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O que aconteceu com o médico de 'Pai Nosso?' que engravidava pacientes

O ator Keith Boyle interpreta Donald Cline em reconstituição para o documentário "Pai Nosso?" - Netflix/Divulgação
O ator Keith Boyle interpreta Donald Cline em reconstituição para o documentário 'Pai Nosso?' Imagem: Netflix/Divulgação

Laysa Zanetti

De Splash, em São Paulo

15/05/2022 04h00Atualizada em 15/05/2022 12h12

A Netflix estreou na última semana o documentário "Pai Nosso?", que conta a história de uma mulher criada como filha única que resolveu fazer um teste de DNA e descobriu o improvável: ela tinha mais de 90 irmãos espalhados pelos Estados Unidos. O médico que fez a inseminação artificial em sua mãe, Donald Cline, usava o próprio sêmen em suas pacientes, sem que elas soubessem ou tivessem consentido.

A história é contada pela documentarista Lucie Jourdan, que ouviu a revelação feita por Jacoba Ballard e narrou o drama no filme agora disponível no streaming. O material explica que Cline se desfazia das doações de sêmen que deveriam ser usadas nas respectivas pacientes e utilizava o próprio esperma no lugar. Para isso, ele se masturbava em sua sala e realizava a fecundação logo em sequência.

Antes um médico referenciado em Indiana, Donald Cline só foi responsabilizado por seus atos décadas depois de ter fertilizado 96 pacientes. O documentário explica que, mesmo após a denúncia feita por Jacoba, foi difícil acusar Cline ou responsabilizá-lo de alguma forma diante da Justiça.

O caso chegou a ser levado às autoridades quando a repórter Angela Ganote, do canal Fox 59, contou a história no telejornal. A promotoria do condado de Marion ficou responsável pela investigação. Porém, na época, o que hoje é chamado de "fraude da fertilidade" não era considerado crime segundo as leis federais ou estaduais. Ou seja, as ações do médico não podiam ser consideradas como atos criminosos.

No início, Cline negava todas as acusações contra si. Em 2015, ele recebeu duas cartas comunicando que estava sob investigação, e alegou em resposta que jamais tinha usado uma amostra sua para fazer inseminação.

Dois anos depois, ele foi acusado por obstrução de justiça, porque estava atrapalhando as investigações ao mentir para o defensor.

Ele não chegou a ser preso. Por conta do caso de obstrução, ele apenas passou um ano em liberdade condicional. Além disso, pagou uma multa de apenas US$ 500 (cerca de R$ 2.500), com o acréscimo de US$ 185 (cerca de R$ 195) para arcar com gastos da corte.

O documentário sugere que o juiz responsável pelo caso tinha certa afeição por Cline, e por isso ele não foi preso ou sofreu consequências mais graves. No entanto, isso não chegou a ser comprovado.

O que mais aconteceu?

Pai Nosso? - Divulgação/ Netflix - Divulgação/ Netflix
Médico Don Cline inseminou 96 pacientes com o próprio sêmen sem que elas soubessem
Imagem: Divulgação/ Netflix

Já aposentado oficialmente desde 2009, Cline entregou sua licença de atuação para o Conselho Médico de Indiana em 2018, um ano após a multa. O conselho votou para que ele jamais pudesse se inscrever e ter sua licença restituída no futuro.

Em 2019, o governador de Indiana assinou a primeira lei dos Estados Unidos que proibia fraude de fertilidade, efetivamente transformando em crime o que o ex-médico havia feito. A lei criminaliza qualquer representação equivocada de um procedimento clínico de fertilização, seja por uso de medicamentos, aparelhos ou técnicas aplicadas.

Depois disso, uma lei semelhante também entrou em vigor no estado do Texas.

Mesmo assim, as únicas consequências que Cline sofreu foram o pagamento da multa e a perda da licença médica. Desde 2019, ele leva uma vida discreta, ainda em sua cidade-natal.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado na primeira versão do texto, o valor da multa que Donald Cline pagou convertido para reais é de R$ 2.500 e não R$ 2,5 milhões. A informação foi corrigida.