Boris Casoy conta bastidor com Bolsonaro e explica relação com o presidente
Quando me perguntam 'afinal, de qual lado o senhor está?', eu explico que sou um jornalista, procuro ser isento. Eu tenho um lado, mas o meu lado tem limites.
Boris Casoy acompanha de perto as reações nas redes sociais aos comentários que faz sobre a política brasileira. Pelas eventuais críticas a Jair Bolsonaro (PL), há quem o considere opositor ao governo. Em entrevista a Splash, o jornalista de 81 anos diz como encara as opiniões de internautas, como define a relação com chefe do Executivo e revela a perseguição que sofreu durante a ditadura militar.
Desde o início do ano, o jornalista, que se consagrou pelo estilo opinativo no impresso e na televisão, apresenta o quadro "Liberdade de Opinião", na CNN Brasil. Boris vê as manifestações sobre o que diz no ar repercutirem como rastro de pólvora.
Se apanha ou é exaltado nas redes, ele acredita que isso depende do que é conveniente para quem o ataca ou apoia. O jornalista fala em "pressão organizada" e reconhece que, por seu posicionamento crítico a opositores como Lula (PT) e Bolsonaro, às vezes é tachado de ficar "em cima do muro".
Essa crítica existe. Não tem explicação. É como as pessoas me veem. A minha resposta é para a minha consciência. É de longa data que sou assim. Faz parte da minha formação profissional. Não há uma preferência. É uma posição técnica.
Boris Casoy e Jair Bolsonaro: uma relação "profissional"
Boris Casoy já se encontrou algumas vezes com Jair Bolsonaro, antes de ele ser eleito à presidência da República, em 2018. O jornalista mediou um debate presidencial com Bolsonaro como candidato, na RedeTV!, e esteve com ele no hospital após o atentado sofrido durante a campanha eleitoral.
"Ele [Bolsonaro] me recebeu no hospital após o episódio da facada e fiz uma entrevista com ele. Sempre me recebeu muito bem. Conversamos sobre coisas triviais. Sou palmeirense e ele é palmeirense. Falamos em off e ele foi muito amável, correto e educado. Não sou oposicionista. Eu o vejo como um ser humano. Era um encontro entre um candidato à presidência da República e um jornalista", conta.
A minha relação com ele é essa. Eu não chamo de amistosa, é uma relação profissional - Boris Casoy
O que Boris Casoy pensa de Bolsonaro?
Sem ter o rabo preso, como se diz popularmente, Boris Casoy acredita que o maior problema de Bolsonaro é a personalidade intempestiva. Também considera que o presidente gerenciou mal a pandemia de covid-19.
"É um governo que te obriga a julgar pelo próprio Bolsonaro. Eu esperava mais dele. Ele tem um problema grave de impulsividade", declara.
Apesar das críticas, Boris vê como exagerada algumas atribuições ao presidente. Fascista? Genocida? Ele não concorda. "Não acho que ele seja um fascista. Ele tem tons autoritários, mas não é um fascista, nazista ou antissemita. Não é um genocida. Isso é rótulo. Ele tem visões estereotipadas, como por exemplo sobre a vacina. Não consigo entender algumas atitudes".
"Ele contestou a ciência, ao mesmo tempo em que continua amigo da cloroquina, ele se ufana de um governo que distribui as vacinas. É um paradoxo. Além de tudo, o governo dele se comunica mal. Mas não tenho a visão de que o governo dele é uma catástrofe. Essa é uma visão de quem faz oposição a ele", analisa.
Qual o lado de Boris Casoy?
Ele não é bolsonarista. Tampouco petista. O que defende? O que não concorda? Embora não revele o voto para presidente na última eleição, ele diz no que acredita: "Eu sou pela iniciativa privada e pela liberdade de opinião".
"Não sou socialista e tenho algumas marcas, mas não um lado político eleitoral. Eu procuro analisar os atos administrativos pró-Brasil. Procuro, não sei se consigo", diz.
Procuro ser justo. Isso é o que permite me olhar no espelho com tranquilidade.
O jornalista assinou com a CNN após a saída polêmica de Alexandre Garcia, que defendeu — sem comprovação científica — o tratamento precoce contra a covid-19, e por isso foi demitido da emissora. Boris diz que, conforme lhe foi passado pela direção do canal, ele não foi contratado para substituir o antigo comentarista. A diferença entre os dois é clara, até pelo ponto de vista do julgamento das redes.
"É muito sintomático que quando esses comentários criticam um ou outro lado, o petista ou o bolsonarista, as reações aparecem. E elas são de aplauso ou de condenação. Não sou aliado de nenhum dos dois grupos", afirma.
Perseguição
Nos anos 1970, Boris Casoy foi ameaçado e recorreu ao presidente da época, Ernesto Geisel. "Recebi alguns recados de um ator, que dizia: Boris, toma cuidado. A pessoa descrevia o meu dia, dizia onde eu estava e com quem estive. Eu fui seguido. Era para mostrar que a ameaça era verdadeira".
"Diziam que eu era pró-militar, do CCC [Comando de Caça aos Comunistas]... Eram ameaças genéricas. Não tinha um fato concreto pelo qual eu pudesse me defender. Era de apavorar, de ficar acovardado. É uma busca de intimidação. Eu sofri isso", explica.
À época, temendo pela própria vida, o jornalista pediu ajuda a Geisel. "Achei muito grave e concreta a acusação, pois tinha até o meu endereço certo. Reclamei para o presidente da República, que foi extremamente correto, mas não quero identificar as pessoas que estavam envolvidas nisso".
De volta à faculdade aos 81 anos
Boris Casoy concilia o trabalho de segunda a sexta na CNN Brasil com a faculdade de medicina veterinária. Ele, que tem dois cachorros vira-latas, voltou a estudar no ano passado. O apresentador está matriculado no curso presencial da Faculdade Cruzeiro do Sul, que por enquanto mantém as aulas on-line em razão da pandemia.
"Eu estava com a tarde e noite livres. Não queria ficar parado. Decidi fazer veterinária, que era um velho desejo. Fui aprovado em todas as matérias e agora comecei o segundo semestre do curso", afirma, orgulhoso.
Em relação à idade, o jornalista se divertiu ao descobrir que não era o aluno mais velho da sala: "Na minha classe tem várias pessoas mais idosas. Não sou o primeiro. Uma aluna idosa ainda brincou: 'Pensei que eu era a recordista! O senhor me superou'. Eu gostei".
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