Linn da Quebrada já explicou seu corpo político em filme premiado em Berlim
- ...acreditar no talento dele.
- Dele quem?
- Dela.
- Ó, eu vou tatuar na minha testa "ELA", pra senhora não esquecer.
- Aí ela tem que falar assim: "Eu sou eu. Eu me amo".
O diálogo acima acontece entre Lina Pereira, ou Linn da Quebrada, e a mãe dela, Dona Lilian, em uma cena do documentário "Bixa Travesty" (2018). Lembra-se da história de algum lugar?
Esta é a mesma explicação que a cantora e atriz deu a Tadeu Schmidt no último domingo (23), quando o apresentador do "BBB 22" perguntou a ela por que tatuou o pronome pelo qual prefere ser chamada — após muitos dos colegas de confinamento terem errado.
Antes do reality, Lina já havia explicado seu corpo político e como se relaciona com sua identidade de gênero em "Bixa Travesty". O documentário, dirigido por Kiko Goifman e Claudia Priscilla, e escrito pela dupla junto à própria Linn, mostra sua trajetória dentro do mundo da música.
"Bixa Travesty" retrata como Linn da Quebrada ganhou relevância na cena musical e defende a causa de travestis e transexuais, denunciando uma "cultura falocêntrica" que tenta romper junto a outras artistas. Liniker e Jup do Bairro também estão na obra e contam sobre suas próprias trajetórias e dificuldades pelas quais já passaram e, às vezes, ainda passam.
Festival de Berlim
Exibido no tradicional Festival de Berlim no ano de 2018, o filme fez parte da mostra Panorama e foi premiado como melhor documentário no Teddy Awards -premiação do festival que consagra obras de temática LGBTQIA+. Na ocasião, outro filme brasileiro foi premiado no Teddy como melhor ficção: o drama "Tinta Bruta", de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon.
"Mais do que encarar a divisão dos corpos entre dois sexos, eu prefiro acreditar em N sexos. Existem tantos sexos quanto existem corpos. E essa maneira 'uniformizante' e massificante de encarar os sexos acaba sempre nos limitando e reduzindo um aspecto muito plural do que nós podemos ser", explicou Linn na época da estreia do filme na capital alemã.
Por isso, os estereótipos de gênero e corpos são desconstruídos de forma provocativa no filme de 1h14, disponível no Globoplay dentro do catálogo do Canal Brasil. Em um diálogo com Jup do Bairro, ela confessa:
Eu queria que as pessoas olhassem para mim e não tivessem dúvida de que eu não sou um homem. Mesmo que elas não soubessem exatamente quem eu sou, olhassem para mim e vissem que eu não pareço um homem.
Na contramão
No filme, Linn debate também estereótipos de feminilidade e conta que não precisa atendê-los para ser vista como uma.
"Eles acham que nós deveríamos curvar a nossa cabeça e então atender a essas expectativas. Então, se você quer ser mulher, tenha peito. Se você quer ser mulher, não tenha pelos. Se você quer ser mulher, seja magra. Então, se você quer ser mulher, no mínimo, você tem que atender às expectativas do que é ser mulher. E não necessariamente. Pode até ser, se você quiser, né."
Enquanto o corpo de Linn constitui um ato político, o filme mostra que tudo em sua vida passa pelo fluxo criativo através do qual enxerga a si mesma e a necessidade de se apropriar de espaços que tentam invisibilizar corpos como o seu. Por isso, ela declara:
"É até político se amar. É um dever meu ser feliz, é um dever meu ter dignidade, estar contente com a minha vida. Nós, enquanto travestis, mulheres pretas, travestis brancas e bichas, sapatão, bicha travesti. É um dever nosso estar bem, ser feliz, ser amadas. Para isso que eu vivo mesmo."
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