JN: Bolsonaro mente e será responsável pelas 'consequências' do que faz
O Jornal Nacional de hoje fez um editorial criticando o presidente Jair Bolsonaro (PL) e as declarações dele sobre a vacinação contra a covid-19 em crianças. Mais cedo, em sua live semanal, ele afirmou que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é a "dona da verdade" e questionou a autoridade do órgão.
"As declarações do presidente sobre as mortes [de crianças] afrontam a verdade e desrespeitam o luto das mais de 300 vítimas", começou o âncora e editor-chefe William Bonner. "O presidente também desrespeita os técnicos da vigilância sanitária [...] O interesse da Anvisa está expresso na lei que a criou: defesa da saúde da população."
Renata Vasconcellos emendou: "Não é isso que o presidente tem feito ao ameaçar divulgar nomes de técnicos da Anvisa. O governo Bolsonaro retardou a decisão das vacinas e convocou uma consulta pública estapafúrdia, porque remédios não podem ser aprovados pelo público leigo, mas por cientistas."
Na sequência, em uma análise dura, Bonner afirmou que o presidente vai sofrer as consequências de seus atos. "O presidente é responsável pelo que diz, pelo que faz... Espera-se que venha também a ser responsável por todas as consequências daquilo que faz e diz", acrescentou.
Vale ressaltar que as eleições presidenciais estão previstas para outubro deste ano e, segundo dados recentes, Bolsonaro vem caindo nas pesquisas de intenção de voto.
Bolsonaro omite dados
Em entrevista a uma rádio de Pernambuco exibida nas redes sociais do presidente, Bolsonaro afirmou que não conhece crianças que morreram de covid.
A fala é mentirosa, já que dados das secretarias estaduais de Saúde mostraram que 301 crianças entre 5 e 11 anos morreram da doença no país até o início de dezembro. O presidente ainda disse, sem provas, que há interesses por trás na aprovação das vacinas pediátricas.
"Você vai vacinar teu filho contra algo que o jovem, por si só, a possibilidade de morrer é quase zero? O que está por trás disso? Qual é o interesse da Anvisa por trás disso? Qual é o interesse das pessoas taradas por vacina? É pela sua vida? Pela sua saúde? Se fosse, estariam preocupados com outras doenças, e não estão. Quando se trata de criança, não se deixe levar por propaganda", disse.
Bolsonaro considerou lamentável a decisão da Anvisa de autorizar a vacina e repetiu que sua filha Laura, de 11 anos, não será vacinada.
Já em sua tradicional live de quinta à noite, o presidente voltou à carga contra a imunização das crianças ao destacar que a Pfizer não vai se responsabilizar por eventuais efeitos adversos, e ainda pediu que os pais levem os filhos ao médico imediatamente caso tenham sintomas após serem vacinados.
"Se o teu filho, após a vacina, tiver qualquer problema, não responsabiliza a Pfizer. A Pfizer fez a vacina e está aí sendo testada — como a própria Pfizer diz — que tem certos efeitos colaterais que vamos tomar conhecimento ao longo de 2022, 23 e 24, por aí afora. Então a Pfizer não se responsabiliza por efeito colateral", disse ele, sem mostrar qualquer evidência que embase essas considerações.
SBP repudia declaração
Em uma nota de repúdio publicada após as declarações do presidente, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) disse que a população não deve temer a vacina, mas, sim, a doença que ela busca prevenir.
"A vacina previne a morte, a dor, sofrimento, emergências e internação em todas as faixas etárias. Negar este benefício às crianças sem evidências científicas sólidas, bem como desestimular a adesão dos pais e dos responsáveis à imunização dos seus filhos, é um ato lamentável e irresponsável, que, infelizmente, pode custar vidas", afirmou.
*Com informações da Agência Brasil e do Estadão Conteúdo
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