Porrada e bomba: como série de 'Reacher' tenta fugir de ser 'caça-níquel'
Uma série de livros bem-sucedida, duas adaptações cinematográficas não tão bem-sucedidas assim e, agora, uma série de TV que tenta consertar as falhas dos filmes — principalmente aquelas relacionadas à altura do protagonista.
Mas será que o mundo está preparado para (ou necessitado de) mais um Jack Reacher?
Nova produção já no Prime Video, "Reacher" adapta os livros de Lee Child, uma saga campeã de vendas com 26 romances já publicados. As tramas, recheadas de ação e perseguições, fazem sucesso devido à postura do protagonista — que é um pouco inspirado em seu próprio autor.
Na série, Jack Reacher é um veterano do exército e investigador da polícia que acabou de retornar à vida civil. Carregando apenas o mínimo necessário para sobreviver (o que não inclui um celular), ele viaja pelos Estados Unidos para desbravar o país a que serviu.
Quando ele chega à pequena cidade de Margrave, na Georgia, encontra uma comunidade lidando com o primeiro homicídio em 20 anos. Os policiais imediatamente o prendem, após testemunhas afirmarem tê-lo visto no local do crime.
Enquanto trabalha para provar sua inocência, o homem acaba descobrindo uma grande conspiração que vai exigir todos os seus esforços mentais.
Simplicidade em primeiro lugar
Embora Jack Reacher já tenha sido vivido por Tom Cruise em dois filmes, a história da série não tem uma conexão direta com os longas. Aqui, são outros livros sendo adaptados, outro ator vivendo o protagonista e outro time criativo envolvido na produção.
Para o showrunner, Nick Santora, um veterano de televisão que já trabalhou em séries como "Prison Break" e "Law & Order", a produção seriada é uma oportunidade para o público ver outros lados do personagem, não vistos nos livros ou nos filmes.
"Os filmes eram bons, mas você fica limitado a duas horas", reflete o diretor-geral, em entrevista a Splash.
"Eu acreditava que as pessoas hoje, com vidas tão complexas, se sentiriam atraídas por um personagem que tem a vida menos complicada no mundo. Ele apenas anda por aí e faz o que quer com duas ou três coisas no bolso. Ironicamente, ele se mete em situações extremamente complicadas, mas não é o seu objetivo", brinca.
Child concorda. Para ele, o streaming é a melhor casa para receber adaptações de suas histórias.
"Temos uma temporada inteira para contar uma história, e isso é muito atraente para um escritor porque significa que dá para incluir tudo, o contraste, o claro e o escuro, o barulhento e o quieto. É possível ter dimensões, porque temos o luxo do tempo."
Aos 67 anos, o escritor inglês ainda pondera: ele acredita que a televisão e o "on demand" seriam as melhores escolhas para qualquer autor.
Quando eu comecei, essa opção não existia. Eram livros ou filmes. Se a TV e o streaming existissem como hoje, acho que nenhum novelista, em qualquer momento da história, teria preferido outro formato. É mais natural ter oito horas para contar uma história em vez de duas.
Lee Child, autor
Novidade ou 'mais do mesmo'?
De "Pânico" a "Matrix", passando por "Gossip Girl", "Rebelde" e "Um Maluco no Pedaço", refilmagens e continuações de histórias já estabelecidas no cinema e na TV parecem uma onda que chegou e não vai embora.
Ainda que tentem cativar o público pela nostalgia, alguns desses "reboots" se vestem de ironia para criticar essa falta de inventividade de Hollywood com histórias originais. É o caso até mesmo do novo "Pânico" e de "Matrix Resurrections".
Neste sentido, Lee e Santora defendem a legitimidade da nova obra. O escritor enxerga que existe um problema com novas histórias dentro do universo cinematográfico, mas acredita que a TV e o streaming são vias de solução.
"Para o sistema tradicional de Hollywood, contar novas histórias é um risco financeiro. Elas custam uma fortuna. Se estamos falando de fazer as coisas da maneira correta, estamos falando de milhões de dólares, e são grandes quantias de dinheiro a perder se não der certo."
Ele continua:
"Por isso, a tentação é escolher algo que você meio que sabe que vai funcionar. Reduz o risco da pressão econômica."
Com televisão, é diferente. Não estou dizendo que é barato para fazer, porque não é, mas existem mais opções. Hoje, a TV atinge uma audiência maior, e por isso é possível experimentar mais, ser mais aventureiro.
Lee Child
Santora, que tem o projeto em mãos, é bem objetivo em sua resposta. Para ele, o público não se deixa ser enganado.
Quando alguém está refilmando algo e a coisa toda é simplesmente um caça-níquel do estúdio, o público vai perceber.
Nick Santora, showrunner
"Com 'Reacher', estamos contando uma história que nunca foi contada antes, é um livro que não foi adaptado, e há dezenas deles que Lee Child escreveu. Se chegamos ao ponto de pegar os filmes e transformá-los em série, teremos que conversar para entender como fazê-los de forma diferente."
Os oito episódios de "Reacher" estão disponíveis no Prime Video.
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