Val Kilmer: carreira, câncer e volta emocionante ao cinema em 'Top Gun 2'
O lançamento de "Top Gun - Ases Indomáveis" (1986) representou um sucesso estrondoso para a Paramount Pictures, e rendeu mais de US$ 350 milhões em bilheteria. Contudo, muitos anos se passaram até que os planos para uma sequência começassem a surgir.
Tom Cruise, além de estrelar o longa original, retorna à continuação não só reprisando o papel principal, mas também como um dos produtores. Prezando pelo realismo nas cenas de ação, ele fez questão de liderar um treinamento para que os atores estivessem aptos a pilotar aviões durante as filmagens. Porém, Cruise tinha uma outra exigência para que Top Gun: Maverick saísse do papel: a presença de Val Kilmer no elenco.
Na première do filme, Tom Cruise falou sobre o retorno imprescindível de Tom "Iceman" Kazansky, desafeto de seu personagem na trama de origem. Em entrevista ao "Entertainment Tonight", ele elogiou Kilmer:
À "People", o produtor Jerry Bruckheimer, que atua na função desde "Ases Indomáveis", citou uma conversa entre ele e Tom Cruise, dizendo que o astro foi incapaz de abrir mão da participação de Val Kilmer no novo longa:
"Ele disse: 'Temos que ter Val, temos que tê-lo de volta. Temos que tê-lo no filme'. Ele era a força motriz. Todos nós o queríamos, mas Tom estava realmente convencido de que, se ele fosse fazer outro 'Top Gun', Val tinha que estar nele", enfatizou Bruckheimer. "Ele é um ator tão bom e uma pessoa tão boa. Nós nos divertimos muito no primeiro e queríamos reunir alguns da turma novamente", completou o produtor.
O mais curioso em toda essa dinâmica, que deixa explícito como a relação de amizade entre a dupla de atores só se fortaleceu ao longo dos anos, é que, por pouco, Val Kilmer não fez parte do elenco de "Top Gun - Ases Indomáveis".
Saiba mais sobre o seu histórico na franquia e relembre a trajetória inspiradora do ator. Hoje, mesmo depois de enfrentar diversos dramas pessoais, ele ressurge em Hollywood como o Almirante "Iceman" em "Top Gun: Maverick".
OS PRIMEIROS PASSOS NO TEATRO E NO CINEMA
Kilmer nasceu em pleno réveillon, no dia 31 de dezembro de 1959, em Los Angeles. Sempre vivendo na Califórnia, ele estudou na Hollywood Professional School. Na escola, que já foi um conservatório de música no passado, se formaram diversos outros artistas norte-americanos de sucesso, como Judy Garland, Melanie Griffith e Mickey Rooney.
Desde pequeno, Kilmer participou de campanhas publicitárias, mas sempre foi muito firme e decidido sobre os seus trabalhos: ainda criança, quando foi escalado para estrelar um comercial de uma marca de hambúrgueres, Kilmer negou a oportunidade:
"Aqueles hambúrgueres eram terríveis. Se eu não acreditar que eles são realmente bons, não vou conseguir vendê-los", contou o astro.
Anos mais tarde, Val Kilmer ingressou na Juilliard School, em Nova York, outra instituição que costuma abrigar expoentes da dramaturgia, dança e música estadunidenses. Quem acompanha de perto a carreira do ator, com certeza já teve a oportunidade de vê-lo afirmar que o teatro é uma de suas maiores paixões, e foi nesse período que ele começou a se destacar nos palcos do país.
Embora já tenha declarado que a rigidez do ensino da Juilliard o tenha feito quase desistir da formação, Kilmer começou a estrelar peças de teatro desde essa época, e usava sua voz marcante de barítono em clássicos como "Orestes" e "The Wood Demon".
