Toque de recolher e fome: as dificuldades de Cabrini na guerra da Ucrânia
Fernanda Talarico
De Splash, em São Paulo
27/03/2022 04h00Atualizada em 27/03/2022 07h16
Pouco tempo depois que o conflito entre Rússia e Ucrânia começou, o jornalista Roberto Cabrini foi enviado pela Record TV a Kiev, para vivenciar e reportar o que estava acontecendo na zona de guerra, causada pela invasão russa. O resultado poderá ser assistido a partir deste domingo no documentário "O Expresso para Kiev com Roberto Cabrini", que mostrará aos espectadores detalhes e bastidores da cobertura do conflito que já dura mais de um mês.
Para gravar a produção, Cabrini, que também é editor-chefe da atração, conta que sua maior dificuldade durante os 23 dias que passou na Ucrânia foi se alimentar. Em conversa com Splash, ele contou que o toque de recolher - que não permite que as pessoas saiam às ruas durante os horários estipulados - dificultou a rotina de alimentação. "Nos últimos tempos, passou-se a adotar um toque de recolher de 35 horas, então era muito comum termos apenas o café da manhã", relata.
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Você comia o que era possível e só se alimentava de novo no dia seguinte.
Se por um lado, o jornalista encontrou dificuldades para se manter alimentado em momentos de reclusão imposta pelo Estado, ele também se surpreendeu com o que viu quando pode finalmente ir até um supermercado ucraniano. "Eles estavam funcionando com certa normalidade, sem os alvoroços que acreditei que encontraríamos."
As pessoas tentavam se manter o mais próximo com o que parecia ser uma rotina. Eu achava que encontraria algo como 'salve-se quem puder', com pessoas tentando construir grandes estoques, comprando muito? E não foi o que eu encontrei Eu encontrei pessoas tentando manter a vida normal.
Outro fato que chocou o jornalista foi a discrepância entre o que estava sendo divulgado quanto a população e o que ele encontrou na cidade: "No começo, diziam que apenas 10% de Kiev estava lá, o que não é verdade, porque quase metade da população ainda está lá."
Entre um ataque e outro, pessoas saiam de casa para tentar recuperar o que era possível, saiam em família, com carrinho de bebês, passeando com cachorros. E de repente, os ataques voltavam a acontecer e a cidade mudava de novo.
O Expresso para Kiev
Ao todo, foram 23 dias de viagem de Roberto Cabrini e o repórter Edrien Esteves que se transformaram no documentário "Expresso para Kiev", a ser exibido no "Câmera Record". A Splash, o apresentador explicou o nome da produção.
"A chegada em Kiev traz algo arrebatador: imagine um trem que só sai algumas vezes, chegando em Kiev, uma cidade sitiada e cercada, constantemente atacada", elucida, sobre a situação do país que vem sendo bombardeado pelo exército de Vladmir Putin.
"No momento em que esse trem chega - sempre de madrugada - todas as luzes devem se apagar porque a luminosidade torna o trem um alvo, então é um frio na espinha que se espalha por todos os vagões, entre os condutores e os passageiros", acrescenta Cabrini.
É um momento muito nervoso, e a gente usa a figura deste trem como o fio condutor de um grande documentário onde a gente mostra todas as hipocrisias e as contradições dessa guerra, que faz a população civil ser a que mais perde, que faz esta dualidade de valores e de recursos serem colocados em jogos desde a madrugada do dia 24 de fevereiro, quando a Ucrânia foi invadida. Então, 'Expresso para Kiev' é o fio condutor onde mostramos os bastidores da nossa cobertura e da nossa própria guerra.
A viagem para a cobertura jornalística do conflito se iniciou na cidade polonesa de Medyka, na fronteira com a Ucrânia, depois em Lviv, cidade na qual ficou por seis dias antes de partir para Kiev. "Estivemos lá quando cada alvo era atacado. Fomos para zonas extremamente perigosas, como o local onde o jornalista do The New York Times morreu, estávamos a 20 km de lá."
Para Cabrini, era necessário estar no local para poder mostrar o verdadeiro drama dos refugiados. "É muito difícil e arriscado, mas você precisa se arriscar para fazer um bom trabalho."
"Este documentário mostra as dificuldades logísticas e psicológicas de cobrir essa área da guerra, e ao mesmo tempo, mostra os alvos civis que eram arrasados. Tivemos acesso aos prédios arrasados e mostramos como isso muda a vida das pessoas, as faz perderem tudo em apenas uma fração de segundos, quando mísseis, foguetes e artilharias atacam esses lugares. Tudo isso é mostrado em detalhes dramáticos e viscerais da cobertura."
Olhar Brasileiro
Mesmo com todos os riscos, Roberto Cabrini diz ser imprescindível ir até o local do conflito para reportar o que está acontecendo.
Meu objetivo foi trazer o olhar brasileiro para a guerra e apesar de ser algo arriscado, sou privilegiado por poder trazer aos brasileiros a nossa visão. Assim, comprovamos alguns conceitos e desmistificamos outros.