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Matrix 4 'pega de volta' o que era usado pela extrema-direita, diz atriz

"Matrix 4" chega às plataformas digitais e à HBO Max nesta sexta-feira - Divulgação/ Warner Bros
'Matrix 4' chega às plataformas digitais e à HBO Max nesta sexta-feira Imagem: Divulgação/ Warner Bros

Fernanda Talarico

de Splash, em São Paulo

28/01/2022 04h00

Pegar uma ideia, uma luta e modificar o sentido. Alguns grupos de extrema-direita utilizaram essa receita e se apropriaram da metáfora usada por Matrix. Reverter essa situação é uma das missões de "Matrix Ressurrections", o novo filme da franquia, dirigido por Lana Wachowski.

Em entrevista a Splash, Eréndira Ibarra, atriz debutante na saga e que interpretou Lexy no novo longa, acredita que "Matrix Resurrections" foi lançado no momento certo, pois era preciso "ter o controle" novamente da história criada por Lana e a irmã Lily nos anos 1990.

Segundo ela, grupos de extrema-direita começaram a usar as referências e metáforas da franquia de maneira errada.

O novo filme pega de volta a narrativa. Por muito tempo, 'Matrix' e a pílula azul e a vermelha se tornaram uma espécie de meme para a ultra direita. Eram pessoas que não acreditam na diversidade e usavam isso a metáfora das pílulas a favor deles, mas não é.

Na saga, ao tomar a pílula vermelha, Neo decide viver fora da Matrix. Já a azul daria a ele a oportunidade de continuar vivendo uma vida falsa, dentro da simulação.

Em maio de 2020, o bilionário Elon Musk fez uma publicação no Twitter dizendo para que as pessoas "tomassem a pílula vermelha". Ivanka Trump, filha do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, compartilhou e disse "tomei!".

Na época, Lily Wachowski não gostou que sua criação fosse usada pelos dois e respondeu: "Vão vocês dois se f***r".

"Esta produção deixa claro o que a Matrix faz: pega o que é mais importante para você, o motivo pelo qual você luta, e usa como arma contra você", diz Ibarra. "É como a ultra direita faz com o feminismo também. Se falamos sobre nossas histórias, elas são usadas contra nós, é isso que a Matrix que vivemos faz. Pega ideias e lutas, como a do Vidas Negras Importam e transforma em uma marca, vende camisetas, e tira toda a luta por trás disso."

E o que eu mais amo neste filme é isso: ele pega a narrativa de volta.

Volta Para Casa

Esta não é a primeira vez que Eréndira Ibarra trabalha ao lado de Lana Wachowski. A atriz também esteve no elenco de "Sense 8", série de ficção científica da Netflix criada e dirigida por Lana e Lily Wachowski.

Eréndira Ibarra em pôster de Matrix - Divulgação/ Warner Bros - Divulgação/ Warner Bros
Eréndira Ibarra em pôster de Matrix
Imagem: Divulgação/ Warner Bros

Para Ibarra, voltar a trabalhar com a cineasta teve a sensação de "voltar para a casa e para a minha mãe". "Eu a considero não apenas uma bela amiga, mas também como uma figura materna", conta a Splash.

"Ela me ajuda na vida criativa e me ajuda a ser uma artista e pessoa melhor. Ela realmente me motiva a não responder aos estímulos da maneira que eu sempre faço e procurar maneiras diferentes."

Em resumo, se Lana me mandar voar e eu não souber como, vou dar um jeito de aprender.

No entanto, Lily Wachowski não esteve envolvida na produção de "Matrix Resurrections", fato que, segundo Ibarra, a enche de saudades. "Eu sinto falta da Lily, e faz tempo, porque ela já não estava conosco nas últimas parte de 'Sense 8'. Mas ela esteve o tempo todo de coração e alma."

Adeus, Impostor

A franquia "Matrix" é bastante conhecida por ter inovado o cinema não apenas pela sua temática, mas também pelo uso de seus efeitos especiais. Para a atriz, o longa foi um desafio, afinal não estava acostumada com cenas de luta.

"A mais difícil delas foi a que aconteceu em um trem bala, logo no começo do filme. Eu não sabia que poderia fazer uma sequência tão longa", conta a artista.

"Este trabalho curou a minha síndrome do impostor, apenas por saber que Lana acredita em mim e que posso fazer todas aquelas coisas malucas que nunca pensei que poderia fazer. Ela curou a parte da minha alma que achava que eu não era boa o suficiente ou preparada para isso."

Para viver Lexy e ser capaz de fazer todas as acrobacias necessárias, Ibarra tinha seu corpo escaneado diversas vezes pela equipe de efeitos especiais. "Todos dias, eu entrava em um caminhão com umas 100 câmeras. Eu até brincava com o pessoal que eles não precisavam mais de mim."

Mas, mesmo com muita tecnologia envolvida, Lana Wachowski também usou diversos efeitos práticos durante as filmagens. "Fazíamos truques de câmera ao invés de usarmos apenas efeitos digitais. Ela voltou ao estilo que usávamos mais em 'Sense 8', uma coisa meio irmãos Lumiére."

Muitas das explosões aconteceram, além de Keanu e Carrie-Anne terem realmente pulado de um prédio de 40 andares, sem muitos efeitos.

Ela conta que entre as suas cenas favoritas de "Matrix Resurrections" está a que Neo (Keanu Reeves) vai ao encontro de Tiffany (Carrie-Anne Moss) e começa a conversar com o Analista (Neil Patrick Harris), que explica o funcionamento da nova Matrix. "Tecnicamente falando, é extraordinário. Foi filmada com mais de 60 câmeras, em diferentes velocidades."

"Gosto também de quando Neo acorda pela primeira vez no mundo real e percebe que sua vida inteira foi transformada em um jogo. É quando ele percebe o que a Matrix faz: agarra o que é mais importante para nós e transforma em uma arma."

"Matrix Resurrections" está disponível na HBO Max e pode ser alugado ou comprado nas plataformas digitais.