'Cara e Coragem' traz família negra rica sem estereótipos: 'Poder na mão'
"Cara e Coragem" estreia hoje na TV Globo e traz à telinha uma família negra rica sem estereótipos. Pelo menos, é o que conta o elenco da nova novela das 19h escrita por Claudia Souto.
Na trama, a família Gusmão é dona de uma grande siderúrgica. Clarice (Taís Araujo) é a presidente, enquanto o irmão mais novo, Leonardo (Ícaro Silva), possui um alto cargo na empresa. A mãe deles, Martha (Claudia di Moura), chega à história para assumir o cargo da presidência quando a filha mais velha morre misteriosamente.
Claudia di Moura, que interpreta a matriarca da família, se emociona ao falar da representatividade que a história vai mostrar ao público.
"A Família Gusmão é rica de nascença, diferente do que o audiovisual cristalizou: as nossas presenças em um lugar de subserviência, famílias pretas desestruturadas e ameaçadas. Quando a gente vê uma família, um núcleo preto com três gerações de dinheiro, pessoas que não conheceram a pobreza e a dor. Isso é representatividade. 56% do meu povo vão dizer: 'sim, é possível. Eu quero estar refletida nessa mulher'", diz Claudia di Moura.
"Nós temos um núcleo preto, poderoso, com o poder de comando na mão.
completa a atriz.
Claudia di Moura ainda enaltece a personagem. "A Martha é um aperitivo do que o povo preto tem de direito negado ao longo desses tempos. Ela tem riqueza material, empoderamento emocional, oportunidade de desenvolvimento pessoal. É uma mulher que leva a vida sem medo", ressalta.
Emocionada, ainda conta que foi difícil gravar uma cena em que a personagem chega em um jatinho próprio. "A Martha chega em um jatinho próprio. Foi dificil de fazer porque naquele jatinho desceram 56% do meu povo preto e pardo autodeclarados e toda uma nação indígena. A família Gusmão é a encarnação de uma justiça social que a gente não vê, mas que a gente vem gritando e reivindicando", completa.
Ao ver a mãe da ficção emocionada, Ícaro Silva não deixa de elogiar a atriz. "Quero exaltar o que a Claudia di Moura disse, a carreira, o talento e o brilho dela. Agradecer a Claudia [Souto] por colocar uma atriz desse tamanho, potência e inteligência. Ainda tenho a sorte de contracenar com ela", diz.
Ícaro também comenta o próprio personagem. "Ele é um cara jovem, preto, bilionário. Ele tem um Porsche, está em uma empresa de grande sucesso, nasceu rico, não sabe o que é pobreza. Tem várias camadas do meu entendimento como brasileiro que o Leo não entende", explica.
Escuta feminina
Taís Araujo, que vai interpretar a massoterapeuta Anita na trama, destaca que a novela é escrita e dirigida por mulheres - isso não acontecia na emissora desde "A Lei do Amor", há cinco anos. Para ela, a escuta feminina permite maior dialogo na construção do texto da trama.
"Tenho 25 anos de TV Globo e é muito bom ver uma autora que não se coloca no lugar de Deus, apesar de brincar de Deus enquanto escreve as vidas dos personagens. Tem a disponibilidade de entender que o ator, a diretora, a figurinista também são autores. Todo mundo está na composição dessa história", argumenta.
"Nesse período, eu nunca tive diálogo nesse nível, de [a autora] falar assim: 'cara, essa não é minha vivência e realidade. Tô aprendendo e colocando na história'. De fato, é a primeira vez. Isso é um grande passo na dramaturgia. E é possível porque são duas mulheres no comando", completa.
A autora Claudia Souto revela que a cena em que as duas personagens vividas por Taís se encontram e falam sobre as laces de cabelo usadas por mulheres negras só foi escrita após contribuição da atriz. A cena foi um adendo ao capítulo que já estava finalizado. Por isso, a autora agradece as contribuições do elenco negro ao texto e à direção da obra.
"Como autora, estou abrindo um espaço, mas eu não entendo muito. Eu sou fruto de uma dramaturgia do patriarcado branco. É tudo muito novo para mim. Agradeço muito a Claudia di Moura, Taís Araujo, Ícaro Silva e Paulo Lessa pela generosidade de vocês me ensinarem", diz.
"É absurdo a gente olhar para o nosso país e eu ainda estar aprendendo com vocês, eu não ter aprendido antes de escrever. Que bom que a novela é uma obra aberta", finaliza.
"Quebrando estereótipos"
Além dos componentes da família Gusmão, a trama traz outro destaque negro. O ator Paulo Lessa dá vida a Ítalo, seu primeiro protagonista na TV. Ele é namorado de Clarice e vai investigar a morte da amada junto dos dublês Pat (Paolla Oliveira) e Moa (Marcelo Serrado).
"Não é toda hora que a gente faz um protagonista. A gente para para pensar que, na minha infância, na minha adolescência, eu não tive o Ítalo. Em 2022, tenho a oportunidade de ser esse cara", pensa.
"A novela vem quebrando alguns estereótipos também, vai além do entretenimento. O Ítalo é um retrato disso, é um protagonista negro, muito bem-sucedido, tem uma casa incrível, um carro maravilhoso e não é um personagem superficial. É cheio de camadas", completa Paulo
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