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Protagonizado por ovelha-humana, filme 'Lamb' flerta com drama e terror

"Lamb" acompanha a história de Ada, que nasce metade humana, metade ovelha - Divulgação/ MUBI
'Lamb' acompanha a história de Ada, que nasce metade humana, metade ovelha Imagem: Divulgação/ MUBI

Fernanda Talarico

De Splash, em São Paulo

27/02/2022 04h00

Um casal da Islândia mora isolado em uma fazenda tranquila, cuidando de seus animais. Os dois convivem há algum tempo com o luto pela perda de um bebê e não conseguiram se recuperar da tragédia. Eles vivem uma vida pacata, mas que sofre uma reviravolta quando encontram um bebê metade humano, metade ovelha. Essa história esquisita que parece ter saído de um episódio de "Além da Imaginação" é a trama de "Lamb", filme islandês que está disponível na MUBI Brasil.

Estrelado por Noomi Rapace ("Os Homens Que Não Amavam As Mulheres"), vencedor do prêmio de originalidade do Festival de Cannes e indicado da Islândia como representante do país no Oscar 2022, o longa acompanha a vida do casal que decide criar a (fofíssima) bebê como se fosse sua própria filha. Eles dão a ela o nome de Ada e, aproveitando que moram longe de tudo e todos, a tratam como 100% humana: colocam roupinhas, jantam juntos à mesa e a colocam para dormir em um bercinho ao lado dos pais.

Com essa premissa, "Lamb" poderia muito bem transitar entre diferentes gêneros, como a fantasia e até mesmo a comédia, mas, ao ser lançado pela produtora A24 (responsável por "Hereditário" e "A Bruxa") e pelo tom sombrio e misterioso que o filme entrega, logo foi tachado de um filme de terror — o que foi um choque para o diretor Valdimar Jóhannsson. "Para mim, é um drama familiar", contou em entrevista a Splash. "Terror é algo que estava bem distante do que eu planejava para o título."

O cineasta islandês não contava com a possibilidade de um bebê antropomorfo poder despertar o medo nas pessoas. "No máximo achei que poderia ser um suspense folk", conta.

Criando Ada

Não tem jeito, o ponto alto do filme é Ada. Na maior parte de "Lamb", ela é uma criança que, mesmo que cause estranheza, é extremamente apaixonante. Ela demonstra carinho, curiosidade e outras características normais em humanos.

Segundo Jóhannsson conta, para criá-la foram usadas dez crianças, quatro ovelhas e dois bonecos durante as gravações. "Gravávamos uma cena com uma criança, depois a mesma sequência com uma ovelha, e por último, de novo, mas dessa vez com um boneco. A equipe teve muita paciência."

O diretor lamenta, porém, que os atores mirins não possam assistir tão cedo ao resultado de seus trabalhos, uma vez que a classificação indicativa não permite — no Brasil, "Lamb" é indicado para maiores de 16 anos. "Mas as crianças sabiam que estavam atuando para serem ovelhas no filme", comenta.

Este é o primeiro longa-metragem dirigido por Valdimar Jóhannsson, mas seu nome já é bem conhecido em Hollywood, por produções bastante diferentes de "Lamb". Ele foi responsável por efeitos especiais de filmes como "Transformers: A Era da Extinção" (2014) e "Rogue One: Uma História Star Wars" (2016). "Trabalho na indústria há mais de 20 anos e já fiz de tudo um pouco", conta. "Comandar todo um filme foi uma experiência incrível, mas também muito estressante."

Por se tratar de sua estreia na cadeira de diretor, ele espera até mesmo o pior.

Poderia ser um desastre, era tudo muito arriscado. Mas deu certo

Um dos pontos ao qual ele atribui o sucesso é a atuação de Noomi Rapace, atriz sueca que também faz filmes em Hollywood, como "Prometheus" (2012). "Achei que ela não aceitaria, mas mostrei o projeto para ela e ela topou na hora."

Mas e a metáfora?

"Lamb" é um daqueles filmes que fomenta a mente dos cinéfilos que tentam a todo custo entender do que se trata. No entanto, Jóhannsson afirma que não há uma metáfora grande por trás da história, e sim uma admiração de sua parte.

"Meus avós tinham uma fazenda e eu cresci passando o meu tempo com lindos animais. Eu ficava com eles na época em que as ovelhas davam cria", lembra.

Todos os dias eu via ovelhas recém-nascidas, isso faz você criar uma conexão forte com elas.

"Toda vez que eu chegava na fazenda, a mesma ovelhinha me reconhecia e vinha correndo pedir um abraço. São criaturas incríveis", explica.

Com tanto amor pela espécie e com o sucesso que Ada tem feito, o diretor finaliza com uma novidade: "Estamos vendo a possibilidade fazer bonecos dela para licenciamento, quem sabe?".