Ex-gospel julga reação ao se afirmar trans: 'Usam religião como arma'
Um emoji de borboleta é o que Jotta usa em suas postagens nas redes sociais. Simboliza o tempo em que ela viveu "presa no casulo" e a metamorfose que veio na sequência. Neste mês, a ex-cantora gospel se afirmou mulher trans e a notícia repercutiu ao redor do Brasil.
Diante do apoio massivo que recebeu e também das reações e comentários negativos sobre seu novo momento, Jotta reflete, em papo exclusivo com Splash, sobre seu processo de libertação e o que espera representar para outros jovens da comunidade LGBTQIA+.
A questão da sexualidade e gênero na igreja ainda é um tabu muito grande a ser quebrado. Usam a religião como arma para justificar o preconceito. Fico feliz de ser uma pessoa que gera debates. Empatia é a melhor representação de Cristo.
Jotta
Amanhã, Jotta lança sua nova música, "Éden", faixa pop produzida pelo mesmo time que já trabalhou com nomes como Anitta e Ludmilla. Diante de tantas conquistas, ela só quer celebrar. "Tirei um peso das costas. Essa é minha melhor fase. As pessoas idealizaram uma imagem minha, mas o que importa é meu bem-estar", diz.
O casulo
Jotta relembra que sempre se sentiu como mulher, mas não conseguia ver referências dentro de casa. Criada em um lar religioso e logo inserida no mercado gospel, tendo fama e se apresentando ao redor do país, os verdadeiros sonhos ficaram presos.
"A transexualidade é existente mesmo quando você não tem uma peruca na cabeça, um salto nos pés ou o poder de comprar um vestido", pontua. "Me entender como mulher vem desde a infância."
"Muitas barreiras sociais me impediram de viver tudo isso. Quando você é uma criança que nasce num lar cristão conservador, não tem muita opção. Achava que nunca poderia ser como uma mulher cis até entender que não precisava ser uma", lembra.
A metamorfose
No ano passado, Jotta se afastou das redes sociais e focou na terapia. "Foi o que me salvou e meu deu autonomia", pontua. No livro que planeja lançar no próximo mês, ela conta como a solitude foi necessária para que descobrisse a si mesma, antes de se mostrar ao mundo.
"Cresci com muita pressão midiática, isso não me deu o direito de viver a solitude. Agora foi o tempo que tirei para mim, para poder me vestir, me maquiar. Me expressar como mulher foi um salto gigante. Após me sentir pronta, aí sim veio o momento de compartilhar com as pessoas ao meu redor", explica.
A reação da família ainda é um assunto tratado com paciência. "A transição não é só minha. As outras pessoas também estão vivendo isso. Dou esse tempo e respeito", reforça Jotta. O que a alegrou foi ter o carinho máximo dos sobrinhos, ainda crianças.
"Ver uma criança me aceitando desde o primeiro momento é muito especial. Mostra que o preconceito é causado por inúmeras camadas sociais da criação. Tenho apoio da minha irmã e deles. Estou muito calma e tranquila", reforça.
A religião
Desde antes de se afirmar como mulher trans, Jotta já havia se afastado da religião. Hoje, ela diz que ainda tem fé, mas não segue mais preceitos e ensinamentos específicos. O público que conquistou nos anos de gospel hoje é um dos que mais a condena.
Gosto de deixar explícito esse posicionamento de alguns fiéis. Ouvimos muito sobre o amor de Cristo e não temos oportunidade de entender o quanto são capazes de se apropriar dessa mensagem e converter em uma arma muito perigosa.
Jotta
Antes de tornar pública sua identidade como mulher trans, Jotta se preparou muito com seu terapeuta, sabendo que enfrentaria resistência e preconceito. Mas ela espera que as palavras duras que é obrigada a ler e ouvir sejam semente de mudança.
"Só é possível entender onde é preciso mudar quando vemos onde está o erro. Se vissem os comentários que recebo, veriam que não é somente uma crença. É toda uma criação já imposta", opina.
Jotta torce para que ela sirva de exemplo e conforto para outros e outras que vivem os mesmos dilemas que ela já enfrentou e ainda enfrenta.
"Nós somos a primeira geração da humanidade a lutar por direitos LGBTQIAP+. É importante falar disso na política, nas escolas. Sem debate, não tem evolução. Quando falamos de gênero, raça, sexualidade, não estamos debatendo sobre o livro sagrado. Falamos de uma necessidade coletiva de harmonia entre todos", conclui.
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