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Jornalista brasileira na Ucrânia desabafa: 'No final do dia, estou acabada'

Brasileira Anelise Borges, correspondente do canal Euronews - Reprodução/TV Globo
Brasileira Anelise Borges, correspondente do canal Euronews Imagem: Reprodução/TV Globo

Colaboração para Splash, em Maceió

27/03/2022 23h12

Anelise Borges, única jornalista mulher entre os profissionais de comunicação brasileiros que estão na Ucrânia cobrindo a guerra contra a Rússia, relatou parte de sua rotina em meio ao conflito armado, e citou a dificuldade em manter viva a esperança ao presenciar tamanha devastação.

Borges, que trabalha há oito anos como correspondente de guerra em áreas de conflito, a exemplo do Afeganistão, para o canal Euronews, explicou que a impressão é a de que os dias são mais longos que o normal e, no final do dia, ela já está "acabada", devido ao fato de ter que usar colete a prova de balas, que é bastante pesado.

"Os dias são muito longos. Parece que cada dia tem umas 40 horas aqui. Eu acho que é o colete a prova de balas, muito pesado. A gente passa o dia inteiro carregando aquele negócio. Chega no final do dia, eu assim: acabada", relatou a repórter em entrevista ao "Fantástico".

Segundo a jornalista, ao realizar coberturas de áreas em conflito constante, é preciso "julgar diariamente" até onde eles podem ir de forma segura.

Borges cita situação 'devastadora' para crianças

A repórter Anelise Borges está atualmente em Kiev, capital da Ucrânia, e diz ter presenciado uma situação "devastadora" em relação às crianças, muitas delas nascidas de barriga de aluguel, que aguardam para serem levadas para a casa.

"É devastador! A questão das crianças para mim é muito difícil. As crianças não têm como entenderem o que está acontecendo se nem os adultos entendem", declarou, ressaltando a história de uma criança que perdeu a mãe na guerra e disse ao pai que precisava "comprar" outra mãe.

Borges pontuou que perdeu o contato que tinha com moradores de Mariupol, uma das cidades mais devastadas pelas tropas russas, mas, segundo contou, "o pouco que a gente está conseguindo saber de lá, é que a situação é infernal, não tem mais água, não tem mais comida".

Em meio a esse cenário de guerra, Anelise Borges diz ser difícil falar em esperança, embora admire a resistência dos ucranianos e a certeza de que saíram vencedores do confronto.

"Eu não sei se eu consigo falar em esperança ainda. Está tão louco para eles, está tão complicado... Apesar de eles passarem bastante tempo dizendo que estão confiantes, que a vitória vai ser deles e que eles vão conseguir renascer quase que como a fênix", completou.

A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro e, mais de um mês depois, o conflito parece não estar perto de uma conclusão.

Hoje, o papa Francisco fez um discurso no qual disse que a guerra "não pode ser algo inevitável" e que as pessoas "não devem se habituar" com conflitos armados.

"Diante do perigo de se autodestruir, a humanidade precisa compreender que chegou a hora de abolir a guerra, de apagá-la da história do ser humano antes que ela apague o ser humano da história", falou.

"Por isso, renovo meu apelo: chega, parem, abaixem as armas e negociem seriamente pela paz", salientou. Além disso, o Papa afirmou que a guerra na Ucrânia é "cruel e insensata" e representa uma "derrota para todos nós".

Também neste domingo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, declarou eles estão prontos para discutir a adoção de um status de neutralidade como parte de um acordo de paz com a Rússia, mas isso teria que ser garantido por terceiros e submetido a um referendo.