Em 1983, ainda bastante jovens, Kilmer, Kevin Bacon e Sean Penn estrelaram a peça "Slab Boys", cujo registro de uma das cenas pode ser visto na imagem acima. A montagem off-Broadway foi bastante elogiada pela crítica e, não à toa, o trio ganhou ainda mais destaque em Hollywood. Embora os companheiros de projeto de Val Kilmer já tivessem participado de produções cinematográficas — Bacon virou uma verdadeira estrela após o sucesso de "Footloose" (1984) e Penn foi crescendo em filmes posteriores à peça, como "Juventude em Fúria" (1983), "Adeus à Inocência" (1984) e "A Traição do Falcão" (1985).
Já para Kilmer, que nunca havia atuado nos cinemas, o período nos palcos foi ainda mais marcante: colhendo os frutos das críticas positivas desde que ingressou na Juilliard, Kilmer foi convidado para ser o protagonista da comédia musical "Top Secret! Superconfidencial" (1984). Interpretando o magnético Nick Rivers, Val estreou em Hollywood com um papel principal bem-sucedido, o que abriu portas para ele na indústria muito rapidamente.
"TOP GUN": TOPO OU NÃO TOPO?
Antes de 1986, quando "Top Gun: Ases Indomáveis" chegou aos cinemas, Kilmer já havia estrelado seu primeiro longa e a ficção científica "Academia de Gênios" (1985), outra comédia na qual o ator teve bastante destaque. E foi emplacando dois sucessos que ele, com contrato fechado com a Paramount Pictures, precisou viver Iceman nos cinemas. Sim, "precisou" é a palavra adequada, pois Kilmer, a princípio, não quis fazer parte do filme.
Assim que teve contato com o roteiro e a premissa de "Top Gun: Ases Indomáveis", o ator achou o projeto "bobo", e suas obrigações com a Paramount definiram sua participação no longa.
Seu papel como o piloto, que na conclusão da história demonstra ter posto um ponto final em suas diferenças com Maverick, ajudou não só a ele como a todo o elenco a consolidar suas carreiras em Hollywood.
OS ANOS 90: DE ASTRO DO ROCK A SUPER-HERÓI DOS QUADRINHOS
A experiência nos palcos e no cinema fez de Kilmer um ator multifacetado, que conseguiu emplacar papéis de sucesso em filmes dos mais variados gêneros.
Logo depois de "Top Gun", em 1988, "Willow - Na Terra da Magia" foi sua primeira empreitada em um longa fantástico que se transformou em um verdadeiro clássico e num dos ícones da Hollywood oitentista. Em 1991, Kilmer voltou a impressionar público e crítica em "The Doors - O Filme", drama no qual interpreta Jim Morrison, líder da banda que dá título à produção.
Na pele do falecido rock star, 20 anos após sua morte precoce, Kilmer entregou-se de corpo e alma ao personagem: o astro canta em algumas cenas, chegou a quebrar o braço durante as filmagens e desbancou outras estrelas cotadas para viver Morrison nas telonas, como John Travolta, Tom Cruise e Jason Patric.
Em entrevista recente ao "The New York Times", Kilmer relembrou um de seus trabalhos mais marcantes no cinema: Bruce Wayne, o super-herói bilionário em "Batman Eternamente" (1995).
O ator confessou que sempre sonhou em viver o personagem. Em 1994, enquanto fazia uma viagem por vários países do continente africano, decidiu passar uma manhã explorando uma caverna repleta de morcegos. Nesse mesmo dia, foi acometido por uma forte intuição e ligou para o seu agente nos Estados Unidos, para saber como estavam as coisas por lá. O homem revelou que tentava contato com Kilmer há dias, para avisá-lo sobre um convite inusitado: desempenhar o papel de Batman.
A vida de Kilmer parece rodeada de experiências incomuns, que beiram o sobrenatural. Quando viu Joanne Whalley pela primeira vez, em uma peça de teatro em Londres, se apaixonou perdidamente por ela, e chegou a escrever um poema dedicado à sua paixão platônica, que dizia que os dois se casariam em breve.
