Carisma, júri popular e mobilização online ajudaram Depp a 'vencer' Amber
O resultado da longa e milionária batalha judicial entre Johnny Depp e Amber Heard, que chegou ao fim nesta semana, começou a ser desenhado muito antes do veredito, e não só dentro, mas também fora dos tribunais. Foram sete semanas de julgamento, que terminou com a vitória do ator: Amber foi condenada a lhe pagar US$ 8,35 milhões (R$ 40,2 milhões) por difamação. E, como em todo roteiro hollywoodiano, não faltaram contornos dramáticos que ajudam a explicar a vitória de Depp, que manteve a opinião pública do seu lado.
Assinado em 2015, o casamento durou 15 meses, e desde então, há seis anos, a vida privada da dupla aparece na imprensa do mundo inteiro em forma de troca de acusações e ofensas, enquanto seus feitos no cinema se tornaram apenas coadjuvantes. Porém, antes das respostas unânimes do júri salvarem o astro de "Piratas do Caribe", Depp já havia sido consagrado pelo público como o vencedor midiático do caso, que despertou a atenção de todo o mundo.
Carisma de milhões
Na grande parte das vezes em que teve a oportunidade de falar ao longo dos quase 50 dias de julgamento, Johnny Depp apresentou habilidade de articular suas ideias, mostrando suas visões e objetivos com clareza, assim como toda sua equipe.
O ator foi carismático, chegando até a cair na risada no tribunal, como na vez que seu pênis foi o assunto durante o testemunho de Malcolm Connolly, seu ex-guarda-costas.
Ele foi questionado se era verdade que Depp estava urinando no saguão da casa do casal na Austrália ao longo de uma discussão em 2015, ano do casamento. Foi quando o advogado de Amber quis saber se o então guarda-costas tinha visto o órgão genital do ator.
A pergunta chocou o tribunal, que caiu na gargalhada, com Depp engrossando o coro, quando Connolly respondeu: "Acho que me lembraria se tivesse visto o pênis do Sr. Depp".
No final de semana que antecedeu a sentença, Johnny Depp fez uma performance surpresa durante o show do roqueiro Jeff Beck, na Inglaterra. O ex-marido de Amber Heard foi ovacionado pelo púbico presente.
Presença dos fãs
Com uma quantidade restrita de espectadores na audiência, milhares de fãs ocuparam a frente do Tribunal do Condado de Fairfax, na Virgínia (EUA), para acompanhar o mais perto possível todo o desenrolar da história. Segundo a People, muitos desses fãs dormiam na porta do tribunal. O que eles não esperavam, era que no décimo nono dia de audiência Depp levaria café da manhã para eles.
"Acabei de fazer o café da manhã para todos eles", afirmou o ator ainda do lado de fora do tribunal. "Waffles", respondeu ao ser perguntado o que foi preparado.
Enquanto acenava para os fãs na ocasião, o público vaiava a entrada da equipe de Amber. Os dois envolvidos foram proibidos pela juíza responsável pelo caso de darem autógrafos para os fãs na porta do tribunal.
Nas redes sociais, os fãs não pararam de demonstrar apoio ao astro. No TikTok, vídeos relacionados ao termo "Justice for Johnny Depp" acumularam mais de 20 bilhões de visualizações. Os relacionados a "Justice for Amber Heard" não chegaram a 80 milhões.
Após a sentença, o ator ganhou mais de 5 milhões de seguidores. A expressividade de seus fãs também pôde ser comprovada em uma publicação feita horas após o término do julgamento. Em seu perfil do Instagram, Depp agradeceu o apoio e afirmou que seis anos atrás — quando os dois se separaram —, sua vida havia sido roubada, mas que agora o júri a devolveu.
Seis anos depois, o júri me devolveu minha vida. Depp
Com mais de 23 milhões de seguidores, a publicação teve mais de 18 milhões de curtidas.
Advogada protagonista
As atenções não estiveram voltadas só a Depp e Amber durante todo o processo. Ambos envolveram personagens internos e externos que roubaram a cena muitas das vezes. Os de Depp, em sua maioria, conquistaram o público, como Camille Vasquez, sua advogada.
Ela ganhou uma legião de fãs nas redes sociais após interrogar Amber Heard de forma incisiva e, por vezes, agressiva. No Twitter, ela foi exaltada. No TikTok, vídeos envolvendo seu nome já somam mais de 500 milhões de visualizações.
Segundo o site The Tab, Camille Vasquez se formou em Direito em 2010, e este é seu primeiro caso envolvendo celebridades. Ela é especialista em representar a parte acusadora em processos de difamação.
Apoio online e testemunho de estrelas
A modelo Kate Moss, que namorou Depp entre 1994 e 1998, depôs a favor do ex e negou a alegação de Amber de que ele a teria empurrado de uma escada. Eles se tornaram o 'casal sensação de Hollywood' no período em que estiveram juntos.
Enquanto testemunhas estavam no tribunal, ele não parava de receber apoio público de famosos, como a modelo Ireland Baldwin, e as atrizes Penélope Cruz e Winona Ryder, sua ex-namorada. Depp também foi defendido pela cantora Courtney Love: ela disse que o ator salvou sua vida após uma overdose, em 1995, do lado de fora da discoteca The Viper Room, na Califórnia.
A atriz francesa Eva Green, que atuou com o ator em "Sombras da Noite" (2012), compartilhou uma foto dos dois em um tapete vermelho. "Não tenho dúvidas de que Johnny emergirá com seu bom nome e coração maravilhoso revelado para o mundo, e a vida será melhor do que nunca para ele e sua família.
