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MP investiga 24 cidades de Mato Grosso por shows com dinheiro público

De Splash, em São Paulo

02/06/2022 10h04

O MPMT (Ministério Público do Estado de Mato Grosso) determinou a apuração da contratação de artistas por 24 prefeituras do estado com recursos públicos.

Os contratados são cantores de música sertaneja e de outros gêneros musicais, que se apresentaram em eventos comemorativos como o aniversário da cidade e feriados municipais.

A investigação foi solicitada após a repercussão dos comentários feito pelo sertanejo Zé Neto, dupla de Cristiano, durante um show na cidade de Sorriso (MT). Ele criticou a tatuagem da cantora Anitta e a Lei Rouanet, afirmando não depender da lei. O cantor, no entanto, assim como outros artistas, já recebeu verba pública como pagamento de suas apresentações.

O procurador-geral de Justiça de Mato Grosso, José Antônio Borges Pereira, anexou no despacho matérias da imprensa noticiando a realização dos shows e os valores pagos pelas prefeituras.

"Circulam em veículos de imprensa nacional e local notícias sobre atrações artísticas musicais contratadas para eventos em municípios mato-grossenses, segundo indicam, custeados com recursos públicos".

Os municípios que teriam custeado a realização de eventos com verbas públicas são Gaúcha do Norte, Porto Alegre do Norte, Figueirópolis D'Oeste, Sorriso, Nortelândia, Salto do Céu, Alto Taquari, Novo São Joaquim, Nova Mutum, Sapezal, Canarana, Acorizal, Brasnorte, Água Boa, São José do Xingu, Vera, Barra do Garças, Juína, Querência, Bom Jesus do Araguaia, Santa Carmem, Matupá, Nova Canaã do Norte e Novo Horizonte do Norte.

No caso do município de Sorriso, que também teria patrocinado eventos musicais, o encaminhamento foi feito à 1ª Promotoria de Justiça Cível da comarca.

Entenda

Tudo começou com uma fala de Zé Neto durante um show em Sorriso, no Mato Grosso, em 13 de maio deste ano. Para exaltar o próprio sucesso e a cidade que o recebia, o cantor lançou uma provocação sobre a Lei Rouanet e os artistas que precisam "fazer tatuagem no toba" para mostrarem se estão bem ou mal:

Estamos aqui em Sorriso, Mato Grosso, um dos estados que sustentou o Brasil durante a pandemia. Não somos artistas que não dependemos de Lei Rouanet. Nosso cachê quem paga é o povo. A gente não precisa fazer tatuagem no 'toba' para mostrar se a gente está bem ou mal. A gente simplesmente vem aqui e canta, e o Brasil inteiro canta com a gente. Zé Neto, em show

É sabido que Anitta tem uma tatuagem íntima na região do ânus — a cantora falou sobre o desenho no reality "Ilhados com Beats", e até postou um vídeo retocando a tattoo no OnlyFans.

À época, seus fãs saíram em sua defesa, e famosos como Felipe Neto e GKay também ficaram do lado da funkeira.

"'A gente não precisa fazer tatuagem no toba para mostrar que tá bem'. Diz o cara que precisa atacar a colega de profissão para ser notado. Tinha que ser minion", comentou Felipe Neto.

GKay citou a apresentação de Anitta no Coachella e afirmou: "Late mais alto, que de onde a Anitta tá ela não escuta, more".

Até o pai de Anitta opinou sobre a polêmica, dizendo que não é a primeira vez que Zé Neto tem "problemas unilaterais" com sua filha:

Esse merd* sempre teve problemas unilaterais com ela. No Festeja, deu ataque porque ela abriu um show sertanejo. Mais tarde, em uma cidade do interior, colocou o ônibus deles trancando a saída da nossa produção. Mauro Machado, pai de Anitta

Com a repercussão de sua fala, Zé Neto se pronunciou: "Não falei o nome de ninguém. Mas o engajamento está top. Mete o pau. Desculpa não responder todo mundo, é que tenho 23 shows neste mês. Então, vou descansar aqui. Beijo, pessoal", comentou o cantor, numa postagem no Instagram.

"Caixa de Pandora"

Com a repercussão, muito começou a se comentar sobre o uso de verbas públicas em shows sertanejos, até que, em 25 de maio, o MPRR (Ministério Público do Estado de Roraima) abriu investigação sobre a contratação do cantor Gusttavo Lima na cidade de São Luiz (RR), com cachê fixado em R$ 800 mil, como foi reportado por Splash.

A população do município é estimada em 8.232 pessoas segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Dividindo o cachê acordado pelo número de moradores de São Luiz, cada cidadão estaria pagando cerca de R$ 97 pelo show.

A Prefeitura de Conceição do Mato Dentro (MG) também anunciou que o show de Gusttavo Lima, previsto para o dia 20 de junho, com um cachê de R$ 1,2 milhão, foi cancelado. Também foi adiada a apresentação da dupla Bruno e Marrone, marcada para a mesma data.

Um outro show do cantor, dessa vez na cidade de Magé (RJ) também virou alvo de investigação pelo MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro).

Segundo o colunista de Splash Fefito, a fala de Zé Neto abriu uma "Caixa de Pandora": "De tanto falar da Lei Rouanet, agora revelou-se que boa parte dos shows realizados pelo Brasil teriam sido pagos com dinheiro público, muitas vezes sem licitação". O jornalista ainda reportou que o cantor tem lidado com uma crise nos bastidores, com os colegas irritados com ele.