Nos sets de "Willow - Na Terra da Magia", ele descobriu que a atriz estaria no filme, e não demorou muito para que eles começassem a namorar. Kilmer e Whalley se casaram em 1988 e ficaram juntos até 1996; o casal teve dois filhos, Jack e Mercedes Kilmer.
A LUTA PELA VIDA
Embora dar vida ao Homem-Morcego tenha ajudado a impulsionar a carreira de diversos astros em Hollywood, o mesmo não aconteceu com Kilmer. Anos depois de interpretar Bruce Wayne, o ator lamentou que sua participação como o super-herói tenha sido pouco marcante. Primeiramente, porque Tommy Lee Jones e Jim Carrey acabaram roubando a cena, dando vida aos vilões Duas Caras e Charada, respectivamente. Além disso, Kilmer alegou que o uniforme do Batman simplesmente impossibilitava seus movimentos, e o capacete impedia que ele ouvisse grande parte do que acontecia ao seu redor:
"Foi frustrante. Parecia que a minha única função era aparecer no set e me manter parado no lugar onde mandavam ficar", lamenta Kilmer, no documentário "Val" (2021).
Para ele, o papel de Simon Templar em "O Santo" (1997) foi um grande erro. A partir daí, somado à fama de ter um temperamento difícil nos bastidores, as oportunidades foram diminuindo, e o ator não conseguiu papéis à altura do alto escalão de Hollywood.
Kilmer relata diversas experiências pessoais e profissionais em seu documentário autobiográfico, cujo lançamento foi motivado por um dos maiores dramas enfrentados por ele: um câncer na garganta.
Em 2014, enquanto encenava um monólogo sobre seu ídolo Mark Twain no teatro, Kilmer começou a sentir um incômodo no pescoço. Em uma visita ao médico, foi encontrado um tumor. Nessa época, a Ciência Cristã, crença seguida pelo ator, fez com que Kilmer negasse qualquer tipo de tratamento proposto pela medicina tradicional.
Mas não foi tão simples. Em 2016, o ator Michael Douglas, que também havia sido diagnosticado com um câncer, revelou que Val Kilmer enfrentava a doença. No entanto, o ator negou a informação dada pelo amigo. Foram anos de tratamento com base na Ciência Cristã, até que seus filhos, que não são adeptos da religião, intervieram na situação.
Em 2020, Kilmer foi submetido a uma cirurgia e no ano seguinte sua filha afirmou que ele ainda estava em tratamento.
O RETORNO AOS CINEMAS
Por mais irônico que pareça, o papel que, por pouco, não fez parte de seu currículo, foi o responsável por trazê-lo de volta aos cinemas, depois de anos afastado por questões de saúde.
Em "Top Gun: Maverick", Kilmer retorna como Iceman, marcando um renascimento para o astro nas telonas. Nos últimos anos, ele precisou ser submetido a uma traqueostomia, o que levou uma de suas características mais marcantes como ator: a voz.
Em entrevista ao "The Post", Mercedes Kilmer, sua filha mais velha, disse que ver o pai em Maverick foi "extraordinário". Pelo fato de estar praticamente impedido de falar, a produção do longa investiu em uma tecnologia de inteligência artificial inovadora, que coletou gravações antigas do ator e recriou sua voz, que aparece inserida nas cenas:
"Foi emocionante e muito especial para meu pai estar no set com todos os amigos que fizeram este filme quando tinham a minha idade", diz a jovem, que também é atriz. "Significa muito para o meu pai, pois ele está muito orgulhoso desse filme. É isso que ele gosta de fazer", conclui Mercedes.
Hoje, aos 62 anos, Kilmer ainda tem sequelas do câncer. Contudo, seu retorno em "Top Gun: Maverick" representa uma grande vitória pessoal para o astro, depois de todos os problemas enfrentados por ele nos últimos anos. Um verdadeiro presente para Kilmer, que pôde reencontrar-se com seu amado ofício, e para os fãs do piloto Tom "Iceman" Kazansky, que têm a chance de assistir a uma nova história do personagem nas telonas.
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