É 'Novela', mas é série: Monica Iozzi quer 'destacar mulheres' em comédia
Qual produto audiovisual poderia ser mais brasileiro do que uma novela? De "Pantanal" a "Amor de Mãe", o formato de folhetim, popular desde a era do rádio, segue firme e forte como uma evidência de que, tanto na vida quanto na arte, tudo se transforma.
Afinal de contas, elas parecem evoluir com os meios. Das páginas de revistas e jornais, migraram para as plataformas de radiodifusão. Dali, foram adaptadas para a televisão, um meio no qual prosperaram, ganharam vida própria e foram exportadas para centenas de países.
Agora, chegou a vez do streaming.
Mas como mantê-las atraentes para um público cada vez mais sem tempo e habituado a programas curtos?
Para a Amazon, a resposta vem com "Novela". Que, na verdade, é uma série.
A comédia, encabeçada por um time veterano que conta com João Falcão, Monica Iozzi, Marcello Antony e Miguel Falabella, conta a história de Isabel (Iozzi), uma promissora roteirista que dedicou sua vida a se tornar autora de uma novela do horário nobre.
Quando finalmente chega a hora de brilhar, ela é traída por seu mentor, Lauro (Falabella), um autor bem estabelecido, mas fora de forma, que aproveita a oportunidade para emplacar seu próprio sucesso. Na estreia da atração, quando Isabel decide enfrentá-lo, ela acaba entrando na novela como protagonista.
Agora, terá de viver dentro da ficção.
Entre o real e o fantástico
Para Monica Iozzi, que está no projeto desde o começo, ver a série tomando forma é particularmente especial. Em conversa com Splash no set de filmagens, no Rio de Janeiro, a atriz contou que foi atraída para a produção justamente pela mescla de elementos.
"Eu gosto desse tipo de brincadeira, da minha personagem ser uma mulher que sai da vida real e de repente mergulha no universo fantástico. Acho que ainda temos pouco disso no audiovisual brasileiro, sinto um pouquinho de falta."
Segundo Monica, essa mistura de elementos reais e de fantasia, como muito vista em fábulas e tramas lúdicas, gera um estranhamento no público justamente pela falta de hábito. Para ela, é algo que pode — e deve — ser quebrado.
"Existe um estranhamento que vem de produzirmos pouco disso. É como um ciclo vicioso. Não fazemos muito, as pessoas não estão acostumadas, e continuamos não fazendo muito porque as pessoas não estão acostumadas. Então, certo estranhamento é natural. Acontece ainda quando as pessoas veem um filme brasileiro de terror. Nosso cinema ficou adormecido por décadas, e aí, quando ele finalmente começou a voltar, mataram a Ancine. Agora, se quer voltar de novo..."
Florescemos lindamente nos últimos 20 anos, e agora temos uma nova dificuldade. Durante muito tempo, nossa produção foi pequena. Então, é difícil abranger muitos gêneros.
Monica Iozzi, atriz
Paixão universal
Ainda que, para as gerações do TikTok e vídeos curtos, acompanhar uma novela com mais de uma centena de capítulos (e cada um deles com quase 60 minutos de duração) pareça uma tarefa árdua, o apreço do público pelos folhetins vem de um lugar de carinho. Para muitos, elas fazem parte da rotina desde a infância.
Apesar de tradicionalmente apresentarem muitos núcleos, as tramas costumam ser acessíveis e o desenvolvimento das mesmas acontece de forma gradual. Isso facilita muito a retomar o ritmo depois que você perdeu um capítulo ou outro e volta meio perdido.
"Durante décadas, as novelas foram realmente o principal produto audiovisual brasileiro, a nossa cultura", pontua Iozzi. "Assim como a minha personagem, eu cresci vendo novelas. Quis ser atriz porque eu tinha essa referência na minha infância. Agora, estamos no momento em que todo mundo quer entender, é um momento de virada de chave na história."
O momento de transformação
Para a atriz, não existe uma resposta certa quando a pergunta é como produzir novelas para o streaming. No entanto, ela acredita que a vontade de levar o formato para o 'on demand' tem um ponto de vista estratégico.
"Eu sei que existe uma vontade muito grande das plataformas aqui no Brasil de começar a produzir novelas. Isso ainda não aconteceu (...), e eu não faço ideia de como o público vai receber isso."
Até pouco tempo atrás, o público do streaming ainda era muito jovem. Agora, as coisas estão mudando, temos públicos de todas as idades e gostos. As plataformas sabem disso e querem diversificar esse leque.
Mesmo assim, Monica confessa não ter a resposta para o que chama de "a pergunta de 1 milhão de dólares". Como as novelas vão se adaptar ao streaming, ou vice-versa? Por enquanto, tudo o que sabemos é que muitas companhias estão em busca da solução.
"Hoje, vimos empresas como a Globo, que sempre tiveram um foco muito grande em TV aberta, investindo no streaming. Vimos gigantes como a Amazon chegando ao Brasil e fazendo produtos de qualidade. A nossa série é um grande investimento da Amazon, de querer produzir coisas boas do Brasil para o Brasil."
Novela, a série
Durante a visita ao set de filmagens, Splash pôde acompanhar uma cena da série, em que a personagem de Monica contracena com o mocinho da novela e tem sua visão sobre amor romântico confrontada.
"A Isabel é uma pessoa que não acredita no amor. Ela acha que o amor na vida real é muito sem graça, e geralmente causa dores e desilusão. De repente, nessa vida ficcional, ela vê o que pode ser um amor verdadeiro. Ela se questiona o que é o amor de novela, que é algo que ela gostaria que existisse na vida real."
Na cena, Isabel está com um amigo, e os dois acabam afogando as mágoas juntos após algumas bebidas.
"Na vida real, a Isabel é uma pessoa muito livre. Ela fica com que ela quer, leva o cara para casa e depois fala 'Obrigada, amor, foi ótimo e até a próxima'. Isso também é muito interessante porque a gente não costuma ver muitas personagens femininas assim."
'Lugar de mulher'
Mesmo que mergulhe no universo da fantasia, com toques de "Alice no País das Maravilhas", a série busca um diálogo com as vivências de mulheres em ambientes de trabalho.
"Tem uma coisa de ela se sentir subjugada por uma figura masculina que está acima dela, e isso conversa com as histórias de muitas mulheres", pontua Monica.
"Quantas mulheres, de artistas a cientistas, não tiveram seus trabalhos roubados por homens, fosse pelo marido, fosse pelo chefe? Quantas mulheres que teriam ganhado um prêmio Nobel, por exemplo, e que tiveram suas pesquisas usurpadas e nunca receberam nada?"
A atriz acredita que tratar destes assuntos no audiovisual ajuda a romper um obstáculo e trazer visibilidade para as lutas feministas — das quais artistas não estão isentas.
"Isso acontece demais, ainda mais nesse mundo do entretenimento. Por mais que saibamos que é um universo bom, sempre tem esse tipo de coisa. A gente vê com muita frequência. Acho que isso acontece em todas as áreas. Mas, na nossa área, acaba tendo mais visibilidade. E então, quando fazemos o movimento, alcançamos mais pessoas. Mas acontece em todo lugar."
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