Milton Gonçalves e sua trajetória de 57 anos só de TV Globo
Após enfrentar sequelas de um AVC sofrido em 2020, o ator Milton Gonçalves morreu hoje, por volta das 12h30, aos 88 anos. O artista estava na TV Globo desde o primeiro ano de atividades da emissora carioca, em 1965.
O ator mineiro integrou o primeiro elenco de atores da Globo, junto de Célia Biar e Milton Carneiro, segundo informações do Memória Globo. Na época, comemorou o salário de 500 cruzeiros.
Não tinha inaugurado nada ainda. Os três estúdios e o auditório pareciam para mim os estúdios da Universal. O primeiro salário foi 500 cruzeiros. E eu fiquei feliz.
Milton Gonçalves ao site de memórias da emissora
Milton Gonçalves participou das primeiras experiências dramatúrgicas da Globo, o seriado "Rua da Matriz" e a novela "Rosinha do Sobrado". Ambas produções foram dirigidas por Graça Mello, responsável por convidar Milton para a TV após trabalhar com ele no cinema.
Mas a história de Milton com a arte começou antes de chegar à TV Globo. Na década anterior, atuou na peça teatral "Ratos e Homens" e no longa "O Grande Momento". Antes disso, o filho de camponeses mineiros foi aprendiz de sapateiro, de alfaiate e de gráfico ao longo de sua juventude na capital paulista.
Personagens marcantes
A partir da década de 1970, o ator fez personagens marcantes e que ainda são lembrados pelos telespectadores. Em 1972, viveu o professor Leão do infantil "Vila Sésamo". Depois, o Zelão das Asas de "O Bem-Amado" novela de Dias Gomes. Esse personagem representava uma metáfora da busca por liberdade política e de expressão durante a ditadura dos anos 1970.
Já em 1975, durante a novela "Pecado Capital", escrita por Janete Clair na faixa das 8, ele viveu o psiquiatra Dr. Percival. O personagem era um médico renomado internacionalmente, algo raro nas novelas daquela época, pois atores negros eram chamados para atuar como empregados, motoristas ou escravos.
Dez anos depois, voltou a trabalhar com Dias Gomes na novela "Roque Santeiro" (1985), uma das maiores audiências da história da TV brasileira. Também trabalhou em minisséries como "Tenda dos Milagres" (1985), "As Noivas de Copacabana" (1992), "Agosto" (1993) e "Chiquinha Gonzaga" (1999).
Milton, que se candidatou ao governo do Estado do Rio de Janeiro em 1994 pelo PMDB, usou a sua experiência no universo da política para compor o personagem Romildo Rossi, um político corrupto, em "A Favorita" (2008), de João Emanuel Carneiro. A trama está no ar atualmente no "Vale a Pena Ver de Novo".
Na última década, Milton participou da novela "Insensato Coração" (2011), de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, "Pega Pega" (20127), de Claudia Souto, e "O Tempo Não Para" (20128), de Mario Peixoto.
Seu último trabalho na Globo foi na minissérie "Se Eu Fechar os Olhos Agora", em 2019. Mas o último papel de sua carreira aconteceu no filme "Pixinguinha, Um Homem Carinhoso", lançado em 2021.
Novelas de época e presença no Emmy
A carreira de Milton Gonçalves também é marcada por atuações em novelas de época. Em 2006, ele esteve na segunda versão de "Sinhá Moça", novela indicada ao prêmio Emmy Internacional na categoria Série Dramática. Na cerimônia, ele se tornou o primeiro brasileiro a entregar um prêmio. No caso, ele entregou a estatueta de melhor programa infantojuvenil ao lado da atriz norte-americana Susan Sarandon.
Em 2012, voltou a uma trama de época ao dar vida a Afonso Nascimento em "Lado a Lado", novela de João Ximenes Braga e Claudia Lage, que ganhou o Emmy Internacional. A história era ambientada no período posterior à abolição da escravidão no Brasil e retrata a luta dos negros do Rio de Janeiro por igualdade. Na vida real, Milton era reconhecido por ser militante do movimento negro e usar sua projeção artística a favor de conquistas sociais.
Ator e diretor de TV
Além de atuar em mais de 40 novelas da Globo, Milton Gonçalves também dirigiu alguns projetos da emissora. Teve sua primeira experiência no seriado "Balança Mas Não Cai" (1968) e na novela "Irmãos Coragem" (1970). Ele atuava na trama de Janete Clair, que é considerada um marco da televisão brasileira, até que um dia o diretor Daniel Filho deixou o comando em sua mão.
"Comecei como assistente do Daniel Filho na novela Véu de Noiva, em que também fazia um pequeno personagem. Depois dessa, veio Irmãos Coragem, na qual eu fazia o Brás Canoeiro, e também ajudava na direção. Até que o Daniel disse: 'Eu vou entregar a novela pra você'. Um belo dia, ele tirou o fone e já foi dando tchau. Eu botei o fone e disse: 'Olha, o Daniel está indo viajar. Vocês vão me desculpar durante dois dias. Eu vou errar, mas depois vamos acertar'. E assim foi feito", contou ele.
Também dirigiu a novela O Homem que Deve Morrer (1971), Selva de Pedra (1972) e Escrava Isaura (1976), uma das novelas brasileiras de maior êxito no exterior. Também esteve no comando de alguns projetos como "Caso Verdade: Última Gota" (1982), "Mocinhos e Bandidos (1982) e "Um Engano Mortal" (1982).
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