Topo

Glória Pires reage a veto de Bolsonaro à homenagem de Nise da Silveira

Atriz Glória Pires interpretou Nise em cinebiografia da psiquiatra "Nise - O Coração da Loucura" - Divulgação
Atriz Glória Pires interpretou Nise em cinebiografia da psiquiatra 'Nise - O Coração da Loucura' Imagem: Divulgação

Colaboração para Splash, em Maceió

07/06/2022 08h40

A atriz Glória Pires, responsável por interpretar a psiquiatra Nise da Silveira no filme "Nise - O Coração da Loucura", reagiu ao veto do presidente Jair Bolsonaro (PL), que barrou uma homenagem à médica alagoana no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, e disse que a "grandeza e a inteligência" de Nise "desafiam o momento de ignorância que temos vivido".

Em entrevista à Veja, Pires enalteceu o legado deixado pela psiquiatra e ressaltou que a contribuição da médica para a área de saúde mental prevalece independentemente de está registrado "no livro ou não".

"Isso é muito pouco perto de tudo o que ela fez. O livro é que perde de não ter a Nise, e não o contrário", afirmou.

"A Nise viveu para o trabalho dela, com um nível de empatia imenso. Foi uma mulher de uma grandeza e inteligência que desafiam o momento de ignorância que temos vivido", completou.

No mês passado, Jair Bolsonaro vetou uma homenagem aprovada pelo Congresso Nacional à psiquiatra Nise da Silva, médica reconhecida mundialmente pela abordagem humanizada às pessoas com transtornos mentais. Ela teria o nome inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

Para Bolsonaro, não é possível avaliar o impacto do trabalho de Nise no desenvolvimento da nação. Ele escreveu ainda que "prioriza-se que personalidades da história do país sejam homenageadas em âmbito nacional, desde que a homenagem não seja inspirada por ideais dissonantes das projeções do Estado Democrático".

Nise foi integrante do Partido Comunista Brasileiro e ficou presa por 18 meses por ter livros marxistas nos anos 1930.

O legado dela, porém, se expande muito além de sua atuação política. Expoente da luta antimanicomial, Nise é pioneira da terapia ocupacional e ajudou a mudar os rumos dos tratamentos psiquiátricos no Brasil, ao se rebelar contra os métodos agressivos aplicados em pacientes com transtornos mentais, como eletrochoque, camisa de força e confinamento.

O trabalho de Nise é tema de diversas teses, livros e documentários. Em 2016, a médica foi interpretada por Glória Pires em "Nise - O Coração da Loucura", longa-metragem que ganhou o prêmio da audiência de Melhor Filme no Festival de Cinema do Rio.

Nise morreu em 1999, aos 94 anos, de insuficiência respiratória.

A inscrição do nome dela no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria foi proposta pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) em 2017. Na justificativa, ela relembra a trajetória da médica, e diz que a homenagem é "mais que justificada". Em abril deste ano, a matéria foi aprovada pelo Senado e enviada à sanção presidencial, mas sofreu veto de Bolsonaro.