Sem Mionzera: como Marcos Mion evitou críticas por dublagem em 'Lightyear'
Desde que foi contratado pela Globo e passou a apresentar o "Caldeirão", dominando as tardes de sábado da TV aberta, parece que ir "ao infinito e além" tornou-se o destino de Marcos Mion. Ao virar a voz oficial do patrulheiro do espaço Buzz em "Lightyear", então, o ator e apresentador atinge um patamar quase profético.
No filme, Mion interpreta a versão "real" de Buzz, ou seja, o personagem que deu origem ao boneco. Na história, ele é um astronauta que faz jus ao próprio nome ao montar um acampamento em um planeta hostil a 4,2 milhões de anos-luz da Terra, e precisa usar todo o seu talento para superar obstáculos e encontrar o caminho de volta para casa.
Dentro do universo ficcional de "Toy Story", o filme existe de verdade, e é o favorito de Andy. É por isso que o garoto queria ganhar o boneco, como aconteceu no filme de 1995. Para o diretor Angus MacLane, é como se "Lightyear" fosse "o Star Wars de Andy".
Justamente por isso, a responsabilidade de Mion era redobrada.
"A preparação vem obviamente da minha vida inteira, de assistir a toda a saga 'Toy Story' e conhecer os personagens", relata Mion, em entrevista a Splash.
"Mas é um trabalho de confiança para encarar. É uma responsabilidade muito grande, que exige de mim trazer à tona décadas de trabalho como ator, pesquisando os sentimentos humanos e trabalhando em palco contando histórias."
Para ele, há algo que transforma o trabalho com Buzz em um desafio particularmente grandioso.
"É uma das maiores responsabilidades que eu já tive, porque mexe com o imaginário e com a vida de todo mundo. Todo mundo já foi impactado por 'Toy Story' em algum momento. Então, a preparação é uma vida toda para ter coragem de aceitar um convite como esse."
Passagem de bastão
Quando o filme foi anunciado, parte do público sentiu dificuldades para entender qual era a conexão entre a história e o que já conhecemos de "Toy Story". A mudança da voz foi essencial para que a audiência realmente percebesse que o personagem, aqui, não é o boneco.
No Brasil, a voz do boneco Buzz Lightyear sempre foi de Guilherme Briggs, e sua contraparte nos Estados Unidos é o comediante Tim Allen. Para o novo filme, foram escolhidos talentos estelares: a voz estadunidense do astronauta é a de Chris Evans, o próprio Capitão América da Marvel.
"O próprio texto já iria demandar uma personalidade diferente", reflete Mion, sobre ter sido o escolhido. "Mas eu estive com o Briggs e ele foi incrível comigo, me deu força desde o início. O Guilherme é um cara que tem uma experiência gigantesca. Todo ser humano inteligente vai atrás de quem já passou por aquilo para pegar dicas, vai se cercando de quem tem mais experiências para aprender", continua, ao tecer elogios à postura do dublador também ao ajudar os fãs a compreenderem o que era o novo projeto.
"Desde o primeiro momento ele foi muito querido, não só comigo mas também com o público dele, nas redes dele. Foi muito importante para mim vê-lo abraçando essa transição para um novo personagem. Porque não é uma mudança, e é bom deixar isso claro."
Mionzeras e Mionzices
Ciente de possíveis críticas justamente por ter uma voz e uma postura marcantes, Mion (que já emprestou sua voz ao personagem Fred em "Operação Big Hero", de 2014) conta que foi categórico ao não inserir referências próprias na voz de Buzz.
"Não tem nada do Mion no personagem", afirma. "Não vai ter o 'Woodyzera', não vai ter o 'Buzz Lightola', nada. Não é sobre mim. É sobre o Buzz, e eu quis deixar isso muito claro desde o início. Não coloquei nenhum caco identificável a mionzeras, mionzices, nada. Mesmo quando tínhamos que colocar cacos, eu sempre jogava para o [diretor de dublagem] Thiago [Longo] e para a [gerente criativa] Vânia [Mendes] e deixava eles trazerem as sugestões."
Ele ainda pondera:
"Para mim é fácil, pois tenho um arsenal de cacos que eu poderia colocar. Mas não fiz isso em nenhum momento porque, como eu já disse, é sobre o Buzz. Não é sobre mim."
Escolhas à altura
A escolha de Mion não foi ao acaso. O próprio ator e apresentador explica: o que a Disney buscava era algo chamado "star talent" — ou seja, grandes personalidades do cinema ou da televisão que carregam o porte de "estrelas".
"Eu teria a mesma reação que os fãs hardcore tiveram se eu achasse que era o mesmo personagem", adianta. "Mas ficou muito claro desde o início da minha conversa com a Disney que era o padrão decidido pela matriz", continua, sobre a escolha de uma personalidade como ele para interpretar Buzz.
"Lá, o Chris Evans entrou no lugar do Tim Allen, e aqui no Brasil eles quiseram fazer um star talent, assim como fizeram lá", explica.
"O Brasil foi o único país além dos Estados Unidos que teve investimento para fazer esse star talent, exatamente pelo 'hardcorismo' dos fãs brasileiros, que mereceram isso", revela. "Esse tipo de coisa valoriza essa movimentação."
Primeiras vezes
Nem mesmo um profissional como Marcos Mion está isento de se emocionar e se empolgar com grandes novidades. A história, aliás, nos prova justamente o contrário, se considerarmos o quanto ele foi "gente como a gente" quando começou sua jornada na Globo.
Por isso, alguns momentos foram especiais. Dublar a icônica frase "ao infinito e além", por exemplo, foi algo que Mion fez questão de ser o encerramento de seus trabalhos.
"Eu sou um cara que gosta de saborear estes momentos, então não queria fazer isso passando como só mais um. Fizemos a dublagem seguindo a ordem cronológica [do filme], então eu comecei com o diário de bordo, que já é uma coisa muito legal. E eu quis encerrar com essa frase, porque a dublagem não acabaria ali, eu ainda precisava dublar coisas de entrevistas e materiais de imprensa. Mas eu falei: vamos fazer tudo e usar os 10 minutos finais da sessão para eu falar o último 'ao infinito e além'. É uma experiência que eu vou guardar para o resto da vida."
Além disso, compartilhar o momento com os filhos também foi algo que Mion quis que fosse marcante.
"Eles ficaram malucos quando eu contei. É o tipo de coisa que é difícil de processar, e por um momento eles entenderam, mas ficaram com um pouco de dúvida. Aí, quando saiu o primeiro trailer, eu coloquei no telão aqui em casa, todo mundo se sentou e a gente assistiu junto. Então eles ficaram [boquiabertos]. São esses momentos que tornam esse trabalho uma coisa especial."
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