Transmissão ao vivo: quase um reality
Depois de quase dois meses no tribunal do condado de Fairfax, o público continuou fiel acompanhando os desdobramentos do caso. As sessões, transmitidas em maior parte pelo canal Law&Crime Network, reuniram milhares de espectadores para acompanhar o 'reality show hollywoodiano'. E o carisma de Depp, como dito anteriormente, foi acompanhado por todos eles.
"Quase uma partida esportiva", resumiu Hadley Freeman, jornalista que cobriu os dois processos, no Reino Unido e nos Estados Unidos, para o jornal The Guardian, em entrevista à BBC.
A transmissão bateu recorde no YouTube e superou a live de Marília Mendonça de abril de 2020: 3,5 milhões de pessoas acompanharam a decisão do caso, enquanto a apresentação da sertaneja foi visto simultaneamente por 3,3 milhões de pessoas. Na época, o feito de Marília foi noticiado pelo The New York Times. Enquanto a live da cantora sertaneja teve mais de três horas, a transmissão do veredito durou apenas dez minutos.
A voz do povo na voz do júri
Por decisão unânime, o júri decidiu que Amber tratar Depp como 'abusador sexual' no artigo publicado por ela no jornal Washington Post, mesmo sem que o nome dele fosse citado, era malicioso e difamatório.
As sete pessoas que formaram o júri foram instruídas, ao longo de todo o período, a não ler sobre o caso na mídia. Porém, elas não ficaram isoladas: retornaram para suas casas ao término das sessões, com acesso a celulares e à internet. Além disso, houve pausa de dez dias durante os trabalhos.
Diferentemente do julgamento encerrado nesta semana, a batalha judicial perdida por Depp contra o tabloide The Sun, após exposição em um artigo de 2018, em que ele foi chamado de "espancador de mulher", não se tornou uma grande atração midiática.
E aí é que mora uma grande diferença, na avaliação de especialistas, como Mark Stephens, advogado internacional do setor de mídia, que disse à rede britânica BBC ser "muito raro" que as cortes dos Estados Unidos e do Reino Unido tomem decisões completamente diferentes em um mesmo caso.
Stephens avalia que a grande diferença entre os julgamentos sobre caso Depp x Amber nos dois países é que na justiça britânica ele foi julgado perante um juiz, enquanto nos EUA o caso foi para um júri popular.
Desta vez, a disparidade no apoio aos envolvidos mostrou que, desde o início do processo, os internautas estavam em pleno apoio a Depp e desconfiados de Amber. O que fez a equipe da atriz afirmar que a interferência das redes foi decisiva para a sentença. Não é possível afirmar, no entanto, que o barulho feito nas redes sociais foi decisivo e tenha interferido na decisão do júri.
Para alguém como Depp, provou-se ser bastante diferente ser julgado por apenas um juiz, distante dos olhos do público e dos seus fãs. Outra é ser protagonista de um espetáculo midiático em que a sua principal missão era convencer uma audiência formada por pessoas comuns, algo corriqueiro na sua carreira de estrela do cinema.
Os erros de Amber Heard
O julgamento dos processos de Johnny Depp contra Amber Heard e da atriz contra o ex-marido se viu no dilema de ter a palavra de um contra o outro, embora existissem elementos de cá e de lá na tentativa de provar o que estava sendo dito no tribunal. Fato é que, ao final dos quase dois meses, o júri não acreditou em Amber.
"Ela foi pega em inconsistências demais, fazendo ser difícil saber de que partes acreditar e de que partes duvidar. Mesmo que tivesse alguma verdade nos posicionamentos dela, o próprio depoimento dela e a voz dela documentada em gravações de áudio machucou mais do que qualquer outra coisa nesse julgamento", avaliou Mitra Ahouraian, advogada de entretenimento que atua em Beverly Hills, ao jornal New York Post.
"O fato de ela ter saído do exame cruzado dos fatos derrotada em essência, com praticamente credibilidade nenhuma, esse é o divisor do caso para mim", avaliou, também ao NY Post, o ex-juiz da Califórnia Halim Dhanidina. "Ela não conseguiu atravessar o julgamento com a sua credibilidade intacta", completou Dhanidina.
Enquanto a popularidade de Depp se mantinha com um elenco de protagonistas a seu favor, Amber contou com alguns coadjuvantes e figurantes.
Conforme anunciado pelo Daily Mail, o time de advogados de defesa de Amber Heard listou Elon Musk e James Franco como possíveis testemunhas para ajudar no caso, dizendo que eles poderiam fazer suas participações via link ao vivo. Porém, segundo fontes, nenhum dos dois participaria para testemunhar a favor da atriz. Os representantes de Musk e Franco não deram as razões pelas quais eles não se envolveriam.
Amber e Elon tiveram um breve relacionamento logo após a separação da atriz, de maio a agosto de 2016. O nome do bilionário foi citado algumas vezes na Corte, com testemunhas afirmando que a atriz nunca gostou do empresário. Já James Franco seria um dos amigos próximos de Amber e ouviu desabafos dela sobre sue relacionamento com Johnny. Alguns dizem que Franco e Amber tiveram um envolvimento romântico, mas não foi confirmado.
Além deles, dois nomes ficaram conhecidos pelo grande público, o Benjamin Rottenborn e Elaine Bredehoft. Ambos foram duramente criticados. Segundo o podcast Innocent Til Tipsy, Bredehoft não foi eficiente na hora formular boas perguntas e seus questionamentos eram alvos de objeções, o que prejudicou, na visão do veículo, a defesa de sua cliente.
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