"Monstro com ataques de raiva": o que já rolou no julgamento Depp x Amber
No segundo dia do julgamento, os advogados da atriz e modelo Amber Heard, 35, defenderam que, durante o casamento, o ator Johnny Depp, 58, virava um "monstro" pelo consumo de drogas e álcool, com "ataques de raiva" que terminaram em agressões verbais, físicas e sexuais. Já os advogados dele denunciaram acusações falsas que tiveram um efeito "devastador" na carreira do astro de "Piratas do Caribe".
Amber Heard "amou o lado de Johnny que vemos nos filmes, carismático, charmoso, generoso. Esse é o homem por quem ela se apaixonou", disse sua advogada Elaine Bredehoft ao júri. "Mas infelizmente o monstro apareceu e esse monstro aparecia quando bebia ou usava drogas", acrescentou, mencionando coquetéis de álcool, medicamentos, cocaína, ecstasy e cogumelos alucinógenos.
Johnny Depp tinha nele "uma raiva enorme" que o transformou em um "demônio" e "foi durante esses episódios de raiva que ele atacava verbalmente, psicologicamente, fisicamente e sexualmente" Amber Heard, explicou Bredehoft.
Ela relatou várias cenas de violência, principalmente em março de 2015 na Austrália, onde Depp filmava o quinto episódio de "Piratas do Caribe".
Maquiagem para esconder hematomas
A atriz nunca se separava de seu kit de maquiagem para esconder os hematomas no rosto, disse a advogada, que planeja mostrar ao júri "fotos chocantes" de Heard com "contusões, lábios partidos, cabelo arrancado".
"Vão ver o verdadeiro Johnny Depp, para além dos tapetes vermelhos, da fama, do dinheiro e das fantasias de pirata", havia dito anteriormente outro advogado da atriz, Ben Rottenborn.
Vingança por divórcio
Do outro lado, o advogado do ator, Benjamin Chew, denunciou que "Amber Heard mudou para sempre a vida e a reputação de Depp e vocês o ouvirão contar o terrível impacto que isso teve em sua vida", afirmou, dirigindo-se ao júri.
Segundo ele, Heard acusou seu marido de violência em 2016 para se vingar por ele ter pedido o divórcio.
Dois anos depois, no rastro do "movimento MeToo" e "pouco antes da estreia do filme Aquaman", do qual participou, a atriz "escolheu lembrar o mundo dessas acusações venenosas em um jornal conhecido mundialmente", apontou.
A irmã de Depp, Christi Dembrowski, descreveu em seu depoimento um relacionamento conjugal tóxico com uma jovem "sempre conflituosa", que "exagerava" os problemas de drogas e álcool do marido e o chamava de "velho gordo".
"Dior é classe e estilo, e você não tem estilo", teria dito em certa ocasião, quando conversavam sobre um contrato de publicidade com a marca, contou Christi.
"Os estúdios de Hollywood não querem lidar com a reação do público ao contratar alguém acusado de abuso — mesmo alguém com o incrível histórico de trabalho que o sr. Depp pode se orgulhar", disse Chew.
Abuso sexual
Rottenborn disse que Heard estava dizendo a verdade sobre o abuso que sofreu, mas acrescentou que o caso é, na verdade, sobre uma questão jurídica restrita: se o artigo de opinião da atriz está sob a liberdade de expressão protegida pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA.
"Essa é a questão, e isso é o que está sendo pedido a vocês para decidir", disse ele aos jurados. "A equipe do sr. Depp vai tentar transformar este caso em uma novela", disse. "Por quê? Não tenho certeza, porque as provas não são bonitas para o sr. Depp".
Outra advogada da Heard, Elaine Bredehoft, disse que durante uma viagem à Austrália em 2015 Depp arrastou Heard pelo chão, deu-lhe um soco, chutou-a e depois "penetrou-a com uma garrafa de licor".
Depp balançou a cabeça em sinal de "não" na sala de audiências quando Bredehoft fez a declaração aos jurados.
O que motivou o julgamento
Ambos se acusam de difamação desde que ela publicou no jornal The Washington Post um artigo em que se descreve como uma "figura pública que representa a violência doméstica". "Eu falei contra a violência sexual e enfrentei a ira de nossa cultura. Isso tem que mudar", diz o texto de 2018.
