É de Casa, Mais Você: programas da Globo que já exibiram atitudes racistas
Desde o último sábado (11), a exibição do programa "É de Casa", da TV Globo, levantou discussão na internet sobre racismo após uma atitude da apresentadora Talitha Morete. Ela conheceu Silene, mulher negra vendedora de cocadas, em um salão de beleza e a convidou ao programa para ensinar a receita do doce. Porém, Talitha pediu para a mesma Silene, convidada, distribuir as cocadas.
Esta não foi a primeira vez (e provavelmente não será a última) que pessoas brancas — e não brancas também — reproduziram alguma forma de racismo na TV aberta, em especial na Globo, emissora de maior alcance no País onde tudo repercute com facilidade positiva ou negativamente.
Splash reuniu outras vezes em que personalidades ou participantes de reality show acabaram tendo atitudes que foram consideradas racistas na tela dos programas globais.
É de Casa
O caso do programa matinal dos sábados repercutiu negativamente também pela naturalidade em que foi tratada a fala de Talitha. Como lembra Aline Ramos, colunista de Splash, a normalidade na forma como Talitha fala com Silene incomoda bastante, assim como o fato de só o apresentador negro ter notado a gravidade da situação.
"Silene, a dona da cocada, vai fazer as honras da casa, vai servir todo mundo, Silene", disse Talitha ao pegar uma porção do doce e entregar nas mãos de Silene, que estava sentada. Ao ver a situação, Manoel Soares, apresentador do programa que também é negro, se levantou, retirou as cocadas da mão da convidada e disse: "Você vai me orientar para quem eu vou servir, porque você não vai servir ninguém.
A apresentadora pediu desculpas pela atitude após três dias desde o programa ao vivo. "Errei e não há nada a ser dito para justificar ou minimizar esse erro, a não ser me desculpar", escreveu em post do Instagram.
Marcelo Soares comentou na publicação da colega e ressaltou que "o mais importante é Dona Silene estar bem diante de toda essa repercussão". "Meu desejo é que o resultado desse episódio seja pedagógico e construtivo não só para você, mas para o Brasil. Você é minha amiga e vamos estar juntos nas telas da vida buscando sempre nossa evolução diária como pessoas e comunicadores. Beijo no coração", finalizou.
Jornal Sensacionalista (Multishow)
Em fevereiro deste ano o Grupo Globo foi multado em R$ 88 mil por racismo, devido a um episódio do humorístico "Sensacionalista", do Multishow, exibido em 2013. A Justiça de São Paulo havia recebido denúncia por discriminação racial motivada por um episódio do programa que relacionou um cachorro à religião de matroz africana candomblé.
O episódio em questão foi exibido duas vezes, nos dias 26 e 28 de outubro de 2013. O animal, com vestimentas brancas, era tratado pela sua tutora e pela comunidade local como um animal especial, já que ele "recebe entidades","prevê o futuro" e "joga búzios". O cachorro foi denominado "cãodomblé".
BBB 22
Possibilitando debates acerca de diversos temas nas últimas edições, o "Big Brother Brasil" não foge da possibilidade de reproduzir atitudes e ações consideradas racistas. Neste ano, ao ter as participantes Laís, Eslovênia e Bárbara fazendo suposta imitação de macaco em referência a Natália, participante negra, a TV Globo chegou a exibir o momento na edição de um dos domingos do programa. As cenas haviam ganhado muita repercussão na web.
Quando foi eliminada do reality, Bárbara pode ver o momento no "Bate-Papo BBB" (Globoplay) que havia sido levada para a casa pelos então participantes da Casa de Vidro, Larissa e Gustavo e chorou, negando suposto caso de racismo. "Eu fiquei chocada quando ele [Gustavo] me trouxe essa informação. Fiquei apavorada, fico nervosa até agora. Se tem uma coisa que eu não sou é cruel, racista ou preconceituosa. Pensar que [as pessoas] pensaram isso de mim me deixa muito chateada e assustada", afirmou a modelo na ocasião.
Mais Você 2021: racismo contra asiáticos
Há um ano, em um programa de junho de 2021, Ana Maria Braga foi acusada de xenofobia e racismo em homenagem a asiáticos. A apresentadora chegou a imitar o que seria "sotaque de asiáticos" durante um quadro do "Mais Você", na véspera do Dia da Imigração Japonesa.
A ex-atriz de Malhação e primeira protagonista asiática de uma novela, Ana Hikari, se posicionou sobre o caso e pediu para avisarem ela caso Ana Maria se retratasse. "Não dá para aceitar 'homenagens' assim. Isso tem outro nome, vocês sabem qual é", falou.
