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Contamos a história de artistas que foram famosos e estão afastados do mundo do entretenimento, investindo em uma outra carreira, ou vivendo em outro país.


Ele apareceu no 'Fantástico', mas diz não ter ganhado dinheiro com música

Markinhos Moura trinta e cinco anos depois do sucesso - Acervo pessoal
Markinhos Moura trinta e cinco anos depois do sucesso Imagem: Acervo pessoal

André Aram

Colaboração para o UOL, no Rio

21/03/2022 04h00

Em 1983, o então desconhecido Markinhos Moura, aos 20 anos, fez uma participação no "Fantástico". Ele interpretou uma canção de Elis Regina. Com um timbre de voz parecido com o da cantora, foi apresentado quase como um sósia vocal. Mas o sucesso só veio em 1987 com a música Meu Mel, que vendeu mais de 100 mil cópias, conquistando fama nacional com presença constante em programas de TV como Chacrinha, Bolinha, Xou da Xuxa, Globo de Ouro, entre outros.

Trinta e cinco anos depois, em boa forma, o cantor que mora no Largo do Arouche, em São Paulo, continua na música e, em paralelo com a atuação, tendo feito algumas peças teatrais. E conta com a ajuda de seus amigos.

Não tenho nada, não tenho nem imóvel, tenho que trabalhar para sobreviver, alguns amigos têm me ajudado. Mesmo naquela época, nunca ostentei, achava isso cafona, e muita gente ganhou dinheiro em cima de mim.

O auge em Meu mel não rendeu dinheiro para Markinhos que, na verdade, acabou com uma dor de cabeça com uma briga judicial que se arrasta por anos contra a extinta gravadora Copacabana.

"Quem ganha hoje são os compositores, eles até hoje recebem, eu ganho quando toca com a minha voz, e essa música já foi regravada centenas de vezes. Então, sou o que menos ganhei nessa história", lamenta.

Ao contrário do que muitos imaginam, o artista esclarece que no passado não se ganhava tão bem como hoje, por isso, não conseguiu fazer um pé de meia. A situação se agravou mais com a pandemia de covid-19.

"Não tenho dinheiro guardado, não tenho bens, e sobrevivi e sobrevivo com cestas básicas, contando com a ajuda dos amigos. Usei o auxílio emergencial na época que era um direito meu", desabafa.

Preconceito na família

Natural de Fortaleza, no Ceará, Markinhos Moura nasceu em uma família simples, em que o preconceito estava sempre presente. Segundo ele, seus tios faziam chacota dos cabeleireiros do bairro, e chegou até a recusar uma bolsa para estudar balé clássico, temendo a reação dos familiares. Na infância, seus ídolos eram Elis Regina e Ney Matogrosso, mas ouvir o cantor vanguardista em casa era impensável, a solução era fazer isso escondido.

O interprete se recorda que o bullying estava em todos os lugares, na escola, em casa e até no ônibus, em função da aparência frágil e da voz fina. A ausência de um diálogo aberto em casa, fez com que o cantor notasse anos depois que algumas brincadeiras na infância eram, na verdade, assédios sexuais.

"A minha iniciação sexual foi atípica, eu brincava muito na rua, mas eu não sentia desejos nessa época, e alguém sempre pedia para eu tirar a bermuda e faziam coisas. Não me senti abusado porque eu não sabia o que era isso, mas não se falava sobre sexo em casa, aprendi tudo na rua e da forma errada, e tenho cicatrizes que carrego até hoje".

Sucesso e drogas

No ápice do sucesso na segunda metade dos anos oitenta, o cantor se recorda de como era vigiado pelas pessoas que trabalhavam com ele, e as orientações que recebia: "A gravadora queria fazer de mim um galã, eu nunca fui um, briguei muito por isso, galã era o Fábio Júnior, eu não tinha uma beleza".

O cantor também comentou sobre as festas badaladas em que tudo era permitido, mas confessando que por medo optava por ficar careta: "O Baixo Gávea era frequentado por todos, eu, Cazuza, Angela Ro Ro, bandas de rock, e dali, muita gente ia para outros locais."

Estive em lugares em que servia cocaína na bandeja, e não tinha coragem de experimentar, então, comecei a dar um truque, dizia que não queria porque já estava louco, e era mentira, não tinha feito nada

Indagado se teve experiência com outras drogas, ele responde sem hesitar: "Fumei maconha na década de 80, em casa com amigos, e fizemos isso meia dúzia de vezes, mas não me fazia bem, dava falta de ar. Os meus amigos começavam a vomitar, e eu tinha que dar banho neles. Então, aquilo me traumatizou; acho que isso me salvou", finalizou.