Lygia Fagundes Telles perdeu o único filho aos 83: 'Quase morri junto'
A escritora Lygia Fagundes Telles morreu hoje, aos 98 anos. Em 2006, a dama da literatura brasileira lidou com o luto da perda do único filho, o cineasta Goffredo Telles Neto, aos 52 anos.
"Tinha hérnia de disco, uma doença horrível, e havia duas doutrinas: uma que dizia para operar, outra que dizia para não operar. Ele seguiu a primeira, fez duas operações sem sucesso, na terceira morreu do coração", contou Lygia em entrevista à "Revista da Cultura", em setembro de 2007.
Já aos 83 anos, a artista disse que "quase morreu junto".
Fiquei assim, um bagaço, quase morri junto. Ele era muito jovem, homem lindo, inteligentíssimo. Lygia Fagundes Telles
Logo após a morte de Goffredo, Lygia começou a escrever o livro "Conspiração de Nuvens", o qual lançou cerca de 1 ano depois.
"Foi muito bom escrever o Conspiração, pois entrei em uma vereda de trabalho. E pude encontrar novamente, por meio do meu ofício, a minha vida, que estava completamente destruída. É mesmo verdade que a arte é a negação da morte. Através da arte você consegue não negar a morte propriamente, mas consegue, como um cavaleiro, pular o obstáculo — este, enorme — e continuar", declarou.
Apesar do livro tê-la ajudado a lidar com a morte do filho, "Conspiração de Nuvens" não é sobre Goffredo. O livro reúne contos inéditos, relatos de viagens, crônicas e perfis de intelectuais com quem Lygia conviveu.
Sobre o filho, ela disse que nunca poderia escrever.
De um certo modo, eu me transformei numa espécie de testemunha dele e de mim. Quando ele morreu, eu pensei: "O que estou fazendo aqui? Vou morrer junto?". E decidi escrever. Sobre ele, nunca; isso eu não poderia fazer. Mas de um certo modo, a lembrança do meu filho está em tudo. Lygya Fagundes Telles à Folha, em 2007.
A escritora deixa as netas Lúcia e Margarida, filhas de Goffredo.
Carreira
Nascida em São Paulo, Lygia completaria 99 anos no próximo dia 19. Filha de promotor público, viveu boa parte da infância viajando entre cidades do interior de São Paulo.
Com investimento do pai, publicou o primeiro livro, "Porões e sobrados", aos 15 anos, em 1938.
Formou-se em Direito pela USP, e, dois anos depois, se casou com seu professor de direito internacional privado, Gofredo da Silva Telles Júnior, de quem adotou o sobrenome Telles e com quem teve Goffredo Telles Neto, morto em 2006. Eles se divorciaram em 1960.
Na década de 60, casou-se novamente com o escritor e cineasta Paulo Emílio Gomes.
Em 1954 publicou seu primeiro romance, "Ciranda de Pedra", já com grande aclamação da crítica literária.
Entre suas principais publicações estão "Praia Viva" (1944), "O Cacto Vermelho" (1948), "Antes do Baile Verde" (1970), "As Meninas" (1973) e "Seminário dos Ratos" (1977).
Além da eleição para a ABL em 1985, Lygia foi premiada com o Jabuti em cinco ocasiões, recebeu o Grande Prêmio Internacional Feminino Para Contos Estrangeiros na França, em 1969, além de vários prêmios da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) e da Biblioteca Nacional.
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