Como Wagner Moura está transformando Hollywood para artistas brasileiros
Desde "Marighella", Wagner Moura não para. Aos 45 anos, o ator nascido em Salvador, na Bahia, está engatando um trabalho após o outro, dentro e fora do Brasil. Prestes a estrear no Apple TV+ ao lado de Elisabeth Moss na série "Shining Girls", Wagner também já encerrou as filmagens do próximo filme dos irmãos Joe e Anthony Russo, "The Gray Man", e está filmando o próximo longa de Alex Garland, "Civil War", antes de iniciar os trabalhos no futuro projeto de Kleber Mendonça Filho.
Para Wagner, que seleciona muito bem o que quer fazer e já chegou até mesmo a recusar uma oferta para "Mulher-Maravilha 1984", a escolha passa, antes de tudo, pela qualidade do texto.
Na série, que é inspirada no livro "Iluminadas", de Lauren Beukes, e chega ao streaming no dia 29 de abril com os três primeiros episódios, Wagner vive o repórter Dan Velazquez, um jornalista do Chicago Sun Times que acompanha as investigações de um assassinato.
Logo, ele passa a trabalhar em parceria com Kirby (Elizabeth Moss), arquivista do jornal que tem uma possível conexão com o caso, e pode ajudar a solucionar a questão.
Isso, é claro, se ela conseguir se lembrar exatamente do que aconteceu, já que sua memória está bastante confusa desde que passou pelo trauma.
"A primeira coisa que me chamou a atenção foi o roteiro, muito bem escrito. Achei que era um trabalho que balanceava muito bem os gêneros. Existe uma história de crime, a trama do feminicídio, e também uma história de ficção científica com bons personagens. Existe a busca do empoderamento da mulher, no sentido de colocar a própria vida no lugar, e esses dois personagens se aproximam de uma forma muito bonita. Eles reconhecem as mesmas feridas no outro, e eu achei tudo isso ótimo."
Interpretar um jornalista em "Shining Girls" foi uma oportunidade para Wagner voltar às origens de sua formação e de dar visibilidade a uma profissão que, segundo o próprio ator, ganha ainda mais relevância em ano eleitoral.
"Sou jornalista de formação. Acredito que o jornalismo, sobretudo hoje, é uma profissão que está em um lugar muito difícil, ainda mais com o avanço das fake news e com as pessoas adquirindo informações pelas redes sociais. Estamos vendo líderes mundiais desacreditando o trabalho do jornalismo, repórteres sendo assassinados por fazerem seus trabalhos. Eu fiquei feliz de retomar esse lado um pouco."
A vida depois de "Marighella"
Lançado nos cinemas em novembro do ano passado, com bilheterias expressivas para a pandemia, o longa "Marighella" foi a estreia de Wagner Moura na direção.
Contar a história do guerrilheiro para o Brasil atual foi uma experiência que marcou a carreira do artista baiano, que está feliz por voltar para a frente das telas, mas não descarta assumir a cadeira por trás delas mais uma vez.
"Eu fico muito feliz com o impacto e a recepção de 'Marighella'. Eu sou um ator que dirigiu um filme. Dirigi alguns episódios de 'Narcos', dirigi 'Marighella' e fiquei fazendo isso por um tempo. A pandemia interrompeu tudo, e em 2020 tudo o que eu fiz foi dirigir 'Narcos', demorei um ano para finalizar dois episódios. Então, fiquei contente de, em 2021, retomar o meu trabalho de ator, que é o que eu sou. Estou super feliz."
Sobre voltar a dirigir, Moura revela que até mesmo trabalhar ao lado de Elisabeth Moss o inspirou. A atriz, conhecida por "The Handmaid's Tale", "Mad Men" e pelo filme "Nós", de Jordan Peele, é produtora, protagonista e até encontra tempo para comandar dois episódios de "Shining Girls".
"No momento, não tenho nenhum projeto em vista, mas eu pretendo", confessa o ator. "Trabalhando com a Elisabeth Moss, fiquei acompanhando e vendo ela se dirigindo, estando em cena e, ao mesmo tempo, ligada em tudo dos bastidores. Então, fiquei pensando em Selton [Mello], que também se dirige muito bem, e acho que vou querer fazer alguma coisa com isso, experimentar mais esse desafio que é poder estar em cena e também na direção."
