Karinah: 'Não quero ser conhecida como a bilionária, quero falar de música'
Desde que virou notícia pela compra da mansão de Xuxa no Rio de Janeiro, Karinah abriu mão de tentar esconder seu casamento ou a vida confortável que leva ao lado dos filhos gêmeos e do marido, o empresário catarinense Diether Werninghaus. O receio de ser vista apenas como uma mulher rica e fútil virou fôlego para a cantora falar cada vez mais de sua música e, ao mesmo tempo, decifrar o título de Rainha do Pagode.
Em entrevista a Splash, Karinah relembrou o início da carreira como revelação no programa "Ídolos" — quando ainda era conhecida como Karina Silva —. o impulso que ganhou após conhecer Ivete Sangalo, o ritmo de trabalho intenso mesmo na pandemia e o apoio que procura dar hoje a outras cantoras que, assim como ela, encontraram uma barreira machista no pagode.
"A gente precisa falar de música. Porque senão o meu marido vira o 'véio da lancha', a Karinah é a bilionária que só compra bolsa. E eu nem sou assim. Não sou consumista. O povo gosta desse auê todo."
Segurando a onda
O título de Rainha do Pagode não tem relação apenas com a música. Com sua própria empresa, a K2D Produções, Karinah buscou movimentar o mercado enquanto ainda não era possível retomar os shows por causa da pandemia.
"Durante a pandemia tive que segurar um pouco o setor ao meu redor. Ajudei muita gente, mas não com dinheiro. Todo mundo acha que eu posso fazer o que quero. Não. Sempre fui muito justa com as pessoas e comigo", explica Karinah.
Para não deixar músicos e estafe parados, Karinah tocou projetos e aproveitou para gravar mais um disco, voltando às suas raízes no samba. "Fiz projetos para dar demanda para músicos e artistas que precisavam. Seguramos a onda de muitos artistas e ainda hoje estamos segurando. É uma troca de trabalho. A gente ajuda, depois soma com shows, e vai se ajudando."
Além disso, Karinah botou o dedo no telefone e contou com a ajuda de amigos e da família para arrecadar toneladas de alimentos durante o auge das lives. Ela chegou a participar de duas delas como convidada de Alcione. Recentemente, lançou uma música com a cantora que é não apenas uma referência, mas também sua amiga.
"Sou carinhosamente apelidada de Rainha do Pagode não é só porque eu sou uma mulher brigona no segmento. A gente que é considerada rainha tem uma missão de cuidar do seu povo. De cuidar de tudo ao seu redor", resume a cantora.
Mulheres no topo
Um dos projetos é o "K Entre Nós", que inclusive já está gravado. Financiado pela empresa de Karinah, o show reuniu 27 mulheres entre musicistas e artistas que interpretaram 37 canções desde Chiquinha Gonzaga até o pagode romântico dos anos 1990 e 2000, com arranjos mais modernos.
Karinah gravou o show "K Entre Nós" no mesmo estúdio onde é feito o "Música Boa", do Multishow, já pensado em algo para ser exibido na TV. Ela tenta viabilizar a exibição.
Com mulheres da nova geração do pagode e cantoras consagradas, Karinah quer abrir mais oportunidades e já viu resultados. Batendo na porta do escritório de amigos, após o projeto ela conseguiu emplacar mulheres em projetos de outros grupos, bandas e quer mais.
"Daqui a muito tempo quando alguém buscar algo sobre cantoras de pagode, mulheres no samba, esse projeto com certeza vai ser uma referência", acredita a cantora. Para ela, o sucesso vai além de emplacar músicas nas rádios. "O sucesso é você fazer a diferença na vida das pessoas e ser lembrado por algo de bom."
"Danada de braba"
Karinah cresceu em Joinville, em Santa Catarina, bem longe do Rio de Janeiro, considerado o berço do samba. Mas o ritmo era muito ouvido por sua família, natural de Minas Gerais. E foi com Clara Nunes que a menina sambou pela primeira vez.
Depois de vencer concursos por SC e anos cantando em barzinhos do estado, ela foi para o "Ídolos", em 2006, e a partir daí começou a ganhar visibilidade. Convidada para abrir um show de Ivete Sangalo, foi apresentada a Letieres Leite, que a incentivou a ir para a Bahia. E, depois, migrou para o Rio atrás dos bambas.
"Não nasci no morro, não era carioca. Como é que alguém vai dar credibilidade para uma cantora do sul falando 'tu'? O não eu já tinha", lembra Karinah sobre essa época. Ela acabou abraçada pelos sambistas e diz ter rodado todas as rodas de samba do Rio de Janeiro ao lado de Arlindo Cruz. Na mesma época chegou a se apresentar no Festival de Montreux, na Suíça.
Foi quando Karinah tentou migrar para o pagode que ela encontrou a resistência que achava que teria no samba. "Esse mercado sim é machista. É um mercado que não abria as portas de jeito nenhum. Cheio de armadilhas. Eu perdi tempo, perdi dinheiro. Era uma malandragem atrás da outra."
Uma das situações que mais marcou a cantora envolveu um figurão que ela prefere não nomear. "Essa transição para o pagode foi muito importante porque foi uma luta intensa de nãos, de deboches... Uma vez estava em um camarim e escutei de um empresário muito renomado: 'Sabe o que mais eu admiro nas mulheres? É que elas não desistem nunca.' A resposta foi imediata: 'É por causa de gente como você que eu estou aqui toda motivada a continuar.'"
Karinah admite que seu marido já tentou convencê-la a pisar no freio, mas sua vontade de mudar o mercado do pagode feminino não deixa. "Meu marido diz: 'Meu amor, você não precisa disso, minha linda'. Eu digo: 'Não, eu preciso sim. Vai querer que eu fique em casa comprando bolsa, viajando para Miami? Tá maluco? Eu preciso fazer alguma coisa para mudar isso aí'."
A ideia de Karinah é que, em alguns anos, o "femigode" ganhe a mesma força que as mulheres conseguiram com o "feminejo" em um meio musical ainda mais machista que o pagode. Ela vê Marília Mendonça e Maiara e Maraísa, as Patroas, como inspiração.
Se deu certo com elas, por que não vai dar certo com a gente? E eu sou forte, sou danada de braba.
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