Mais de dois anos separam o final da primeira temporada de "Euphoria" do início da segunda, que aconteceu na noite de ontem na HBO e na HBO Max. A série estrelada e protagonizada por Zendaya voltou em ritmo de festa, sem perder o fôlego, a energia e o potencial de devastação que tanto marcaram a primeira temporada.
A própria estrela do show, aliás, alertou: o novo ano é ainda mais intenso que se espera. "Essa temporada, talvez mais do que a anterior, é profundamente emotiva e lida com assuntos que podem desencadear gatilhos e ser difíceis de se assistir", escreveu em uma publicação em seu Instagram.
E, a julgar pelo primeiro episódio, a jovem vencedora do Emmy não estava exagerando.
Para quem não se lembra...
No final da primeira temporada, vimos Jules (Hunter Schafer) embarcar no trem para a cidade, deixando Rue (Zendaya) desolada na estação — o que culminou em um número musical onírico que simbolizava a recaída da protagonista no mundo das drogas.
Durante o intervalo entre as duas temporadas, quando o retorno da série foi atrasado por causa da pandemia da covid-19, o criador Sam Levinson lançou dois episódios especiais -um focado em Rue e o outro, em Jules. O primeiro, "Trouble Don't Last Always", se passa durante a véspera de natal, e traz a personagem em uma conversa intensa com seu padrinho do Narcóticos Anônimos, personagem de Colman Domingo. Os dois falam sobre vício, mentiras e, é claro, sobre Jules.
Aqueles episódios, despidos de toda a pompa e das luzes estouradas que compõem a fotografia da série, deram lugar a duas personagens mais complexas e multifacetadas. Retirada a maquiagem fluorescente e o estilo que costuma ficar acima da substância, resta uma "Euphoria" muito menos eufórica, mas igualmente intensa.
Por isso, aquela hora que serviu para mostrar a vulnerabilidade dilacerante de Rue conta muito para o que vimos no novo capítulo, intitulado "Trying to Get to Heaven Before They Close the Door".
Cumprindo promessas
A segunda temporada começa contando a história prévia de Fezco (Angus Clud), mas não sem antes passar pelo velho e, a essa altura, já tradicional choque pelo excesso de nudez masculina. O que era o centro da discussão antes de a primeira temporada estrear agora é visto como um mero recurso narrativo —como deve ser.
A nudez masculina em "Euphoria" tem um ar ao mesmo tempo provocativo e banal. Provocativo porque vai na contramão do excesso de nudez feminina mais comum em produções de TV (e da HBO). E banal porque trata tais cenas como corriqueiras.
Neste sentido, existe um cuidado estético visível com luz e enquadramento que dá à nudez um status de obra de arte decadente: apesar da beleza das cenas, o contexto é sempre triste, quase ridículo.
Nas entrelinhas, o aparente recado é simples. Sam Levinson, que tanto empresta sua própria juventude a Rue, segue interessado em expor o quanto a masculinidade excessiva, para ele, é a compensação para alguma outra coisa.
No episódio, isso fica claro através da história de Fezco, que volta para cumprir a promessa feita a Nate (Jacob Elordi). Durante todo o episódio, ele tenta colocar na balança o que é bom e o que é ruim, sem encontrar uma resposta definitiva para o que vai levá-lo ao céu ou ao inferno. Ele busca respostas na avó, e depois em Lexi (Maude Apatow), mas nada do que elas digam soa decisório.
Fezco passa toda a festa de ano novo tentando decidir se o que está prestes a fazer é certo ou errado. Ele ainda não tem uma resposta quando decide seguir com o plano mesmo assim.
Nada de respostas fáceis
Essa falta de respostas concretas funciona como a maior arma a favor de "Euphoria". Considerando o fervor da adolescência de seus protagonistas, tal característica nunca deve estar fora de vista. Mas ela está impressa com ainda mais força na estreia da segunda temporada: ao reapresentar o público a todos os personagens, o episódio faz questão de destacar que eles estão em buscas frustradas.
Afinal de contas, todos ali estão atrás de alguém ou de alguma coisa durante a festa. Quando eles encontram o que queriam, o resultado não é tão explosivo ou catártico como toda a construção havia prometido. Isso vai do confronto que não existe entre Maddy (Alexa Damie) e Cassie (Sydney Sweeney) à reconciliação anticlimática de Rue e Jules.
De forma alguma isso faz da estreia da segunda temporada de "Euphoria" algo ruim. Pelo contrário, a força da série está justamente no fato de ela conseguir mostrar que, por baixo das maquiagens reluzentes e roupas chamativas, aqueles jovens são tão sem respostas como qualquer outro.
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