A atriz não cita em nenhum momento Depp, com quem foi casada de 2015 a 2017. Mas o ator a processou por difamação por insinuar que ele era um agressor. Ele pede US$ 50 milhões em danos.
Após a publicação da coluna, Depp, que nega a agressão, entrou com uma ação de difamação contra Amber. A atriz, por sua vez, entrou com um processo de difamação em que pede US$ 100 milhões pela continuação dos "abusos" e "assédio" que Depp lhe impôs durante o casamento.
O ator entrou com a ação no estado da Virgínia, onde o Washington Post é impresso e onde o marco legal é mais favorável às denúncias de difamação do que na Califórnia, onde os dois atores residem. Os pedidos da atriz para que o processo fosse arquivado foram negados.
Os dois devem testemunhar, juntamente com os atores James Franco e Paul Bettany e o magnata Elon Musk, que foram escolhidos como testemunhas. O julgamento deve durar seis semanas.
Este caso se pauta principalmente na "Primeira Emenda" da Constituição, que confere a Amber Heard "o direito de dizer as palavras que disse", respondeu Rottenborn, e pediu ao júri que "confirme e proteja" esse direito.
Um primeiro julgamento aconteceu em 2020, em Londres, e Depp perdeu. Ele processava a editora do jornal The Sun por um artigo que o apresentava como um marido violento.
A justiça britânica decidiu a favor do The Sun, considerando que "a grande maioria dos supostos ataques foi comprovada" e que Heard temeu por sua vida.
O que cada lado alega
Em 2016, Heard entrou com uma ordem de restrição contra Depp, em meio a alegações de abusos. Ela afirmou em audiência que, no dia em que completou 30 anos, foi agredida pelo ator, após a festa de aniversário. "Acordar no meu 30º aniversário coberta por vidro, fiquei de coração partido."
O casamento dos dois terminou um mês depois dessa agressão: no dia 23 de maio de 2016.
Em 2017, o divórcio foi finalizado e ela retirou as acusações como parte do acordo.
Ao pedir a medida protetiva, ela apareceu em um tribunal de Los Angeles com uma bochecha machucada e disse que seu então marido jogou um telefone celular em seu rosto com "força extrema". "Abuso emocional, verbal e físico excessivo, agressões raivosas, hostis, humilhantes e ameaçadoras", escreveu Heard em documentos judiciais.
O ator nega as acusações e afirma que também foi agredido por Heard. No processo em Londres, os advogados de Depp apresentaram Heard como a violenta do casal e uma "mentirosa compulsiva" que havia inventado um caso contra o ator durante anos para impulsionar sua carreira.
Depp acusou a atriz de buscar "publicidade positiva para si mesma" antes do lançamento do filme "Aquaman" (2018), do qual ela foi protagonista.
No primeiro julgamento, foram revelados detalhes do relacionamento do casal, e o veredito foi de que o ator cometeu violência doméstica contra Amber em 12 ocasiões. Ele reconheceu o abuso de drogas e álcool e disse que em seus anos de casamento com Heard "não estava em condições" de machucá-la.
Depoimentos escritos de suas ex-parceiras Vanessa Paradis e Winona Ryder foram apresentados para reforçar a tese de que ele nunca agrediu uma mulher.
Heard afirmou na corte britânica que amava o Depp sóbrio, mas que ele se tornava um "monstro" depois de dias de farra com medicamentos prescritos e outras drogas.
"Eu nunca o mencionei, e escrevei sobre o preço que mulheres pagam ao denunciarem homens no poder", publicou ela ao anunciar que sairia das redes sociais enquanto o julgamento acontece. "Sigo pagando o preço, mas espero que, quando este caso se encerrar, eu possa seguir em frente, e Johnny também."
Por conta das revelações, Depp deixou seu papel como capitão Jack Sparrow na franquia "Piratas do Caribe" e obrigado a abandonar a franquia "Animais Fantásticos", baseada no livro de J.K. Rowling, autora de Harry Potter. Ele foi substituído por Mads Mikkelsen.
Há anos, o ator vem alegando que sofre 'boicote" por Hollywood. (Com agências internacionais)
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