Johnny Depp abusou da mulher, mas julgamento mostra que também foi agredido
Abusador e vítima. Johnny Depp e Amber Heard representaram esses dois papéis em seu relacionamento. O ex-casal, que se conheceu em 2012, nas gravações de "O Diário de um Jornalista Bêbado", teve um destino longe de final feliz de filme romântico. Firmado em 2015, o casamento durou 15 meses. Desde então, há seis anos, a vida privada dos dois se tornou pública e ganhou protagonismo: eles aparecem na imprensa do mundo inteiro trocando acusações, enquanto seus feitos no cinema são meros coadjuvantes.
A paixão arrebatadora que terminou em divórcio deu lugar a uma longa e milionária batalha judicial, repleta de acusações mútuas e difamações, em um relacionamento tóxico de ambos os lados. Durante o julgamento do processo por difamação movido por Depp contra Amber — que começou no dia 12 de abril, nos Estados Unidos, e ainda deve durar duas semanas —, isso foi atestado inclusive pela terapeuta do ex-casal, Laurel Anderson. Segundo ela, os artistas foram vítimas de abuso na infância e gatilhos foram acionados na convivência deles, o que refletiu no relacionamento.
Da parte dela...
Amber Heard "amou o lado de Johnny que vemos nos filmes, carismático, charmoso, generoso. Esse é o homem por quem ela se apaixonou", disse a advogada Elaine Bredehoft ao júri nas últimas semanas. "Mas, infelizmente, o monstro apareceu, e esse monstro aparecia quando bebia ou usava drogas", acrescentou, mencionando coquetéis de álcool, medicamentos, cocaína, ecstasy e cogumelos alucinógenos.
Johnny Depp sentia "uma raiva enorme" que o transformava em um "demônio" e "foi durante esses episódios de raiva que ele atacava verbalmente, psicologicamente, fisicamente e sexualmente" Amber Heard, explicou a advogada da atriz.
...da parte dele
Do outro lado, o advogado do ator, Benjamin Chew, denunciou que "Amber Heard mudou para sempre a vida e a reputação de Depp e vocês o ouvirão contar o terrível impacto que isso teve em sua vida". Segundo ele, Amber Heard acusou o então marido de violência em 2016 para se vingar dele, que teria pedido o divórcio. Durante o julgamento, Depp afirmou ser vítima de violência doméstica.
Jantar, dança, drogas e cocô na cama
Além de afirmar que Amber Heard era agressiva durante o relacionamento e lembrar que ambos usaram drogas na festa de casamento, Depp falou no julgamento também sobre um dos motivos que, segundo ele, teria causado o rompimento.
Em seu depoimento, ele destacou que a ex-mulher foi responsável por colocar fezes na cama após uma briga do casal. "Minha reação inicial foi rir", disse, sobre as fotos apresentadas. "Era uma coisa tão fora, tão bizarra e tão grotesca que eu só conseguia rir." As informações são do site Insider.
Na sequência, Depp falou sobre a justificativa apresentada por Amber após o ator encontrar as fezes na cama em que dormia. "Ela tentou culpar os cachorros. Eles são yorkshires pequenos e pesam cerca de quatro quilos cada. Eu vivi com aqueles cachorros. Eu peguei o cocô deles. Não foram os cachorros", afirmou.
O ator contou que foi agredido pela ex-mulher antes do episódio e também considerou os amigos de Amber culpados pelas fezes na cama, pois ela havia saído com eles no dia anterior.
Faca e "cinzeiro ambulante"
Um áudio de Johnny Depp chamou a atenção durante o julgamento, na última semana. A defesa da atriz mostrou uma fala do ator que pede para ser cortado com uma faca durante uma discussão, segundo o jornal Daily Mail. "Você pegou tudo e quer o meu sangue. Pegue", pediu, em 2016, segundo os advogados de Amber.
Depp alegou que o sangue era "a única coisa que ainda tinha" diante do desgaste com as discussões no casamento. Ele confirma que chegou a oferecer uma faca para a ex.
"Ela negou. Eu disse que o sangue era tudo que me restava. Se ela não fosse fazer isso, eu teria feito. Eu estava no fim, quebrado. Não havia ameaça para Heard. Tratava-se de derramar o meu sangue, era a única coisa que ela não tinha", afirmou, na sequência.
O site TMZ também apontou que Amber acusou Depp de "usá-la como um cinzeiro" e atirar cigarros em seu corpo. "Eu vou morrer! Você está me causando tanto estresse", disse ela em outro áudio apresentado durante o julgamento.
Cada briga, duas versões
As brigas horríveis eram constantes no casamento. Em maio de 2016, Amber compareceu ao tribunal com hematomas no rosto, na área dos olhos e na boca. Os machucados foram ocasionados por agressões do ex-marido, de acordo com a atriz. A defesa do ator, no entanto, diz que os ferimentos foram causados por ela mesma, pois ele e Amber não se viam havia pelo menos seis dias — o astro viajou para a Europa para uma turnê da banda Hollywood Vampires.
Quatro anos mais tarde, em 2020, parte de um depoimento em vídeo feito por Depp foi divulgado. Nele, o ator afirma que sangrou depois de Amber ter jogado uma garrafa de vodca quebrada na sua mão, que estava apoiada em um balcão de mármore. Segundo ele, o motivo da briga teria sido um contrato pós-nupcial.
A versão de Amber sobre o desentendimento é completamente diferente. Segundo ela, o ator a estava agredindo com uma das mãos enquanto batia com um telefone de plástico duro contra a parede com a outra, o que teria provocado o ferimento.
Toma lá, dá cá
"Vão ver o verdadeiro Johnny Depp, para além dos tapetes vermelhos, da fama, do dinheiro e das fantasias de pirata", disse ao júri J. Benjamin Rottenborn, um dos advogados da atriz, durante a abertura do julgamento.