Do Brasil para o mundo
Wagner Moura não é o primeiro e não será o último dos artistas brasileiros a firmarem uma carreira internacional consolidada em filmes e séries de grande porte.
De Rodrigo Santoro ("Westworld) a Alice Braga ("O Esquadrão Suicida"), as portas parecem estar se abrindo cada vez mais. Com Bruna Marquezine escalada para o filme do "Besouro Azul", e Maria Fernanda Cândido estreando na franquia "Animais Fantásticos", as possibilidades parecem infinitas.
"Acredito que estamos conseguindo romper o estereótipo de personagens latinos. E isso é algo imparável, porque a realidade é que nós fazemos parte de algo. Nos Estados Unidos, somos uma comunidade grande, com importância política e importância social. Evidentemente, temos que ser representados como somos."
Para ele, garantir que os personagens latinos vistos no cinema ou na TV sejam cada vez mais complexos e próximos da realidade —e, consequente, menos caricaturais—, é um esforço conjunto.
Cabe a nós, artistas, brigar por isso. E, sim, recusar personagens caricatos, buscar este espaço de verdade na indústria americana.
Wagner Moura
Plataformas de salvação
Com uma carreira internacional amplamente marcada pela presença das plataformas de streaming, Wagner Moura atuou em filmes e séries para a Netflix ("Narcos", "Sérgio", "Wasp Network: Rede de Espiões"), e agora surge pela primeira vez em uma série da Apple. Para o ator, a presença das plataformas on demand tem um papel crucial para dar maior visibilidade a artistas que estão fora do eixo hollywoodiano.
"No Brasil, agora é o streaming que está salvando o audiovisual. Com a Ancine quebrada e a catástrofe total que é o Brasil de hoje, sobretudo da nossa área cultural com esses caras inacreditáveis que estão ocupando cargos de poder, o streaming é o que segura a indústria."
Para o ator, as plataformas sob demanda têm sido uma ponte para que artistas brasileiros ocupem novas posições no cenário global.
"As pessoas estão empregadas e trabalhando no Brasil dentro da área audiovisual graças a essas plataformas, e isso é algo que mudou mesmo a cara das produções no mundo todo. Hoje, as possibilidades de vermos atores brasileiros fazendo trabalhos fora do Brasil aumentam porque essas fronteiras estão sendo quebradas.
Quando fizemos 'Narcos', nossa maior preocupação era com os americanos, se eles iriam querer ver uma série com legendas. Hoje isso não é mais uma conversa. 'Parasita' ganhou o prêmio de melhor filme no Oscar, e isso mostra que a tendência desse mercado global é só crescer.
Wagner Moura
O que vem por aí
Além de 'Shining Girls', Wagner Moura tem outros projetos encaminhados em sua carreira internacional.
"Agente Oculto"
O filme dirigido pelos irmãos Joe e Anthony Russo (de "Vingadores: Guerra Civil" e "Vingadores: Ultimato") para a Netflix tem também no elenco Ryan Gosling, Chris Evans, Regé-Jean Page e Ana de Armas. Na história, Gosling vive um mercenário da CIA que acidentalmente descobre segredos da agência e torna-se uma ameaça caçada pelo mundo todo por assassinos internacionais.
"Civil War"
Do diretor Alex Garland ("Ex_Machina: Instinto Artificial" e "Aniquilação"), o filme da produtora A24 tem Wagner Moura e Kirsten Dunst ("Ataque dos Cães") como protagonistas. Detalhes da trama, também escrita por Garland, estão sendo mantidos sob sigilo, mas sabe-se que a história se passa em um futuro próximo, nos Estados Unidos.
Novo filme de Kleber Mendonça Filho
Ainda não há detalhes sobre a história, mas Wagner Moura já confirmou que estará no novo longa do cineasta de "O Som ao Redor" e "Bacurau", que ainda não deu início às filmagens.
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