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Nero diz que 'tirou o pé' de debates por medo de prejudicar pautas

Alexandre Nero é o entrevistado do "Papo de Segunda" - Reprodução/GNT
Alexandre Nero é o entrevistado do "Papo de Segunda" Imagem: Reprodução/GNT

Colaboração para Splash, de Pernambuco

19/04/2022 00h03Atualizada em 19/04/2022 00h29

O ator Alexandre Nero, 52, contou que atualmente tem "tirado o pé" dos debates e se afastado, por medo de prejudicar pautas.

"Nesse momento de debate, eu comecei a tirar o pé. Comecei a achar que o que eu estava falando, estava prejudicando as pautas da esquerda ou dos artistas", contou o ator durante entrevista no "Papo de Segunda" (GNT) de hoje.

"Agora, que eu sou um ator 'mainstream', eu tenho que tomar cuidado porque as pessoas acham que estou reclamando de barriga cheia. Comecei a tirar os pés do acelerador porque já tem uma formatação de imagem minha", explicou.

O programa de hoje debateu casos como os de Arthur do Val e de Gabriel Monteiro, políticos que se envolveram em polêmicas recentes. Arthur do Val está com um processo de cassação aberto após comentários preconceituosos na Ucrânia e Gabriel é acusado de ter relações sexuais com menores de idade.

Nero comentou achar que algumas pessoas realmente se identificam com políticos com falas extremas.

"Durante um tempo, eu achava que conseguiam enganar. Mas acho que hoje as pessoas se identificam com esses caras. Com a violência, esses discursos... salvadores da pátria. Não é ingenuidade, eles se identificam mesmo", declarou.

O ator, contudo, acha que existe um pouco de inocência de alguma parte, pela falta de uma profundidade no debate.

"Não acho que são pilantras como eles. Acabam acreditando por um pouco de inocência, falta de informação. Acabam caindo nesses argumentos por isso também. É muito fácil a gente cair nisso de bandido bom é bandido morto. As pessoas não se aprofundam, ficam só nesses discursos superficiais. Nunca passa pela educação, pela cultura, é papo de esquerdista. Viram discursos ideológicos e as pessoas acabam caindo no discurso desses caras", contou Nero.

Alexandre declarou, ainda, que acredita que pessoas que defendem "opiniões" preconceituosas, por muitas vezes, o fazem por cair num preconceito que é estrutural.

As pessoas não se dão conta, elas não tem exercício intelectual. Elas não se percebem racistas, homofóbicas, machistas. Elas acham que é normal. É estrutural. Alexandre Nero

Nero contou ainda que, às vezes, tenta argumentar com algum conhecido quando escuta esse tipo de comentário, mas esclarece:

"Depende muito da pessoa, da proximidade. Não é discutir, você tenta mostrar alguns lugares que a pessoa não tá pensando, que essas pessoas não acessam. Mas depende da proximidade", explicou.

"As pessoas falam uma coisa absurdamente racista, mas não se acham. O vilão nunca se acha vilão", finalizou.

Analfabeto emocional?

Durante o "Papo", Nero falou também sobre o analfabetismo emocional - a dificuldade em expressar emoções.

"Fui diagnosticado por causa dos meus filhos. Comecei a perceber que eles não sabiam [se expressar]. Eu comecei a perceber que eu também não sabia quando acontecia comigo. Comecei a me enxergar ali. E como pai, pensei que eu não sabia ensinar isso. Como eu vou explicar pra ele a tristeza, a alegria, o medo, se eu mesmo não sei. Se não me ensinaram. Fui entendendo o analfabeto emocional", contou.

O ator contou, então, que procurou terapia para poder "ensinar pelo exemplo".

"Perdi meus pais muito cedo, tive muito bloqueio, muito trauma. Sou um cara difícil de convivência, de falar eu te amo", completou Nero.