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Vitória de Camille Vasquez: como a advogada de Johnny Depp virou o jogo

Camille Vasquez e Johnny Depp durante o julgamento - KEVIN LAMARQUE / POOL / AFP
Camille Vasquez e Johnny Depp durante o julgamento Imagem: KEVIN LAMARQUE / POOL / AFP

De Splash, em São Paulo

01/06/2022 17h23Atualizada em 02/06/2022 13h22

Chegou ao fim o julgamento entre Johnny Depp e Amber Heard. O ator, estrela de "Piratas do Caribe", venceu e Amber foi condenada a pagar US$ 15 milhões (R$ 72 milhões) por difamação após ter escrito um artigo no jornal The Washington Post, em 2018. O resultado é uma vitória da principal advogada do time de defesa de Depp: Camille Vasquez.

A defesa do ator envolveu 9 advogados, mas quem ganhou uma legião de fãs nas redes sociais nas últimas semanas foi ela, que chamou a atenção por interrogar Amber Heard de forma incisiva — e, por vezes, agressiva.

Segundo o site "The Tab", Camille Vasquez se formou em Direito em 2010, e este é seu primeiro caso envolvendo celebridades. Ela é especialista em representar a parte acusadora em processos de difamação.

"Johnny Depp está vencendo nas redes sociais, então sua advogada também está", já anunciava Juda Engelmayer, especialista em gerenciamento de crises, em entrevista ao jornal "The Daily Beast", antes do veredito.

Engelmayer foi a porta-voz de Harvey Weinstein durante os julgamentos por assédio sexual. "Historicamente, mulheres que defendem homens acusados de crimes sexuais enfrentam ódio nas redes sociais. Mas Camille Vasquez parece ter se beneficiado da aclamação a Johnny Depp", explicou. "No fim das contas, tem a ver com amabilidade. As pessoas sempre querem amar Johnny Depp. Ele está aí há 35 anos. Se ele apoia alguém, essas pessoas também querem apoiar".

No Twitter, Camille foi exaltada em memes feitos pelos fãs de Johnny Depp. No TikTok, vídeos envolvendo seu nome já têm mais de 500 milhões de visualizações.

Durante seu interrogatório, Vasquez acusou Heard de inventar acusações de violência sexual, de ter "ciúmes" do ex-marido e de editar as fotos que mostram seu rosto após agressões para deixar os hematomas mais aparentes.

A tese que construiu com sucesso foi a de que Depp foi a vítima de agressão de Heard. A defesa trabalhou para minar a credibilidade da atriz.

Para isso, apontaram que ela não fez a doação prometida à União Americana das Liberdades Civis dos US$ 7 milhões que Depp deu a Heard pelo acordo de separação, o que indicaria que ela não cumpre com suas palavras.

Também enfatizaram que não havia registros médicos sobre os supostos abusos contra ela e chamaram ex-companheiras do ator para reforçar que ele não é um marido ou namorado agressivo.

Depois, uma psicóloga contratada por Depp afirmou que a atriz teria transtorno de personalidade, impulsionado por um medo de abandono. A acusação apresentou áudios dela implorando para que o ator não a deixasse.

Outro ponto importante foi a apresentação, por parte de Depp, de um áudio em que Heard o desafia a falar para o mundo que é vítima de violência doméstica. "Diga ao mundo, Johnny", disse. "Diga a eles que eu, Johnny Depp —um homem— também sou vítima de violência doméstica."

Depp disse no seu depoimento que respondeu: "Sim, eu sou". "Ele sofreu persistente violência verbal, física e emocional de Heard", disse a Vasquez.

Também foi mostrado um trecho do diário da atriz, em que ela escreve "Desculpe, eu posso perder a cabeça. Sinto muito por ter te machucado", referindo-se a alguma briga com Depp.

O ator citou uma vez em que a ex arremessou uma garrafa de vodca contra ele. Segundo contou, ele teria ficado em choque e usado o sangue da ferida para escrever mensagens para Heard na parede.

O ponto mais polêmico foi quando Camille Vasquez apresentou fotos de Heard tiradas 24 horas depois que Depp a teria espancado. Na versão da atriz, a violência deixou hematomas, cortes e um nariz inchado, possivelmente quebrado, mas nas fotos apresentadas no julgamento ela não parecia machucada.

Vasquez sugeriu que Heard havia manipulado a foto, mas Heard negou: "Isso está errado. Eu não as retoquei". Um especialista em metadados analisou as fotos e disse que elas passaram por um programa de edição.

amber rosto - Michael REYNOLDS/POOL/AFP - Michael REYNOLDS/POOL/AFP
Perito depõe e sugere que fotos do rosto de Amber Heard machucado foram editadas
Imagem: Michael REYNOLDS/POOL/AFP

Outro ponto negativo para Heard foi o depoimento de um executivo do TMZ, um dos sites de celebridades mais respeitados do mundo, que disse que a própria atriz teria enviado um vídeo de Johnny Depp batendo nos armários da cozinha. O site verificou o conteúdo e constatou que o vídeo estava cortado, tirando a parte final onde ela ria para a câmera.

No apresentação final, Vasquez ressaltou que era Heard a parte violenta do relacionamento. "O que a Sra. Heard testemunhou neste tribunal é a história de muitas mulheres. Mas a evidência esmagadora e o peso dessa evidência mostram que não é a história dele. Não é a história da Sra. Heard. Foi um ato de profunda crueldade, não apenas para o Sr. Depp, mas para os sobreviventes reais de abuso doméstico. A Sra. Heard se apresentar como uma figura pública representando abuso doméstico. Era falso, difamatório e causou danos irreparáveis", falou.

Tudo isso levou o júri a decidir unanimemente que as acusações da atriz na publicação do Washington Post eram maliciosas. Ela não cita o ator no texto, mas os relatos foram rapidamente associados a ele. Na ocasião, a atriz de "Aquaman" escreveu que era vítima de violência doméstica.

Ele pedia US$ 50 milhões, mas o veredito estabeleceu US$ 10 milhões (R$ 48 milhões) por "danos compensatórios" e US$ 5 milhões (R$ 24 milhões) em "danos punitivos".

Condenada, Heard terá que desembolsar o alto valor, enquanto o ator tende a reconquistar sua reputação na indústria do cinema.

A atriz já relatou que se sentiu humilhada e enfrentou centenas de ameaças de morte diárias depois de testemunhar no julgamento.

Há ainda um efeito maior. A socióloga americana Nicole Bedera teme que o caso dificulte a vida das vítimas de violência sexual. Independentemente do veredito, as campanhas de amor e ódio geradas pelo caso inibem, a partir de agora, a manifestação das vítimas.

A maior empatia com os homens acusados é chamado pela filósofa Kate Manne de fenômeno 'himpathy', ou seja, a empatia exagerada que se dedica aos homens, lembra Bedera. Isso agora ganha outras proporções e afeta outras mulheres.

Na plataforma TikTok, a hashtag #IStandWithAmberHeard ("fique do lado de Amber Heard") foi clicada 8,6 milhões de vezes, enquanto #JusticeForJohnnyDepp ("justiça para JohnnyDepp") conseguiu cerca de 15,7 bilhões. (Com agências internacionais e BBC)