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Mãe solo, Giselle Itié frisa: 'Você não odeia ser mãe, e sim a sobrecarga'

Giselle Itié e seu filho, Pedro Luna, de 2 anos - Maurício Nahas/Divulgação
Giselle Itié e seu filho, Pedro Luna, de 2 anos Imagem: Maurício Nahas/Divulgação

De Splash, em São Paulo

08/05/2022 04h00

Giselle Itié está comemorando hoje seu terceiro Dia das Mães. A atriz, que deu à luz Pedro Luna em 4 de março de 2020, uma semana antes da OMS (Organização Mundial da Saúde) declarar a pandemia de covid-19, é mãe solo e tem falado desde então sobre maternidade, além de ajudar outras mães com diversos projetos. No último deles, o clipe "Ocitocina", ela reflete sobre diversos assuntos que surgiram nessas rodas de discussão.

"Eu amo ser mãe. A maternidade para mim é incrível. Ver todos os segundos, a transformação dele. Amo de verdade. Tem gente que pergunta pontos bons e ruins. Não existem pontos negativos. Eu transbordo. Sou muito feliz de verdade", conta Giselle em entrevista a Splash.

Com os cabelos presos em um coque desgrenhado — típico penteado de mãe — ela fala mais sobre a maternidade real e de como isso, ao menos para ela, não tem relação alguma com amar mais ou menos seu filho.

"Existem mães que falam 'amo meus filhos, mas odeio ser mãe'. Não, você não odeia ser mãe. Você odeia essa sobrecarga. Não é só da maternidade, a carga da paternidade está em cima de você também. Porque alguém tem que fazer junto. É inviável se responsabilizar por duas pessoas."

Para a atriz, um dos maiores problemas é justamente a falta de igualdade na hora da divisão das tarefas, não apenas as práticas, mas também preocupações diárias como marcar uma consulta médica ou comprar uma roupa para a criança que está crescendo.

Infelizmente, na maioria das vezes, as responsabilidades só caem em cima da mãe.

"Quantas vezes a gente não escutou: 'mãe é padecer no paraíso'? É muito cruel essa frase. Não pode ser. Deixemos padecer o patriarcado. Eu não posso estar maternando e morrendo ao mesmo tempo, sabe?", reflete a atriz, que mais recentemente tem falado bastante de autocuidado até mesmo como uma forma de se cobrar mais por isso.

"Se eu começo a ficar irritada, meu filho vai ficar irritado. É uma conexão muito forte e profunda. A gente precisa ter um olhar afetuoso, se reeducar, tanto mulheres, quanto homens, e entender que o filho é dos dois. Do pai e da mãe. Precisa dividir de uma forma igualitária, saudável."

Padrões quebrados

Giselle conta que já estava separada havia mais de um ano do pai do seu filho, o ator Guilherme Winter, quando engravidou. "Foi uma noite iluminada que o Pedro veio." Com pais casados há mais de 40 anos e uma criação baseada no modelo tradicional, a atriz até tentou repetir o padrão, mas fracassou e aceitou a maternidade solo.

"Muitas vezes a gente quer seguir uma história bonita da família. A gente tentou retomar o relacionamento no início e já no final da gravidez não estávamos mais juntos. E tudo bem. A base de qualquer relacionamento tem que ser harmonia. Ainda mais quando vem um filho. E a gente priorizou isso."

Em casa, onde se isolou com os pais já idosos e seu irmão, a atriz buscou os melhores exemplos para o seu filho entender desde já a importância da igualdade nas divisões de tarefas dentro de um lar.

"Ele só aprende vendo. E ele copia tudo. É muito importante ele crescer vendo meu pai cozinhando, meu irmão lavando a louça, o pai dele dando comida, trocando a fralda. Ele vai aprender vendo os homens também trabalhando no cuidado. Isso que eu levanto muito. O cuidado é trabalho. E cansa."

O cuidado é uma carga que recai sobre as mulheres em geral, e não só as mães. A atriz conta que até amigas que não têm filhos acabam desabafando com ela sobre a falta de ajuda até mesmo para tarefas básicas em casa. "É importante ter uma rede de apoio não só de mães, mas de mulheres. E com homens também. Um acolhendo o outro. Esse movimento é para unir, não é para apontar dedo. Muito pelo contrário. É para a gente se reeducar, todo mundo junto. Com esse olhar vamos criar pessoinhas mais conscientes."

+ peitos - seguidores

Outro movimento que Giselle Itié defende em busca da igualdade entre homens e mulheres é o "free the nipple" (liberte o mamilo, em tradução livre). Ela, que atualmente conta com cerca de 732 mil seguidores no Instagram, diz que a cada foto postada defendendo os peitos livres, acaba perdendo pelo menos mil deles.

"O 'free the nipple' levanta a liberdade, a 'não-objetificação' da mulher. Se a gente entender que toda a sobrecarga do cuidado dentro do lar cai em cima da mulher, a gente está objetificando essa mulher. Ela é um robô, uma vassoura, ela é qualquer coisa menos um ser humano. Vai além da sexualização do nosso corpo", explica.

Ao perder seguidores, Giselle entende que ainda são pessoas que não estão preparadas para entender que nem sempre é preciso sexualizar o corpo da mulher. "Na semana passada fui ao Baile da Vogue com um figurino para já fazer um link com o clipe 'Ocitocina'. No que eu postei a foto no feed perdi mil seguidores. Um dos teasers do clipe estou com um biquíni que imita o peito, um mamilo. Tenho que avisar que estou de biquíni".

pedro luna - Maurício Nahas/Divulgação - Maurício Nahas/Divulgação
Giselle Itié e seu filho, Pedro Luna, que participou de clipe que a mãe dirigiu
Imagem: Maurício Nahas/Divulgação

Ao se deparar com a notícia chocante do estupro e morte da indígena de 12 anos por garimpeiros de Roraima, a atriz chegou até mesmo a se questionar sobre insistir no movimento.

"Uma menina indígena que estava dentro da casa dela, arrombaram a casa, estupraram a menina, mataram a menina e eu estou aqui levantando 'free the nipple'?. Mas é sobre isso também. Porque o peito está ali não é para ser objetificado. A gente não é objeto. A menina indígena que estava dentro da casa dela não é um objeto. Você não pode arrombar uma casa e tirar a vida dessa menina achando que ela é uma boneca."

Mais forte do que há dois anos, Giselle pretende continuar tocando em temas delicados, mas essenciais para a transformação do mundo que ela quer criar Pedro Luna, como a igualdade de gênero. A direção e atuação no clipe de "Ocitocina" é um recomeço e ponto de partida para mais projetos dentro do tema.

"Acredito que a gente deve transformar no amor. É o que acredito. Na guerra não vai dar. É importante a gente se abrir, se acolher. Se a gente não se cuidar a gente não consegue nem curtir os momentos incríveis."

Nós, mães, não merecemos padecer de forma alguma. Vamos viver no paraíso. Com o filho no colo. Viver realmente a maternidade.