BBB 21
Na caótica edição do BBB em 2021, o participante Rodolffo fez um comentário em que comparou o cabelo de João Luiz a peruca do desafio do monstro de "homem das cavernas". Personalidades como Babu Santana e Fátima Bernardes comentaram a respeito, também após o próprio Rodolffo falar que não teve a intenção de magoar o colega, e que não é bem informado sobre racismo.
Mais Você 2021: 'racismo reverso'
Quando a participante do BBB 21 Lumena Aleluia se referiu no reality em relação à branquitude de Carla Diaz, outra participante na ocasião, a apresentadora do Mais Você utilizou a falsa e inexistente ideia de "racismo reverso" para criticar Lumena, que viria a ser eliminada posteriormente na primeira semana de março.
"Não entendi esse negócio de branquitude. A gente tem culpa disso? Está acontecendo aí um reverso. Você tem que votar em alguém, não importa a cor. É um jogo, é feio isso", criticou a apresentadora. No dia seguinte ela pediu desculpas pela fala, assumiu que "racismo reverso" não existe e que errou.
Mais Você 2020: analogia com ovos
Na semana posterior ao Dia da Consciência Negra em novembro de 2020, Ana Maria Braga decidiu explicar como o racismo é uma prática inconcebível e sem sentido usando uma analogia com ovos. Ela pegou uma imagem da internet da internet que colocava três ovos (um de casca marrom escuro, marrom mais claro e um branco) lado a lado e embaixo os três ovos quebrados com as gemas unidas e homogêneas.
Ana já vinha de dias recebendo muitas críticas na internet após no próprio Dia da Consciência Negra (20 de novembro), ela usar a frase sobre uma "consciência humana" — ligada à ideia falsa de democracia racial no Brasil — justamente no dia de reflexões sobre a situação racial. A apresentadora não comentou sobre o assunto depois.
BBB 20
A edição de 2020 foi marcada pela participante Ivy pelas inúmeras indicações que ela fez de Babu ao paredão, mesmo com muitas opções de voto. Fora da casa, muita gente apontou racismo nas atitudes dela, mas a mesma disse que foi má interpretada após ser eliminada. Ela chegou a ter seu cancelamento pedido na web após falar mal do ator e defender Daniel. Também implicou no dia em que ele não estava cozinhando como de costume para a casa. "Quando vai para o paredão faz greve de cozinhar?", questionou.
A família chegou a defendê-la do lado de fora do confinamento de ter sido gordofóbica ao dizer que Babu é "muito gordo" e criticado seu ronco. Os parentes disseram ter sido um "mal-entendido". Os internautas perderam a paciência novamente quando ela e Marcela afirmaram ter "medo" de Babu. Até o pente garfo do ator foi assunto, quando Ivy questionou "quem usaria um trem desse", fazendo até com que sua expulsão fosse pedida nas redes.
A modelo não percebia suas atitudes e chegou a dizer para Flayslane que "ser preto não é malefício nenhum. Quanto mais morena eu fico mais eu gosto. Eu gosto é muito" e que "a Marcela falou que tem muito que tá na sociedade esse trem de racismo mesmo".
Bom Dia SP
Em fevereiro de 2020 uma fala do apresentador do "Bom Dia São Paulo", Rodrigo Bocardi, repercutiu negativamente nas redes sociais. Pessoas no Twitter encararam a interação dele com um jovem negro sendo racista e preconceituosa ao confundir atleta com gandula ao ver que o jovem usava uma camiseta do Clube Pinheiros, um dos mais tradicionais da capital paulista.
"Estou lendo as mensagens, hoje tudo vira motivo de grande discussão. A galera falando aqui do rapaz do clube Pinheiros. Eu só perguntei aquilo porque frequento todos os dias e jogo bola com todos aqueles garotos que usam aquela camiseta, por isso, achei que era. Não existe preconceito, não existe racismo. Quem escreve e que fala é que é. Eu fui pela camiseta dele na maior inocência", defendeu-se ainda no telejornal.
Jornal da Globo
Em novembro de 2017 um vídeo vazado, de um ano antes, mostrou uma conversa informal entre William Waack e o jornalista Paulo Sotero, se preparando para entrarem ao vivo no "Jornal da Globo" na cobertura da eleição dos Estados Unidos.
Os microfones estão sendo ajeitados quando no fundo é possível escutar um barulho de uma buzina forte e insistente. Na gravação é possível ouvir Waack dizer: "Está buzinando por quê, oh seu merda do cacete? Deve ser um, com certeza, não vou nem falar, porque sei quem, eu sei quem é, você sabe quem é, né?", pergunta ele, respondendo em seguida quase inaudível, "É preto".
A gravação levou Waack a receber acusações de racismo pela fala considerada racista e, consequentemente, a um afastamento temporário que culminou em demissão do mesmo em dezembro de 2017 após contrato rescindido com a TV Globo.
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