe que tinha 73 anos. Uma perda dupla para sua irmã Neusa Rodrigues Amaral, de 76 anos, que até hoje se emociona ao falar sobre a situação que soube pela TV.
"Nós morávamos em uma chácara, então já estávamos nos preparando para dormir, quando uma cunhada nossa de Santo André (ABC Paulista) nos ligou perguntando se estávamos com a TV ligada. Ela não teve coragem de dar a notícia inteira. Ligamos a TV, e a primeira imagem era a da Yara, com a informação: 'Acabamos de perder Yara Amaral e sua mãe no Bateau Mouche'. Foi um choque enorme", relembra Neusa, que não é irmã biológica de Yara, mas foi criada com a atriz, em São Paulo, desde os 10 anos.
O passeio de barco para assistir à queima de fogos na praia de Copacabana, com ceia e música ao vivo, foi vendido como exclusivo, ao preço de Cz$ 150 mil (cerca de R$ 2.737 pelos valores de hoje), por pessoa. O total de passageiros embarcados naquela noite ainda é um mistério, já que nunca se soube de uma lista de presença. Especula-se que havia 142 passageiros, em uma embarcação com capacidade para 62 pessoas.
Além da mãe, Yara estava acompanhada de um casal de amigos. Os dois filhos da atriz, João Mário e Bernardo, com 13 e 15 na época, respectivamente, também iriam, mas desistiram e foram a uma festa na casa de amigos. Os atores Sérgio Mamberti, que morreu esse ano, e Yolanda Cardoso, também já falecida, haviam sido convidados pela amiga para o passeio, mas ambos tiveram a sorte de não poder ir.
Yara temia o mar e adiou o tour náutico por três anos, até que deixou o medo de lado e cedeu aos pedidos de sua amiga Dirce Grotkowsky, que se agarrou a uma mesa e sobreviveu à tragédia.
"A Yara tinha muito medo de água, não entrava nem na piscina da casa dela. Mamãe também, a mesma coisa. Mas ela sentia uma gratidão muito grande pela Dirce, e, mesmo incomodada com a ideia, acabou aceitando ir", conta Neusa.
Causa da morte da atriz não foi afogamento
Como uma premonição, a atriz havia comentado um mês antes em um almoço de família, que as ondas do mar sempre apareciam vindo "pegá-la".
"Desde pequena, eu sempre tive a impressão de que um dia uma onda me levaria", disse aos filhos adolescentes, quando eles fizeram uma brincadeira sobre o fato de ela não saber nadar.
Mas na conversa com o Splash, Larize Ferreira Amaral, 52 anos, sobrinha de Yara, revelou que a causa da morte da tia não foi afogamento.
"Quando ela foi ao banheiro e viu a água subindo no vaso sanitário, ela sofreu um ataque cardíaco. Na verdade, ela não morreu afogada, ela teve um infarto só de ver a água entrando no barco".
A prova disso, segundo Larize, é que ela não estava inchada, pela ingestão de água, diferentemente da mãe, que morreu afogada. "Meu pai teve que reconhecer o corpo de minha avó, que estava muito inchado", diz Larize.
Na época, a classe artística se reuniu em peso na elaboração de um manifesto que exigia rigor na investigação do naufrágio, e punição severa aos responsáveis pela organização do evento. A atriz Dina Sfat foi uma das líderes desse manifesto, que enfatizava o descaso no Brasil com a vida humana.
No Teatro dos 4, no Rio, onde o corpo de Yara foi velado, o sentimento de tristeza se misturava com o de indignação. Entre os colegas, que foram se despedir da atriz, estavam Marília Pêra, Tony Ramos, Marieta Severo, Nathalia Thimberg, Sérgio Britto, Paulo Betti. Inconsolável, Sérgio Mamberti contava que havia combinado de jantar com Yara no primeiro dia de 1989.
Reclusão e luto na passagem do ano
Questionada sobre como sente a proximidade da data em que perdeu a irmã, Neusa responde sem hesitar: "Não gosto de comemorar (Ano Novo), perdi completamente a vontade. Prefiro ficar no meu canto, sossegada. A gente ora para que elas sejam iluminadas, sempre. Perder irmã e mãe não é fácil", desabafa ela, que encontrou na fé uma forma de lidar com a dor.
O Splash tentou o contato com João Mário e Bernardo, mas não teve êxito. Segundo Larize, eles preferem ficar mais reclusos nessa época do ano. Abandonam temporariamente as redes sociais, para não se expor nesse período. "É uma data muito triste, tanto para nós como pra eles, então os dois se isolam no Rio mesmo, respondem só aos familiares, por telefone; quando dá, conversamos", comenta a sobrinha, sem estender muito o assunto.
As cinzas de Yara foram jogadas pelos filhos na Baía de Guanabara, como uma espécie de reconciliação com o mar que a levou. Acaso ou destino, em 1974 Yara foi contemplada pela primeira vez com o Prêmio Molière por seu papel no espetáculo Réveillon.
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