Lia Clark: 'Tem globais que se assumem gays, mas antes não pegavam na mão'
A cantora Lia Clark falou sobre o preconceito existente no meio artístico e na TV aberta do país que, por muito tempo, reproduziu pessoas LGBT+ como "chacota" e, ao mesmo tempo, impediu que profissionais da teledramaturgia se assumissem publicamente.
Em entrevista ao podcast "Podpah", a drag queen, ao ser questionada se via a si mesma como uma estrela, brilhando nos palcos e na TV, foi sincera e disse que não, pois, embora sonhasse com isso, sempre via como algo impossível, devido à intolerância.
"Era o sonho da minha vida, mas eu sempre soube que não ia [conseguir], tinha essa convicção comigo, não via a possibilidade de eu está em palcos ou está em lugar de poder, porque quando você está no palco cantando você está num lugar de poder... Não me via nesse lugar porque não tinha gente para me inspirar, igual hoje, graças a Deus, as bichas têm", declarou.
Lia Clark explicou que sua lembrança enquanto crescia acompanhando os programas televisivos brasileiros era a da retratação que o extinto humorístico "Zorra Total", da TV Globo, fazia da "bicha afeminada" que era rejeitada pelo pai, que questionava a si mesmo em que ponto "errou" para ter um filho gay.
A artista chega a citar o ator Jorge Lafond, conhecido como Vera Verão, que se tornou um ícone da comunidade LGBT+, mas ressalta que mesmo o humorista era visto como "chacota" no programa "A Praça É Nossa", do SBT.
"A minha lembrança de bicha na televisão era aquele quadro do 'Zorra Total', que era a bicha afeminada com o pai, e o pai terminava a esquete falando 'onde foi que eu errei?', o que era uma coisa errada. Tinha a Vera Verão, que para mim é um grande ícone, [mesmo assim] lá na 'Praça É Nossa' ela virava uma chacota. Então, para mim, na televisão, bicha era uma chacota, então [eu me via] como uma chacota, porque, né, a comunicação manda gente", contou.
No podcast, eles recordaram que Jorge Lafond mantinha um relacionamento com um jogador de futebol famoso, mas não podia expor devido ao preconceito. Nesse momento, Lia Clark lembrou que muitos atores da Globo que hoje se assumem gays, sempre foram homossexuais, mas antes não tinham coragem de falar abertamente sobre o assunto, tampouco exibiam seus companheiros em público, como, por exemplo, andar de mãos dadas.
"Isso que aconteceu com o Jorge Lafond de não pode sair de mãos dadas é muito triste porque acontece com muita gente. Hoje em dia a gente vê que tem atores da Globo se assumindo e que sempre foram gays, mas não podiam sair de mãos dadas [com seus respectivos parceiros]. Não pode falar, porque galã [não pode se assumir], então é uma vida de prisão. E tem muita gente que não saiu do armário e está aí sofrendo. Muito triste", completou.
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