Christi Dembrowski, irmã de Depp, descreveu em seu depoimento um relacionamento conjugal tóxico em que uma jovem "sempre conflituosa" exagerava os problemas de drogas e álcool do marido e o chamava de velho gordo". Amber e Depp têm 22 anos de diferença: ela tem 36 anos, e ele, 58.
"Dior é classe e estilo, e você não tem estilo", teria dito a ex-cunhada em certa ocasião, quando conversavam sobre um contrato de publicidade com a marca, contou Christi. Desde 2015, o ator é o rosto do perfume Sauvage, da grife francesa, e a marca foi uma das únicas a continuar a apoiá-lo após as acusações da ex-mulher — as vendas da fragrância (que, no Brasil, custa a partir de R$ 509) aumentaram desde que o assunto se tornou público.
Divórcio de R$ 34 milhões foi só o começo
Amber Heard deu entrada no divórcio e acusou Johnny Depp de violência doméstica, em maio de 2016. Na ocasião, foi determinada pela Justiça uma ordem de restrição — o ator deveria manter 91 metros de distância dela até que fosse realizada a audiência do caso. Ela tentou adiar o processo no tribunal, para poder usar o testemunho de Depp. O juiz, no entanto, alegou ter documentos suficientes para oficializar a dissolução do casamento, o que ocorreu em janeiro de 2017.
O martelo foi batido e um acordo de US$ 7 milhões (o equivalente a cerca de R$ 34 milhões), firmado. Os advogados de Depp recorreram pelo adiamento do processo, mas o pedido foi rejeitado. Amber também teve uma negativa no tribunal. Ela queria que o ator pagasse pelos gastos de sua defesa. No final, cada um sentiu no próprio bolso o fim do relacionamento.
Aparentemente, estava tudo resolvido. Amber prometeu que doaria os US$ 7 milhões para a caridade. Porém, em 2021, os advogados de Johnny Depp afirmaram que a boa ação não havia sido feita.
Em um comunicado enviado ao site E! News, os advogados dela confirmaram que a doação ainda não havia sido realizada por "motivos financeiros". O culpado, segundo eles, era Johnny Depp, por ter movido outras ações judiciais contra ela, o que a fez gastar novamente com advogados.
Papéis assinados, divórcio concluído e mais uma temporada lançada. Em 2017, o ex-casal não se destacava mais por seus trabalhos, mas sim pela vida pessoal repleta de acusações de abuso emocional e violência doméstica.
No fim de 2018, Amber publicou um artigo no jornal norte-americano The Washington Post: "Eu me manifestei contra a violência sexual e enfrentei a ira de nossa cultura. Isso tem de mudar". Depp nem foi citado, mas os relatos contados pela atriz rapidamente foram associados a ele. Após mais essa sutil troca de farpas, o ator entrou com um processo contra a ex-mulher, por difamação — é este o julgamento que está em curso, e Depp pede US$ 50 milhões, aproximadamente R$ 250 milhões.
Depois do artigo, o tabloide britânico The Sun publicou um texto com diversos adjetivos negativos contra Depp, entre eles "espancador de mulheres". O intérprete do pirata mais famoso do cinema processou o veículo, e perdeu a ação. Na época, houve outras revelações sobre o astro, como o uso abusivo de álcool, drogas, violência física e mental.
Sobrou até para a Disney
Depp, que deu vida a Jack Sparrow, deixou o famoso pirata dos cinemas sem um final. Segundo o agente do artista, a forma abusiva como ele aparece nas ações da ex-esposa foi responsável pela sua saída da franquia "Piratas do Caribe". Amber, inclusive, quer a Disney depondo contra o ator nos tribunais.
Um possível "boicote em Hollywood" foi citado por Depp, já que seu último filme, "Minamata", passou muito da data de estreia prevista. Exibido pela primeira vez no Festival de Berlim, em fevereiro de 2020, ele só chegou aos cinemas no fim de 2021. "Cinco surreais anos", disse o ator em entrevista ao "The Sunday Times", em agosto do ano passado, em referência ao tempo em que os dois trocam acusações e processos, entre 2015 e 2020.
Enquanto Johnny Depp fica longe do cinema, seus fãs criaram uma petição para que Amber também seja afastada do trabalho. O pedido para que ela saia do elenco de "Aquaman 2", previsto para março de 2023, já acumula mais de 2 milhões de assinaturas.
Os dois lados da história e uma conclusão: abuso mútuo
Na temporada mais recente do término do relacionamento, até a terapeuta do ex-casal precisou se manifestar. Laurel Anderson, que sempre ouviu os dois lados da história, não saiu em defesa de nenhum dos dois.
De acordo com o Deadline, a psicóloga contou que os artistas foram vítimas na infância e isso refletiu no casamento. "Ele ficou bem controlado por, não sei, quase 20, 30 anos, e ambos eram vítimas de abuso em suas casas. Com a Sra. Heard, seus gatilhos foram ativados e eles se envolveram no que eu vi como um abuso mútuo."
Ela disse, ainda, que Amber tinha um estilo "britadeira de falar" enquanto Johnny "tinha problemas para falar em um ritmo similar". Em uma anotação, Laurel escreveu: "Ele bate nela. Sem punho fechado. Ela bate de volta e começa isso por orgulho, porque seu pai batia nela."
"Ela disse que revida por orgulho... Muitas coisas são gatilhos para ela. Se está 'engatilhada', ela bate nele primeiro", apontou Laurel sobre um relato da atriz.
A realidade é que não importa por mais quanto tempo a história se arrastará: os dois seguem perdendo e não há mocinho ou bandido. As duas próximas semanas prometem ser quentes no tribunal.
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