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Príncipe Andrew: acordo que superaria R$ 84 mi gera revolta no Reino Unido

Príncipe Andrew está recebendo duras críticas da imprensa britânica por acordo milionário para evitar investigação - Max Mumby / Indigo / Getty Images
Príncipe Andrew está recebendo duras críticas da imprensa britânica por acordo milionário para evitar investigação Imagem: Max Mumby / Indigo / Getty Images

De Splash, em São Paulo*

16/02/2022 14h01Atualizada em 16/02/2022 14h01

O acordo confidencial anunciado entre o príncipe Andrew — filho da rainha Elizabeth 2ª — e Virginia Giuffre, a americana que o acusou de agressão sexual quando era menor de idade, para evitar julgamento, superaria 12 milhões de libras, cerca R$ 84 milhões na conversão para o real, o que está gerando revolta no Reino Unido. As informações são da imprensa britânica, que não o poupou de duras críticas.

O príncipe Andrew está "acabado" e deveria viver em "ignomínia", afirma o tabloide The Sun ao informar o suposto valor do acordo. Os advogados de Virginia Giuffres, a americana que o acusou de abuso sexual quando ela tinha apenas 17 anos, anunciaram ontem que as partes alcançaram um acordo financeiro confidencial que permite a Andrew, de 61, escapar da vergonha de um processo.

E agora aparece a questão de quem pagará a conta elevada. De acordo com a imprensa britânica, Andrew poderia vender seu luxuoso chalé suíço por 18 milhões de libras (R$ 125 milhões), mas ainda teria que pagar uma dívida significativa por esta aquisição, feita em 2014.

O jornal conservador Daily Telegraph afirma que a rainha Elizabeth II deve contribuir para o pagamento com uma parte de seus recursos.

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Prince Andrew, a vítima Virginia Roberts Giuffre e Ghislaine Maxwell, que seria cúmplice de Jeffrey Epstein
Imagem: Divulgação/Netflix

Virginia, de 38 anos, é uma das vítimas do bilionário americano Jeffrey Epstein. Declarado culpado de pedofilia por um tribunal da Flórida, ele cometeu suicídio em uma prisão de Nova York em 2019, quando aguardava um novo julgamento por tráfico e abuso de menores.

A amizade de Andrew com o empresário, que ele defendeu em uma controversa entrevista à rede BBC em novembro de 2019, provocou um escândalo que já havia obrigado o filho de Elizabeth II a abandonar a vida pública.

Em agosto do ano passado, Virginia Giuffre acusou-o de ter abusado sexualmente dela em Londres, Nova York e nas Ilha Virgens, após a mediação de seu amigo. À época, ela tinha 17 anos.

O filho da rainha sempre negou as acusações e disse que se defenderia. No início de janeiro, anunciou que compareceria "voluntariamente" para prestar depoimento em março, em Londres, diante dos advogados da americana.

Provavelmente por este motivo, a imprensa sensacionalista britânica, sempre implacável com a família real britânica, mostrou-se extremamente irritada com o acordo extrajudicial.

"Um homem verdadeiramente decidido a limpar seu nome de acusações tão atrozes teria lutado com unhas e dentes [...] e depois, em caso de vitória, teria tentado reconstruir sua vida", afirma um editorial do The Sun.

"Andrew está acabado", completa o jornal, ao afirmar que ele "deve abandonar por completo a vida pública e viver sua aposentadoria em ignomínia".

Investigação na fundação de Charles

Para o advogado britânico Mark Stephens, especialista em questões de reputação do escritório londrino Howard Kennedy LLP, "a maioria das pessoas vai observar com espanto o pagamento por danos e prejuízos a alguém que o príncipe Andrew diz nunca ter conhecido". Segundo ele, o filho da rainha "preservou, em certa medida, a dignidade da família real [...] mas acredito que nunca voltará à vida pública", afirmou à AFP.

