'Vale Night': filme com Linn da Quebrada rompe tabus de gênero e cor
Antes de sequer imaginar que estaria no "BBB 22", Linn da Quebrada já foi a DJ Pulga. A atriz e cantora que lançou "Bixa Travesty" no Festival de Berlim em 2018 está no elenco de "Vale Night", nova comédia romântica brasileira que chega hoje aos cinemas.
A história acompanha dois jovens, Vini (Pedro Ottoni) e Daiana (Gabriela Dias), que se tornaram pais muito cedo. Quando ela aceita ir passar um final de semana na casa da avó (Neusa Borges) para descansar, deixa o bebê aos cuidados do pai — que perde a criança pelas ruas da comunidade e precisa resgatá-lo na festa Batekoo.
No filme dirigido por Luis Pinheiro a partir de um roteiro muito bem adaptado, Lina Pereira faz par com Linguinha, personagem de Yuri Marçal, e os dois ajudam Vini na caçada pela criança.
Embora a comédia seja muito mais sobre Vini e Daiana — e o filme faz um ótimo trabalho ao conseguir espaço para falar de temas sérios e não perder o tom cômico — a personagem de Linn da Quebrada ganha uma voz muito rica em certos momentos. Para Pinheiro e Marçal, trabalhar com ela foi uma experiência muito diferente do que é vê-la no reality.
Isso sobretudo porque a personagem guarda alguns segredos que foram um pedido da própria atriz.
Representação e representatividade
Para o ator Jonathan Haangensen, que interpreta o irmão de Daiana no filme e fez parte do Nós do Morro, a importância de trabalhos como "Vale Night" está em trazer um olhar diferente sobre as comunidades e sobre as pessoas pretas no cenário da TV e do cinema. Aos 41 anos, o carioca ficou conhecido no cenário nacional com "Cidade de Deus" (2002), e também atuou recentemente nas séries "O Mecanismo" e "Onisciente", da Netflix.
Levamos mais de 100 anos para vermos filmes como 'Pantera Negra', e outros que trouxessem outras camadas além do corpo preto que só serve para ser violentado ou violentar.
Jonathan Haangensen, ator
"Isso está muito refletido na perversidade de como se comporta a sociedade, que vê esse corpo preto como objeto", continua. "Apesar de a história [do filme] ter esse grande problema que atravessa a juventude, que é a evasão escolar, o filme pensa nessa profundidade cultural."
No entanto, ele faz uma ressalva: "Ainda é um ponto de vista branco sobre nós. Mas foi interessante ter esse elenco preto sendo visto de um contexto diferente, que muito me agrada. Estamos falando das maiores potências que existem no país, que são as juventudes tentando sobreviver diante daquela realidade perversa. Hoje, apoio projetos como esse, porque eles definem o imaginário que minha filha vai poder acessar."
Linn da Quebrada por trás das câmeras
Sem revelar spoilers, Pulga (Linn) e Linguinha (Yuri Marçal) têm um relacionamento que está presente do início ao fim da trama. Os dois têm a química carnal e fica claro para o público o quanto os personagens se gostam, ainda que o romance não seja muito aprofundado — afinal de contas, todos estão ocupados caçando um bebê pelas ruas de São Paulo.
O que nunca é dito, porém fica evidente em uma das cenas, é que a personagem é cisgênero.
"Enquanto comediante, eu adoro esse lugar da não explicação", declara Yuri Marçal, sobre a relação entre os dois personagens. "Sei que foi uma decisão tomada durante o filme. Durante as gravações e os ensaios, começamos a pensar nessa ideia de ela ser uma personagem cis, e falamos: 'É, é isso. Não tem muito o que falar, não'. E estava tudo certo."
O comediante também abriu o jogo sobre a convivência com a artista nos bastidores e fora dos sets de filmagem.
"Eu já a conhecia como artista e fã, e deixando de lado a parte da atuação, foi muito legal, porque a Linn é muito divertida. Ela nem está mostrando tanto esse lado no 'Big Brother', mas ela é uma pessoa muito engraçada e uma atriz brilhante. Tudo foi muito leve e dentro do contexto do filme, nessa história de paixão jovem, tivemos química. Nós viramos amigos."
Pedido feito e atendido
Durante o papo com Splash, o diretor do filme explicou que buscou ocupar um "lugar de escuta" durante as filmagens de "Vale Night". Para o cineasta, seu dever era o de entender e validar seu elenco.
"Nós somos brancos fazendo filmes com corpos pretos", constatou. "A gente tem que ter a escuta, mas não é apenas isso. Temos que topar essa escuta para, de alguma maneira, lançar a luz correta e aqueles corpos serem validados."
O fato de a personagem de Linn ser uma mulher cis é confirmado na última cena do filme, quando Pulga aparece com uma barriga de grávida. Luis revela que esse foi um pedido da própria atriz — acatado e executado:
"Durante as filmagens, a Lina me pediu. Ela disse: 'Queria estar grávida na última cena'. E foi um pedido acatado por nós no set sem eu perguntar para a Justine [Otondo, produtora], para a Disney ou para mais ninguém, porque estávamos ali exercendo o papel de escutar, topar e fazer. Acho que isso é um grande exemplo do nosso papel ao contarmos essas histórias."
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