Lygia Fagundes Telles, escritora integrante da ABL, morre aos 98 anos
A escritora Lygia Fagundes Telles, "dama da literatura brasileira", morreu hoje, em casa, aos 98 anos. A informação foi confirmada pela presidência da APL (Academia Paulista de Letras) e pela Companhia das Letras, editora que publicava as obras da paulista.
Quarta ocupante da cadeira n°16 da ABL (Academia Brasileira de Letras), a qual foi eleita em 1985, a autora de obras autora de obras como "Antes do Baile Verde" e "As Meninas" foi prestigiada com o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, e o Prêmio Camões, maior honraria da literatura em língua portuguesa, além de ter o título de primeira mulher brasileira indicada ao prêmio Nobel de Literatura, em 2016, quando tinha 92 anos.
"A mais notável personalidade da literatura brasileira, patriota e democrata, já era lenda em vida. Permanecerá no Panteão das glórias universais e, para orgulho nosso, era mais academicamente bandeirante. Não faltava aos nossos encontros semanais no Arouche. A gigantesca e exuberante obra continuará a ser revisitada, enquanto houver leitor no mundo", declarou em nota o presidente da APL, José Renato Nalini.
O velório da escritora será realizado a partir das 15h, aberto ao público na sede da Academia Paulista de Letras, no Largo do Arouche, bairro da República, em São Paulo. O corpo de Lygia será cremado.
Não foram fornecidas mais informações sobre a causa da morte.
A Câmara Brasileira do Livro (CBL) divulgou nota "lamentando profundamente" a perda de Lygia Fagundes Telles, "referência literária no país, tendo contribuído também, de forma significativa, para ampliar a divulgação e o reconhecimento da literatura brasileira no exterior".
Já a Companhia das Letras emitiu comunicado definindo a escritora como uma das "mais relevantes e singulares vozes da literatura brasileira" e se solidarizando "com familiares, amigos e leitores", afirmando que "seguirá homenageando a autora com conteúdos sobre sua trajetória e suas obras".
"Sentiremos muita falta da delicadeza, elegância e carinhos que Lygia dedicava à sua literatura e também a nós seus editores. Nossa relação era mais que afetiva. Era um verdadeiro amor entre autora e seus editores. Uma profunda falta é o que sentiremos a partir de hoje", declarou Luiz Schwarcz, fundador e editor da empresa literária.
O UOL tenta contato também com a ABL para obter um posicionamento.
Políticos e artistas lamentaram a morte da escritora.
Carreira
Nascida em São Paulo, Lygia completaria 99 anos no próximo dia 19. Filha de promotor público, viveu boa parte da infância viajando entre cidades do interior de São Paulo.
Com investimento do pai, publicou o primeiro livro, "Porões e sobrados", aos 15 anos, em 1938.
Formou-se em Direito pela USP, e, dois anos depois, se casou com seu professor de direito internacional privado, Gofredo da Silva Telles Júnior, de quem adotou o sobrenome Telles e com quem teve Goffredo Telles Neto, morto em 2006. Eles se divorciaram em 1960.
Na década de 60, casou-se novamente com o escritor e cineasta Paulo Emílio Gomes.
Em 1954 publicou seu primeiro romance, "Ciranda de Pedra", já com grande aclamação da crítica literária.
Entre suas principais publicações estão "Praia Viva" (1944), "O Cacto Vermelho" (1948), "Antes do Baile Verde" (1970), "As Meninas" (1973) e "Seminário dos Ratos" (1977).
Além da eleição para a ABL em 1985, Lygia foi premiada com o Jabuti em cinco ocasiões, recebeu o Grande Prêmio Internacional Feminino Para Contos Estrangeiros na França, em 1969, além de vários prêmios da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) e da Biblioteca Nacional.
A escritora deixa as netas Lúcia e Margarida, filhas de Goffredo.
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