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Contamos a história de artistas que foram famosos e estão afastados do mundo do entretenimento, investindo em uma outra carreira, ou vivendo em outro país.


O que aconteceu com Kelly McGillis, a namorada de Tom Cruise em 'Top Gun'?

Kelly McGillis e Tom Cruise formaram casal em "Top Gun" (1986) - Divulgação
Kelly McGillis e Tom Cruise formaram casal em "Top Gun" (1986) Imagem: Divulgação

Mariana Assumpção

da Ingresso.com

25/05/2022 04h00

Quando "Top Gun: Ases Indomáveis" (1986) chegou aos cinemas, Kelly McGillis tinha 29 anos e vivia o auge de sua carreira. No longa, a atriz deu vida a Charlotte "Charlie" Blackwood, instrutora de voo que se apaixona por Maverick (Tom Cruise) e vive um romance com o personagem na trama.

Contudo, mesmo sendo dona de um papel central em um blockbuster oitentista, McGillis não seguiu os passos de outras estrelas que surgiram em Hollywood no mesmo período. Uma vida pessoal conturbada, alcoolismo e traumas do passado foram alguns dos fatores que fizeram a atriz se afastar da indústria.

Hoje, ela passa a maior parte de seus dias reclusa, desfrutando de sua cabana no alto de uma montanha da Carolina do Norte. Afinal, o que aconteceu com ela?

MUITO ANTES DE DECOLAR

Kelly nasceu em 1957 na cidade de Newport Beach, Califórnia. A jovem viveu e cresceu em uma casa à beira-mar, mas os hábitos locais, como o surfe, não eram para ela. Quando criança, Kelly escreveu, dirigiu e estrelou suas próprias peças em frente à lareira de sua avó e forçou suas duas irmãs a contracenarem com ela, em papéis coadjuvantes.

Anos mais tarde, ela estudou teatro no Pacific Conservatory of the Performing Arts, em Santa Maria, e em 1979 foi aprovada no programa de atuação na Juilliard School, de Manhattan. Ainda como estudante, McGillis estreou nos cinemas em "Amor e Boemia" (1983), mas o trabalho não fez dela uma estrela instantânea. Mesmo depois de protagonizar o longa, que rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator a seu parceiro de projeto, Tom Conti, a atriz continuou trabalhando como garçonete.

E foi durante o seu expediente em uma lanchonete que o diretor Peter Weir, que havia assistido ao seu filme anterior por acaso, a convidou para fazer um teste para "A Testemunha" (1985), que estava desenvolvendo com o astro Harrison Ford.

Em diversas entrevistas, a atriz comentou que jamais imaginou conseguir o papel, afinal, McGillis estava acostumada a interpretar um perfil muito diferente em seus trabalhos: "Eu nunca havia sido escalada como uma moça inocente até este filme", disse ela à People, na época do lançamento. "Eu dei vida a várias mulheres fortes ou prostitutas", comentou, demonstrando espanto por ter sido escolhida para viver Rachel Lapp, uma jovem viúva Amish, nos cinemas.

O VOO METEÓRICO EM TOP GUN

"A Testemunha" apresentou o trabalho que de fato tornou a atriz popular nas telonas, e sua performance, elogiada pela crítica, chegou a receber uma indicação ao BAFTA. O longa da Paramount Pictures acabou abrindo portas para Kelly em um outro projeto audacioso do estúdio: "Top Gun: Ases Indomáveis".

A princípio, McGillis interpretaria uma bailarina, que viria a ser o potencial interesse amoroso de Pete Mitchell, personagem de Tom Cruise. Contudo, o ator sugeriu que seu par romântico fosse representado por uma figura feminina com características mais maduras e alinhadas ao estereótipo de "mulher moderna" da época.

Assim, a personagem Charlotte Blackwood, apelidada de Charlie, foi construída: uma instrutora de voo bem-sucedida e independente, que usa jaquetas de couro, bebe cerveja e mora sozinha.

O papel transformou a atriz em um verdadeiro símbolo imagético da feminilidade norte-americana; e, com o peso desse status, novas oportunidades surgiram, igualmente com grandes problemas. Depois do lançamento do longa, Kelly revelou que a fama se transformou em um verdadeiro terror para ela:

"Foi realmente intimidante para mim. Não pretendia ser famosa, eu só aspirava ser uma atriz. E esse filme meio que assustou minha realidade em grande estilo. Fiquei muito mexida, não sabia em quem confiar", disse ela ao Los Angeles Times, em 2013.

OS TRAUMAS DO PASSADO

Com uma carreira em exponencial ascensão, não demorou muito para que McGillis fosse convidada a estrelar outro longa promissor. Em "Acusados" (1988), baseado em uma história real, Kelly foi inicialmente escalada para viver Sarah Tobias, uma mulher que foi vítima de um estupro coletivo. A atriz negou o convite, e optou por interpretar a advogada da personagem.

