Possessões e sustos: 'A Médium' é um dos filmes mais perturbadores do ano
"A Bruxa de Blair" (1999) popularizou o "found footage" cinematográfico, mas o subgênero não foi inventado nesse período. Para quem não está familiarizado com o termo, ele define produções que simulam filmagens caseiras, com câmeras tremidas, atuações em formato de reality ou testemunho e registros que, geralmente, são encontrados por outras pessoas, depois que os eventos capturados já foram concluídos.
O sucesso do filme ajudou a tornar o subgênero mundialmente conhecido, embora ele tenha surgido bem antes. O polêmico "Holocausto Canibal" (1980) foi o longa responsável pelo nascimento do "found footage", e é desse clássico do terror que "A Médium", que chega esta semana aos cinemas do Brasil, bebe direto da fonte — pelo menos, uma parte dele.
Explorando a técnica do "mockumentary" (falso documentário) à exaustão, o filme começa apresentando a personagem Nim (Sawanee Utoomma), uma médium experiente que reside em Isan, região Nordeste da Tailândia. Nim recebe a equipe de documentaristas e apresenta a eles sua casa e sua rotina, que envolve curas espirituais em nome da entidade Bayan, que a acompanha desde a juventude.
Não seria exatamente um spoiler revelar que o filme trata de possessões e sustos, mas, até chegarmos neste ponto, a narrativa se arrasta um pouco. Contudo, o diretor Banjong Pisanthanakun usa o longo tempo com certa sabedoria, e consegue contextualizar a família protagonista, ambientar seu dia a dia e fazer um recorte da cultura e espiritualidade tailandesas, nas quais todos estão inseridos.
Porém...
Já na segunda metade do longa em diante, a coisa muda de figura: o cotidiano corriqueiro da família, repleto de imersão e suspense, é substituído por reflexos de atos impensados do passado e terror gráfico. Nim, a médium que conhecemos logo nos primeiros minutos, é a irmã mais nova de Noi (Sirani Yankittikan).
Anos atrás, como a trama explicita, Noi era quem deveria ser a receptora da divindade Bayan, que acompanha as mulheres da família há gerações. Entretanto, quando começou a perceber que se tornaria uma médium, Noi negou seu destino, legando a sina incomum para Min.
Aparentemente, tudo certo e resolvido em Isan. Entidade direcionada e todos felizes. Bom, jamais poderíamos assistir a um filme de terror no qual seria tão fácil livrar-se de um espírito. Desta vez, é Mink (Narilya Gulmongkolpech), filha de Noi, quem apresenta os sintomas da presença de Bayan, como uma aparente penitência pelas escolhas controversas da mãe.
Agora, é necessário que a família entenda e oriente a jovem no processo que, aparentemente, a transformará na mais nova médium local.
É de certo que sustos, tensão e alguns gatilhos estão mais do que presentes no longa. Assim como "Holocausto Canibal", filme banido em alguns países, "A Médium" traz cenas gráfica e psicologicamente perturbadoras. A técnica da "câmera na mão" e o cuidado com a cenografia, que plasticamente nos transporta para o interior da Tailândia, torna tudo ainda mais realista e aterrorizante.
Para aqueles que adoram se contorcer aflitivamente na poltrona do cinema e, de quebra, pescar referências a "REC" (2007), "O Exorcista" (1973), "Atividade Paranormal" (2007) e a tantos outros clássicos do terror, "A Médium" é uma boa pedida nas telonas.
Talvez a necessidade de referenciar tantas produções, aparentemente amadas pelo diretor, tenha tornado a conclusão do filme esvaziada de identidade. Enquanto o primeiro ato apresenta algo inédito para muitos, que é o mergulho em uma vertente espiritual tailandesa, seu desfecho pode ser encarado como lugar comum.
Porém, embora carregue influências norte-americanas e europeias, o filme é um típico terror asiático, com elementos que fogem da hegemonia fílmica e tornam a narrativa, como um todo, diferente do padrão e necessária aos fãs do gênero. Vale bastante a experiência.
Confira o longa a partir desta quinta-feira (19) nos cinemas. Mas só se tiver coragem.
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