'Inventando Anna': Quem é a jornalista que inspirou personagem Vivian Kent
Em "Inventando Anna", a atriz Anna Chlumsky vive a repórter Vivian Kent, que trabalha na revista fictícia "Manhattan". Na história, é ela quem busca saber quem foi Anna Delvey (Julia Garner) e contar ao mundo como a imigrante russa enganou toda a elite financeira e cultural da maior metrópole do mundo, fingindo ser uma herdeira alemã.
Porém, na vida real, as coisas são um pouco diferentes, e a repórter que foi atrás de descobrir quem era a farsante atende por outro nome: Jessica Pressler.
Hoje aos 44 anos, Pressler nasceu em Massachusetts e esta não é a primeira vez que uma história escrita por ela ganha uma adaptação para o cinema.
A primeira vez, na verdade, não foi há muito tempo, e veio na forma do drama criminal "As Golpistas" (2019). Escrito e dirigido por Lorene Scafaria, o filme conta a história da ex-stripper Ramona (Jennifer Lopez), que consegue enganar seus clientes e virar o jogo para si em meio à crise imobiliária que abalou Wall Street em 2008.
De 'As Golpistas' à outra golpista
O longa, exibido no Festival de Toronto de 2019, já apresentava outra versão fictícia de Pressler, na personagem de Elizabeth (Julia Stiles), que é quem ouve a história contada por Destiny (Constance Wu).
Em "Inventando Anna", a revista "New Yorker" é transformada na revista "Manhattan", e Jessica Pressler se torna Vivian Kent, que vive ao mesmo tempo dois dilemas: o primeiro é a sua gravidez. O segundo é o fato de não estar em seus melhores momentos profissionais.
Na vida real, Jessica Pressler se tornou co-editora do blog "Daily Inteligencer", da "New York Magazine", em 2007. Antes disso, havia trabalhado com jornalismo de celebridades como freelancer para uma revista da Filadélfia. Para a "NY Mag", ela escreveu muito sobre a cultura do luxo e da riqueza, e assim foi ganhando destaque e reputação em meio à elite financeira de Wall Street.
Em 2014, veio o caso que marcaria sua carreira de forma negativa —e que é dramatizado na série da Netflix.
Pressler escreveu o perfil de um estudante do ensino médio que alegava ter acumulado uma fortuna de US$ 72 milhões (R$ 378 milhões) apostando na bolsa de valores. Depois da matéria publicada, a farsa foi revelada: nada daquela história era verdade.
Na ocasião, ela havia recebido uma proposta para trabalhar na unidade investigativa da "Bloomberg", um veículo voltado para o mercado financeiro. Depois que o estudante confessou que a história era falsa, a oferta foi desfeita, e a repórter precisou nadar contra a maré para reconstruir seu nome.
Entre a farsa e a fama
Embora na série da Netflix a virada na carreira de Kent venha por meio de Anna Delvey, a trama de Pressler se transformou depois que ela se deparou com a história das strippers que conseguiram ganhar dinheiro quando todos os investidores de Wall Street perdiam.
Em 2015, ainda na "New York", a repórter publicou o artigo que seria transformado no seu primeiro filme. Intitulada "The Hustlers at Scores" (algo como "As Golpistas marcam pontos", em tradução livre), a reportagem revelava como as dançarinas de um clube em Nova York usaram a influência sobre seus clientes para manipulação e para ganharem dinheiro. A história teve os direitos de adaptação adquiridos pela produtora de Will Ferrell em 2016, e ganhou o mundo em 2019.
Em junho de 2018, ela publicou a história sobre Anna Sorokin, condenada por crimes de fraude e grandes e pequenos furtos. Curiosamente, a jornalista só chegou à história de Anna graças à dica que recebeu do fotógrafo de tribunal Steven Hirsch quando estava fazendo sua pesquisa para a história de "As Golpistas". Quando aquela sua adaptação começou a ser rodada, o julgamento de Anna foi aberto, assim como a sala de roteiristas para o que é hoje a minissérie da Netflix.
O artigo, material de uma longa investigação e inúmeras entrevistas, colocou ambas em destaque, e a matéria repercutiu positivamente dentro do meio jornalístico. Os direitos de adaptação foram adquiridos pela Shondaland, o que deu origem à série. Para Pressler, era importante que a adaptação ouvisse com respeito e tivesse responsabilidade com as outras pessoas envolvidas no caso.
Atualmente, Pressler no cargo de repórter da "New York Magazine", e é creditada como produtora da série e autora da história original. Em entrevista para a Shondaland, ela contou que não quis se envolver diretamente na adaptação.
Acho que é importante para um escritor estar envolvido ou ser parte de algo inspirado em seu trabalho, mesmo que não seja parte do processo criativo. Eu não me envolvi no dia-a-dia de 'Inventando Anna', mas a porta sempre esteve aberta de ambos os lados.
Jessica Pressler, repórter
O que é verdade e o que é mentira
Pressler contou também que, durante a apuração de sua matéria, ela não tinha um mural na parede —muito menos no quarto de seu bebê.
Gostaria de ter tido. Fiquei com um pouco de inveja de Vivian.
Ela conta que, diferentemente de Vivian, também não perdeu nenhuma consulta no médico ou ultrassom.
"As linhas temporais são um pouco diferentes, e a forma como a investigação ocorre, também. Partes são reais, outras são completamente inventadas. Em muitas das entrevistas, os personagens estão dizendo exatamente o que as pessoas disseram para mim, mas a situação é diferente."
Pressler sobre Anna
Depois de ter mergulhado tão fundo na ideia de quem é Anna Sorokin, Jessica afirma que ainda não tem uma opinião concreta sobre quem ela realmente é.
"No jornalismo de revista, eu realmente acredito que temos o direito a uma opinião. Dito isso, acho que não tenho uma opinião completamente formada sobre ela. Tenho essa experiência, e acho que muitas pessoas vão se identificar assistindo à série, de ir e voltar entre 'Essa é uma pessoa terrível' e 'Essa é apenas uma garota doce, ela é normal'. É assim desde que a conheci. Ainda não decidi se a considero brilhante ou se ela apenas estava no lugar certo, na hora certa e com um pouco mais de tolerância a situações desconfortáveis."
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