O papel de Sarah ficou a cargo de Jodie Foster, que ganhou seu primeiro Oscar de melhor atriz pela performance. Com a repercussão do longa, amplamente elogiado, Kelly revelou um capítulo doloroso de sua vida: em 1982, pouco tempo depois de mudar-se para Nova York, ela e uma amiga, com quem dividia o apartamento, foram surpreendidas por dois homens que invadiram a residência. Eles amarraram a dupla, feriram-nas com uma faca e as violentaram sexualmente.

A trama de Acusados fez a atriz relembrar, com muito pesar, a triste experiência que viveu. Para ela, interpretar uma personagem com um passado semelhante ao seu estava fora de cogitação. Após a veiculação da entrevista que concedeu à People, na qual revelou o trágico acontecido, a atriz precisou enfrentar um outro drama: os questionamentos de jornalistas e de seu ex-marido, que a acusaram de dar luz à história apenas para alavancar as notícias sobre o filme.

COMO ESTÁ KELLY MCGILLIS HOJE EM DIA?

Além do ocorrido em 1982, a atriz foi vítima de outra violência sexual, um atentado contra a sua vida e passou por uma série de relacionamentos abusivos. Sua vivência posterior na indústria do cinema, repleta de experiências sexistas e objetificantes, contribuíram para que ela mergulhasse em um período extremamente conturbado.

Apesar de ter sido casada com alguns homens e ter tido duas filhas com um deles, Kelly sempre foi alvo de paparazzi que a flagravam em companhia de outras mulheres. Entre os supostos romances, os nomes de Jodie Foster e Whitney Houston figuram como alguns de seus possíveis envolvimentos amorosos.

Desde a década de 90, a pressão midiática a fez enfrentar anos de luta contra o uso de drogas e álcool. Em 2009, após diversos rumores e manchetes sensacionalistas, McGillis enfim assumiu a sua homossexualidade: "Não quero mais viver uma mentira", afirmou algumas vezes.

Ela, inclusive, revelou muitos anos depois que, a moça com quem morava em 1982 não era sua amiga, mas uma namorada. A pressão e a homofobia que sofreu na época a fizeram se culpar pela agressão, acreditando que o crime seria um reflexo de seus "atos homossexuais pecaminosos". Hoje, a atriz parece ter se libertado de todos os pensamentos retrógrados que a atravessavam na época, e vive sua sexualidade de forma livre.

Quando morou em Nova Jersey, a atriz conseguiu um emprego como conselheira, trabalhando com alcoólatras e usuários de drogas em uma clínica de reabilitação local. Ela também atuou como voluntária em um presídio, fazendo visitas periódicas aos detentos e ajudando-os em seu processo de ressocialização.

Sobre os trabalhos como atriz, Kelly chegou a fazer algumas participações em produções mais atuais, como "The L Word" e "Encontrando o Amor em Sugarcreek" (2014), seu crédito mais recente.

POR QUE A CHARLIE DE KELLY MCGILLIS NÃO APARECE EM TOP GUN 2?

Kelly McGillis tinha 28 anos quando deu vida à instrutora Charlie Blackwood em "Top Gun" - Divulgação - Divulgação
Kelly McGillis tinha 28 anos quando deu vida à instrutora Charlie Blackwood em "Top Gun"; como ela está hoje em dia
Imagem: Divulgação

Kelly revelou que não foi convidada para retornar ao papel em Top Gun: Maverick, sequência do longa de 1986. Entre atores e atrizes que não voltam à franquia, também estão Tim Robbins, Meg Ryan e Tom Skerritt.

A atriz atribui a sua aparência, que foge dos padrões hollywoodianos de "juventude eterna", ao motivo de não ter sido escalada para este e outros trabalhos. Contudo, segundo informações da Smooth Radio, Joseph Kosinski, diretor da continuação, afirma que não existia espaço para o retorno da atriz e de alguns outros rostos do longa anterior:

"Eu não queria que todas as histórias fossem sempre olhando para trás. Era importante apresentar alguns novos personagens", explica o cineasta. Ele também ressalta o orgulho das novas narrativas, em especial a de Jennifer Connelly. A atriz dá vida a Penny, personagem brevemente citada em Ases Indomáveis e que, desta vez, ganha um importante protagonismo na trama.

Além de Tom Cruise e Jennifer Connelly, o elenco da sequência é formado por Val Kilmer, Miles Teller, Ed Harris e Jon Hamm. No Brasil, a estreia do longa acontece nesta quinta-feira (26) exclusivamente nos cinemas - garanta o seu ingresso através do nosso site ou app.