Elizabeth II desejava encerrar um escândalo especialmente embaraçoso para a família real no ano em que celebra o Jubileu de Platina - 70 anos de reinado -, com uma campanha que pretende reavivar o amor dos britânicos pela monarquia. Para proteger a instituição, Andrew perdeu suas honras e títulos militares em janeiro e não pode mais usar o título de Alteza Real.

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Príncipe Charles
Imagem: Getty Images

Mas os escândalos não param na família real: hoje a polícia britânica anunciou a abertura de uma investigação sobre a fundação do príncipe Charles, filho mais velho da monarca e herdeiro do trono britânico, as quais teriam sido feitas em troca da concessão de títulos honorários.

"Esta decisão é consequência da análise de uma carta de setembro de 2021. Está relacionada com matérias da imprensa sobre supostas ofertas de ajuda para garantir honras e cidadania [britânica] a um cidadão saudita", explicou a Scotland Yard em um comunicado, acrescentando que ninguém foi detido.

Os investigadores entraram em contato com "pessoas suspeitas de terem informações relevantes", assim como com a Fundação do Príncipe, que "forneceu uma série de documentos". Este escândalo veio à tona no ano passado e afetou a imagem do herdeiro do trono.

E, embora o caso não envolva diretamente o herdeiro do trono, de 73 anos, suspeita-se de que seu ex-ajudante de ordem Michael Fawcett tenha usado suas influências para ajudar o empresário saudita Mahfouz Marei Mubarak bin Mahfouz a ser agraciado com uma condecoração real. O título foi depois usado para respaldar seu pedido de cidadania britânica, em troca de generosas doações.

De acordo com o jornal Sunday Times, Mahfouz, de 51 anos, foi nomeado comandante do Império Britânico pelo príncipe Charles em uma cerimônia privada no Palácio de Buckingham, em novembro de 2016. O evento não foi incluído na lista oficial de compromissos reais.

Receber esta distinção serviu para apoiar o pedido de cidadania britânica por parte do saudita, relatou o jornal. Mahfouz nega qualquer irregularidade neste processo. Ele teria contribuído com grandes quantias de dinheiro para projetos de restauração. Fawcett pediu demissão em novembro de 2021.

A assessoria de imprensa do príncipe de Gales reiterou hoje que ele "não tinha conhecimento da suposta oferta de honrarias, ou de cidadania britânica com base em uma doação para suas obras beneficentes", atribuída a Fawcett.

Os jornais britânicos revelaram ainda que a fundação do príncipe Charles aceitou centenas de milhares de euros de um doador russo, o que levou a uma investigação por parte do órgão independente que regula as instituições de caridade na Escócia.

O presidente da fundação, Douglas Connell, renunciou ao cargo, mas negou qualquer irregularidade.

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Príncipe Andrew
Imagem: Lillian Suwanrumpha/AFP

'Debaixo do tapete'

"No caso de Andrew, me parece horrível que tudo tenha sido escondido debaixo do tapete", declarou à AFP Yasmine Ollive, uma executiva do setor de contabilidade de 34 anos.

Nas proximidades do Palácio de Buckingham, Collin Gilbert, um turista americano de 53 anos, afirmou que "percebemos há muito tempo que a monarquia tem esqueletos no armário".

Os termos financeiros do acordo confidencial não foram revelados, mas o tabloide Daily Mirror afirma que o príncipe pagará 12 milhões de libras (R$ 84 milhões): 10 milhões de libras para Virginia Giuffre e 2 milhões para a organização beneficente que ela criou no ano passado para ajudar vítimas de tráfico sexual.

De acordo com o tabloide Daily Mirror, o príncipe pagará 12 milhões de libras (16,3 milhões de dólares ou R$ 84 milhões na conversão para o real): 2 milhões de libras para a organização beneficente e 10 milhões de libras para Virginia Giuffre.

Outros jornais afirmam que o valor do acordo seria inferior. The Guardian cita mais de 7 milhões de libras, sem incluir os "milionários" honorários dos advogados, e o Daily Mail menciona uma "humilhação de 10 milhões de libras".

Procurada pela AFP, uma porta-voz de Andrew se recusou a fazer comentários.

*Com informações da AFP