"365 Dias" chegou à Netflix em 2020, no auge da pandemia do coronavírus, e fez um sucesso estrondoso na plataforma. A história de uma polonesa sequestrada por um italiano mafioso ganhou o mundo e não foi pelo seu roteiro muito bem escrito ou pelas atuações impecáveis, até porque nada disso está presente no filme. O longa se tornou um dos títulos mais assistidos do streaming porque, durante um momento em que fomos obrigados a ficar isolados em casa, ele nos entregava sexo. Muito sexo.
E vamos tirar logo o elefante branco da sala, ok? "365 Dias" é um filme ruim, todos sabemos disso. A história é mal contada, as atuações são sofríveis, o título romantiza o abuso e até mesmo as cenas de sexo não são boas - daquelas que causam risos ao invés de calores. Mas, em plena pandemia, o público aceitou e como tudo o que faz sucesso na indústria cinematográfica, ganhou uma continuação: "365 Dias: Hoje", já disponível no catálogo da plataforma.
A Segunda Vez Foi Melhor
Na maior parte das vezes, continuações são conhecidas por serem piores que os filmes originais, mas assim como aconteceu com "O Poderoso Chefão II", "365 Dias: Hoje" consegue ser melhor que o primeiro título.
Para explicar a heresia de ter citado o filme de Francis Ford Coppola em um texto sobre "365 Dias", eu explico: inspirado nos livros homônimos da escritora polonesa Blanka Lipinska, a segunda produção da franquia entendeu o seu público e quais eram os principais pontos positivos do filme, focando apenas nisso. Então, ele encontra o seu lugar dentro da indústria do cinema e exalta suas características favoráveis, assim como fez "O Poderoso Chefão II". As semelhanças incluem também se tratar de um filme que fala sobre máfia e famílias italianas, mas param por aí.
Transem Enquanto Eles Trabalham
O foco do segundo filme é apenas um: sexo. Logo na primeira cena descobrimos que Laura (Anna-Maria Sieklucka) sobreviveu ao acidente que acontece ao final do outro filme e se casará com Massimo (Michele Morrone), que vai ao encontro da noiva antes da cerimônia. "Você não deveria estar aqui", diz a mulher sussurrando. "Estou sem calcinha", completa. E assim, em um diálogo sem pé, cabeça ou roupas de baixo, os dois decidem transar ali mesmo, em cima de uma mesa.
A partir de então, "365 Dias: Hoje" te entrega uma maratona de sexo. É sexo na cama, sexo selvagem, sexo apaixonado, sexo de roupa, sexo pelado, sexo na banheira, sexo jogando golfe, sexo com comida, sexo com vibrador... O público então sofre de overdose de sexo.
O roteiro apresenta o sonho de qualquer mortal: os personagens não precisam se preocupar com nada, nem mesmo em apresentar uma história que desperte o mínimo interesse, eles só precisam transar. Trabalhar? Fazer reuniões? Praticar um esporte? Tudo perda de tempo quando você pode apenas transar. E é isso que eles fazem. O tempo todo.
Voyeur de Qualidade
Ao incorporar 100% que o filme é sobre sexo e não sobre qualquer outra coisa, "365 Dias: Hoje" foca todos os seus esforços no assunto. Ou seja, sem vergonha alguma, aceita que o público está assistindo para ver sacanagem, mesmo que ela seja padrão: são heterossexuais, brancos, monogâmicos. É o mesmo espectador que se frustrou ao assistir "50 Tons de Cinza" e não ganhar o que queria: sexo.
Assim como no primeiro filme, nada é explícito. Mas, dessa vez, o soft porn apresentado é de qualidade. A impressão que passa é que a Netflix deixou de lado a preparação dos atores na questão atuação e investiu os recursos em aulas de intimidade e em profissionais habilidosos na captação das cenas quentes. A produção usa diferentes recursos, desde jogos de espelhos e iluminação, até o abuso de câmera lenta, quase como um longa erótico dirigido por Zack Snyder ("Baman Vs Superman").
As sequências mais quentes são bem gravadas e convencem no quesito tesão, pois os atores parecem estar organicamente felizes de gravarem aqueles momentos. Se realmente foi isso o que aconteceu, bom para eles.
Amantes do Cinema? Lugar Errado
Se você se considera "cinéfilo", passe longe de "365 Dias: Hoje". O filme não é para você. O título não quer concorrer ao Oscar e não se importa caso ganhe novamente o Framboesa de Ouro de Pior Filme do Ano. Esta produção não é para os amantes do cinema, é para os amantes da boa e velha "putaria".
"365 Dias: Hoje" quer te fazer ficar com tesão. Ele quer que você acabe de assistir ao filme e ligue para seu companheiro dizendo que está com vontade de transar. Quer que você pause no meio e vá se divertir, sozinho ou acompanhado. "365 Dias: Hoje" quer te fazer gozar, e em um período em que engatinhamos em um pós-pandemia, está tudo bem tentar entregar um pouco de prazer.
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